A Grendene, dona das marcas Azaleia, Ipanema e Melissa, reportou lucro líquido contábil de R$ 123,1 milhões no primeiro trimestre do ano, queda de 1,9% em relação a igual período do ano passado. A margem recuou 0,5 ponto percentual, para 23,5%

O desempenho visto na última linha do balanço demonstra as premissas conservadoras da empresa diante do cenário turbulento vivido pelas varejistas no início do ano. A empresa ampliou em 12 vezes sua provisão de perdas com vendas a crédito, passando de R$ 1,1 milhão no 1T22 para R$ 13,4 milhões.

Normalizando os cálculos para um lucro líquido recorrente, o saldo é positivo: avanço de 18,1% de janeiro a março deste ano em relação ao mesmo intervalor de 2022, alcançando R$ 156 milhões. Neste índice, a margem cresceu 4,5 pontos, a 30%.

Sem citar casos específicos, o CFO da Grendene, Alceu Albuquerque, explica que a empresa preferiu adotar cautela e deixar o balanço “limpo”. “Nós somos disciplinados em vender a crédito, mas temos que nos antecipar ao momento de dificuldade das varejistas”, afirma.

Albuquerque acrescenta que, ao se observar os números operacionais, os investidores verão de maneira mais nítida que o trimestre foi positivo. “É um resultado muito bom diante das incertezas macroeconômicas que afetam o consumo em geral”, avalia.

Sob esta ótica, a receita bruta da Grendene cresceu 4,2%, para R$ 657,6 milhões. O faturamento líquido subiu 0,4%, chegando a R$ 520,1 milhões. O desempenho só não subiu mais por conta do declínio de 19,1% na receita das exportações, o que acabou compensando em parte a alta de 15,2% nas vendas internas.

A piora nas exportações da Grendene se deve ao momento do aperto monetário também fora do Brasil, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos e na União Europeia. Além disso, as vendas para países da América Latina foram afetadas por problemas de crédito para importação da Argentina e o cenário político conturbado no Peru, lembra Alceu Albuquerque.

No Brasil, o número de pares vendidos avançou 10,7%, com aumento do preço médio em 4%, o que resultou em uma receita bruta de R$ 495 milhões. Albuquerque destaca ainda que foi visto um número maior de compras pelos lojistas (sell in) do que foi vendido ao consumidor (sell out), indicando que os comércios estão começando a recompor seus estoques.

Já o custo por produto vendido (CPV) recuou 8% em um ano, fruto da queda de 10,8% no custo da resina de PVC, principal matéria-prima utilizada pelos calçados da Grendene, e de 5% nos gastos com mão-de-obra.

“E ainda vemos espaço para reduzir o CPV. Atualmente, o nosso custo médio de reposição de insumos está 4% menor do que o valor médio do nosso estoque”, afirma o CFO.

Por fim, o lucro antes de juros e imposto de renda (Ebit, em inglês) recorrente, o equivalente ao lucro operacional, chegou a R$ 74,5 milhões, com aumento de 41,6% frente ao intervalo de janeiro a março de 2022, com margem de 14,3% (alta de 4,1 pontos).

A companhia encerra o trimestre com cerca de R$ 2 bilhões em caixa, o que permitiu um retorno de R$ 101,9 milhões em aplicações financeiras no período por conta do atual patamar do CDI. O volume de caixa, no entanto, deverá ser ajustado nas próximas semanas, uma vez que a companhia irá distribuir cerca de R$ 1,1 bilhão em dividendos extraordinários na segunda quinzena deste mês.

Os resultados da Grendene (BOV:GRND3) referente suas operações do primeiro trimestre de 2023 foram divulgados no dia 11/05/2023.

* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney, Estadão, Reuters