O grupo de medicina diagnóstica Fleury registrou lucro líquido de R$ 96,7 milhões no terceiro trimestre de 2022, um leve avanço de 0,3% na comparação com o 3T21, informou a empresa de saúde.

O número ficou acima do esperado pelo consenso Refinitiv, diante do crescimento de receitas, apesar das perdas com resultado financeiro.

A receita líquida trimestral foi de R$ 1,146 bilhão, 11,5% a mais que o terceiro trimestre de 2021. A receita bruta trimestral foi recorde em R$ 1,2342 bilhão, crescimento de 11,4% sobre o 3T21. Em medicina diagnóstica, principal atividade da empresa, as unidades de atendimento, como Fleury, a+ e outras marcas regionais, tiveram alta de 17,7% na receita bruta em um ano.

O crescimento mais do que compensou a contínua queda de participação de exames de Covid-19, que passaram a representar somente 1,5% do total da receita bruta do grupo (ante 17,3% no segundo trimestre de 2020), bem como o recuo na receita por exame –fruto do perfil das novas empresas adquiridas– e na receita bruta de negócios B2B (venda de serviços a empresas).

O Ebitda – juros, impostos, depreciação e amortização – foi de R$ 332,4 milhões, um crescimento de 15,2% sobre o mesmo período de 2021, e margem Ebitda de 29% (+95 bps ano contra ano). Não houve efeitos não recorrentes no trimestre, resultando em um Ebitda recorrente de mesmo valor, mas com crescimento de 10,5% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, quando o Ebitda recorrente foi de R$ 300,7 milhões, e queda de 24 bps sobre a margem de 2021.

Segundo o CFO José Filippo, a estabilidade no lucro é consequência do melhor Ebitda por um lado, mas resultado financeiro de maior impacto por outro. Ele atribui o resultado financeiro mais pressionado do que em 2021 ao programa de crescimento da empresa, à dívida líquida e ao nível de juros da economia brasileira.

“Não temos guidance de lucro para o futuro, mas continuamos trabalhando com a perspectiva da manutenção do crescimento e continuamos disciplinados em relação aos custos, para manter as margens”, diz Filippo.

Para a CEO da empresa Jeane Tsutsui, a sequência de recordes no Ebitda refletem “uma disciplina muito grande da companhia com relação aos custos de despesas”.

O lucro bruto atingiu R$ 335,1 milhões com aumento de 9,3% e margem bruta de 29,2% com contração de 57 bps.

Este comportamento é explicado principalmente por:

  • Pessoal e Serviços Médicos (-86 bps): É principalmente composta por colaboradores e médicos que atuam nas unidades de atendimento e áreas técnicas. Esta variação é principalmente explicada por aumento de headcount por efeito esperado de aquisições.
  • Serviços com Ocupação e Utilidades (+76 bps): A linha é composta majoritariamente por custos fixos que tendem a ser diluídos com o crescimento da Companhia. A elevação também reflete aquisições feitas no período.
  • Material Direto e Intermediação de Exames (-8 bps): Reflete principalmente materiais relacionados à execução de exames (por exemplo, reagentes e consumíveis) e medicamentos de alta complexidade para infusões.
  • Depreciação e Amortização (-36 bps): O aumento se refere principalmente à amortização de sistemas e efeito esperado de aquisições.

Na linha de custos dos serviços prestados, o que inclui pessoal, ocupação e material, houve alta de 12,4%, a 811,6 milhões de reais, em especial pelo efeito das aquisições, enquanto as despesas gerais e administrativas ficaram praticamente estáveis como percentual da receita líquida.

O resultado financeiro negativo mais do que dobrou em um ano, para R$ 99,4 milhões, com o aumento dos juros e da dívida líquida por aquisições e investimentos.

Os atendimentos atingiram 2,1 milhões no 3T22, com crescimento de 20,4% em relação ao ano anterior. Excluindo o efeito das aquisições, estes totalizaram 1,9 milhões, com crescimento de 9,3%.

No trimestre, o volume de exames totalizou 20,8 milhões, com crescimento de 31,7% consequência de crescimento orgânico e aquisições recentes. Excluindo tais aquisições, o crescimento foi de 18,9%.

O número de exames por atendimento registrou aumento de 9,3% no trimestre, e 8,7% excluindo as aquisições

O volume de teleconsultas médicas realizadas no 3T22 totalizou 219,9 mil, um crescimento de 23,2% em relação ao 3T21, e a receita totalizou R$ 12,9 milhões no período. O Grupo iniciou a oferta de telemedicina em 2020. Desde então foram realizadas 1,6 milhão de teleconsultas médicas.

No trimestre, os investimentos totalizaram R$ 105,8 milhões, com incremento de 16,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Essa evolução é consequência principalmente de:

  • TI/Digital (-33,8%): Devido à contínua implementação de digitalização de serviços, infraestrutura de TI e renovação de licenças de software.
  • Novas Unidades, Expansão de Oferta em Unidades e Áreas Técnicas (+157,4%): Reflete a montagem da nova área técnica em São Paulo para atender a demanda futura por crescimento orgânico, ampliação e reforma de unidades, e o efeito esperado de novas aquisições.

A Dívida Líquida em setembro de 2022 foi de R$ 2,0 bilhões com redução de 3,7% em relação ao trimestre anterior.

No final do trimestre, a alavancagem era de 1,7x, contra 1,8x no 2T22, abaixo do limite de 3,0x estabelecido por instrumentos de dívida (covenants financeiros).

B2B

Em meio a resultados de expansão, a vertente B2C do Fleury apresentou resultados contracionistas no trimestre, com a receita bruta de B2B recuando 19,9% ante o mesmo período do ano passado, reflexo da queda de 11,1% no volume de exames.

Tsutsui diz que o maior foco da empresa é no B2C, “com as unidades de atendimento ao cliente com crescimento significativo de 17%”. A administração explica que a redução no B2B se deve a dois fatores: a não renovação de contratos e queda no número de testes de covid-19 em hospitais. “Tirando esses aspectos, tivemos crescimentos em linha com o B2B”, afirma a CEO.

M&As

Em relação à fusão com o Hermes Pardini, o Fleury não tem previsão para a conclusão do negócio, e aguarda posicionamento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mantendo a previsão preliminar de que a transação gere de R$ 160 milhões a R$ 190 milhões de Ebitda incremental, após implementar todas as ações de sinergias. Esse número deve ser “refinado” com a conclusão da fusão.

A administração comenta ainda sobre a possibilidade de novas aquisições no futuro, mas sem detalhar em quais regiões ou se seriam na área de diagnósticos, core da empresa, ou em setores complementares.

Política

Sobre o cenário político, Tsutsui argumenta que “normalmente, o setor de saúde é mais resiliente e sofre menos oscilações, por se tratar de uma área de necessidade”. Ela enxerga que ainda há muitas oportunidades no setor, que considera ainda muito fragmentado.

“É muito cedo pra falar de mudanças políticas porque não houve propostas nesse sentido, mas tendências de envelhecimento da população [no longo prazo] geram um aumento na demanda por saúde”, diz.

Sobre as paralisações nas estradas organizadas por caminhoneiros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que questionam o resultado das eleições, a CEO diz que o Fleury atua com estoques então não sofreu um impacto muito grande, e acredita que a empresa não será afetada dado o enfraquecimento do movimento. Mas, segundo ele, o abastecimento poderia ser impactado se os bloqueios se prolongassem.

Os resultados da Fleury (BOV:FLRY3) referentes suas operações do terceiro trimestre de 2022 foram divulgados no dia 03/11/2022. Confira o Press Release!

* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney, Estadão