A B3 excluirá as ações da Gol Linhas Aéreas Inteligentes S.A, negociadas sob o ticker GOLL4, de todos os seus índices, informou a operadora da Bolsa.
Na noite da última segunda-feira (29), a B3 informou que irá excluir as ações da companhia aérea de seus índices, incluindo o Ibovespa, em virtude do pedido de RJ, “bem como das demais repercussões no mercado”.
A decisão ocorre em virtude do pedido de Chapter 11 (recuperação judicial) pela companhia perante o Tribunal de Falências dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, bem como das demais repercussões no mercado, informou a operadora da Bolsa.
A Gol (BOV:GOLL4) terá seus papéis excluídos dos índices IBOV, IBRA, IBXX, ICO2, IDVR, IGCT, IGCX, ITAG, IVBX e SMLL ao seu preço de fechamento após o encerramento do pregão regular de 30 de janeiro 2024, sendo sua participação redistribuída proporcionalmente aos demais integrantes da carteira com o pertinente ajuste nos redutores.
A GOLL4 segue negociada normalmente, mas passa a ser listada na B3 sob o título de “Outras Condições” a partir do pregão do dia 30.
As ações da Gol não param de cair em meio ao pedido de Chapter 11 (recuperação judicial) da aérea no fim da semana passada. Em seu último dia no Ibovespa, os papéis GOLL4 caíam 20,61%, a R$ 3,00, às 10h18 (horário de Brasília), para depois entrarem em leilão.
O anuncio veio após as ações da companhia aérea despencarem mais de 33% na segunda-feira, a R$ 3,93, tocando mínimas desde dezembro de 2016.
A empresa recebeu na segunda a liberação pela Justiça dos EUA de empréstimo de US$ 350 milhões, a parcela inicial de um financiamento mais amplo de US$ 950 milhões no âmbito de seu processo de recuperação judicial no exterior. A Justiça americana havia aprovado o pedido de Chapter 11 na sexta-feira (26).
A Gol relatou dívidas de US$ 8,3 bilhões (aproximadamente R$ 40 bilhões). O CEO da aérea, Celso Ferrer, disse que as negociações com os cerca de 25 arrendadores de aeronaves da Gol estão avançando em diferentes estágios. O Aviation Working Group (AWG), que representa os arrendadores, está debatendo quanto tempo será o período de espera para a reintegração de posse de aeronaves. O AWG defende 30 dias, mas a lei dos EUA diz 120 dias.
“A Gol ainda precisa renegociar o leasing de aeronaves com os arrendadores durante o período de carência. O Chapter 11 da Gol pode resultar em uma diluição massiva do patrimônio para os acionistas minoritários devido à conversão de US$ 2,3 bilhões em dívidas e obrigações de leasing”, destaca o Bradesco BBI, que mantém recomendação equivalente à venda para os ativos e preço-alvo para o final de 2024 de R$ 1,00.
Na véspera, o BB-BI cortou a recomendação dos ativos também para venda e o preço-alvo para R$ 2,40 nesta segunda, vendo grande diluição para os acionistas.
Para os analistas do banco, é concreta a possibilidade de que parte da dívida seja convertida em ações. Em um cenário base onde o controlador (ABRA), que possui cerca de US$ 1,2 bilhão em títulos de dívida, realize tal conversão, estima um fator de diluição acima de 60% para os acionistas correntes, com preço-alvo reduzindo a R$ 2,40. “Por isso, acreditamos que a relação risco/retorno neste momento é desfavorável para o investidor e, para evitar destruição de valor, sugerimos a saída do papel”, aponta o BB-BI.
- Como ficam as ações?
As ações da Gol ainda devem passar por forte desvalorização pela debandada de investidores dos papéis, como já está começou a ser observado desde a semana passada, o que deve se agravar com a saída dos índices. Muitos fundos e ETFs que acompanham o Ibov, vale lembrar, deixarão automaticamente de comprar o papel.
Na sexta-feira (26), após o anúncio de pedido de recuperação judicial, os papéis caíram mais de 12% na Bolsa brasileira. Na segunda-feira, a ação derreteu mais de 33% e já é negociada a R$ 3,93, menos da metade do preço de fechamento de 2023.
Analistas já acreditavam que a liquidez das ações diminuiria com o passar do tempo, algo que tende a ser agravado com a decisão da B3 de remover GOLL4 dos índices. Com isso, os preços devem ser ainda mais pressionados e os riscos aumentados para o investidor.
- Melhor vender ou esperar?
Muitas casas já tinham recomendação de venda para as ações da Gol antes da crise, em movimento que tende a acelerar. De modo geral, a recomendação dos principais bancos é de venda das ações brasileiras (GOLL3 e GOLL4) e dos recibos (GOL) listados nos Estados Unidos. O Goldman Sachs decidiu parar de cobrir as ações da empresa, enquanto o Itaú BBA decidiu colocar a recomendação sob revisão.
Meira destaca que ações são, em geral, investimentos de longo prazo, e recomenda esperar as próximas etapas do plano ao invés de realizar o prejuízo agora. A situação da Gol não é inédita entre companhias aéreas. Em 2020, a Latam entrou com o mesmo pedido no Tribunal dos EUA. Antes dela, outras companhias foram Delta e United Airlines.
- Quais são os direitos dos minoritários?
“Como sócio da empresa, tem que arcar com os ônus e com os bônus”, diz Meira. O pedido de recuperação judicial, nos EUA ou no Brasil, não confere nenhum direito aos acionistas, sejam eles minoritários ou majoritários. Somente no caso de falência, se a empresa não conseguir reestruturar suas dívidas, haverá uma fila de prioridade para os pagamentos.
No entanto, acionistas da Gol no exterior podem ser preteridos em relação aos credores. Por conta de uma característica do processo de recuperação judicial americano chamado Absolute Priority Rule (regra de prioridade absoluta, em tradução livre), credores ganham preferência ante os investidores.
“Daqui para a frente vemos forte volatilidade para as ações da Gol. Não temos recomendação, mas uma visão estruturalmente negativa para a ação”, diz Luan Alves, analista-chefe da VG Research.
- Quais são os próximos passos para a Gol?
A empresa anunciou dia 29 de janeiro que a Justiça dos Estados Unidos, onde corre seu processo de recuperação judicial, aprovou o acesso provisório a parcela inicial de um empréstimo de US$ 950 milhões. O valor, segundo a empresa, permitirá manter as operações “normalmente”.
A aérea divulgou na segunda-feira (29) que encerrou dezembro de 2023 com endividamento de R$ 20,176 bilhões. Os ativos, não auditados, somavam R$ 16,832 bilhões e o patrimônio líquido estava negativo em R$ 23,350 bilhões.
Espera-se que a Gol apresente em seguida um plano de restruturação de dívida, com detalhes sobre pagamentos e financiamento, e cabe aos credores decidirem se aprovam ou não – é necessário aval de mais de dois terços. Se aprovado, o plano passará em seguida pela Justiça para validação, e a empresa terá um prazo para colocá-lo em prática.
“É um processo muito longo e é importante acompanhar. É muito cedo [para ter certezas] sobre a situação da Gol”, diz o sócio da Valor Investimentos.
No Brasil, um caminho provável é que a companhia peça também o reconhecimento do processo junto à lei brasileira para evitar processos judiciais dos credores locais.