A Vibra registrou lucro líquido de R$ 3,297 bilhões no quarto trimestre de 2023 (4T23), montante 482,5% superior ao reportado no mesmo intervalo de 2022, informou a distribuidora de combustíveis nesta segunda-feira (4).

A companhia explica que o resultado “tem como base um melhor desempenho operacional, melhor resultado financeiro e, ainda, recuperações tributárias ocorridas no período”.

O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado totalizou R$ 2,328 bilhões no 4T23, um crescimento de 54,5% em relação ao 4T22.

A margem Ebitda ajustada atingiu R$ 254 m³ (metros cúbicos) entre outubro e dezembro do ano passado, alta de 69,2% frente a margem registrada em 4T22.

A receita líquida ajustada somou R$ 43,846 bilhões no quarto trimestre do ano passado, queda de 3,1% na comparação com igual etapa de 2022.

O lucro bruto ajustado atingiu a cifra de R$ 2,592 bilhões no quarto trimestre de 2023, um aumento de 49,5% na comparação com igual etapa de 2022.

As despesas operacionais ajustada somaram R$ 868 milhões no 4T23, um crescimento de 60,1% em relação ao mesmo período de 2022.

O resultado financeiro líquido foi negativo em R$ 50 milhões no quarto trimestre de 2023, uma redução de 87,6% sobre as perdas financeiras da mesma etapa de 2022.

A Vibra encerra o ano de 2023 com dívida líquida de R$ 9,5 bilhões, ante a uma dívida líquida de R$ 13,7 bilhões no final de 2022, uma redução de R$ 4,2 bilhões (-30,8%) no ano. Resultado direto da forte geração de caixa no período, que viabilizou a redução de R$ 1,7 bilhão (-9,6%) na dívida bruta, aliada com um aumento de R$ 2,5 bilhões em disponibilidades (+60,8%).

O indicador de alavancagem financeira, medido pela dívida líquida/Ebitda ajustado, ficou em 1,1 vez em dezembro/23, queda de 1,6 p.p. (ponto percentual) em relação ao mesmo período de 2022.

Os resultados da Vibra Energia (BOV:VBBR3) referentes às suas operações do quarto trimestre de 2023 foram divulgados no dia 04/03/2024.

Teleconferência

O mercado de distribuição de combustível no ano passado teve forte mudança com o fluxo elevado de diesel importado da Rússia para o Brasil.

A Vibra reconheceu após os resultados de 2023 que esse diesel – junto com o americano – já faz parte estruturalmente do suprimento de combustíveis do País.

A distribuidora chegou a perder mercado com esse novo cenário – motivo para a queda das ações de mais de 5% no pós-resultado apesar do salto do lucro – e agora tenta recuperá-lo, inclusive adquirindo produto refinado importado.

Ernesto Pousada, CEO da Vibra, durante a teleconferência de resultados do 4T23 a analistas, realizada nesta terça (5), destacou que a empresa perdeu market share no diesel principalmente no segmento B2B.

No release do 4T23, a empresa observa que a média anual (2023) de share foi de 25,9%, redução de 2,4 pontos percentuais (p.p.) na comparação com a média de 2022.

“Um dos fatores foi o diesel russo. A Vibra aguardou um pouco, colocou um processo bastante robusto de compliance de atendimento a todas as normas para importação do diesel, e isso acabou afetando o nosso resultado no segundo semestre numa base relativa”, comentou.

“Agora, estamos aptos a importar diesel, inclusive da Rússia, caso essa seja a nossa estratégia. Em algum momento ele vai ser vantajoso, em outro não. Isso a companhia vai avaliar. Mas mais importante é a empresa ter competitiva”, complementou.

Restruturação para importar

Segundo o executivo, a Vibra reestruturou a área de sourcing (contato com fornecedores) para justamente ter capacidade de importação. E busca esse ano a retomado do market share que tinha no final de 2022.

“Em 2024, o desafio da companhia é a continuidade de sua rentabilidade crescente e entrega dos projetos, e recuperar o que estamos chamando de fair share (capacidade de atendimento no mercado) para o tamanho da Vibra, que nós acreditamos que não seja o patamar atingido no final do ano (passado)”, disse o CFO Augusto Ribeiro.

“Nós vamos retomar esse market share muito gradualmente. Não estamos com pressa. Entendemos o market share como algo de médio e longo prazo”, acrescentou Pousada.

Desalavancagem abre possibilidade de dividendos adicionais

Em 2023, outro ponto que chamou a atenção no resultado da Vibra foi a redução expressiva da alavancagem. “Saímos de 2,7 vezes e fechamos com 1,1 vez. Importante considerar que quando você tira o ganho extraordinário tributário, a gente voltaria para 1,5 vez”, disse o CEO na teleconferência.

Segundo Ernesto Pousada, “o primeiro ponto é estabilizar a alavancagem, entender onde estamos posicionados nos próximos trimestres e trazer uma estabilidade para isso”. E complementou: “A gente tem alguns projetos inorgânicos. Agora é importante dizer que caso esses projetos ao longo dos próximos trimestres não se materializem, a companhia estará pronta para distribuir esse dividendo adicional”.

Eneva: fim das negociações?

Sobre a Eneva, a Vibra parece tem descartado de vez uma possível fusão. Pousada fez questão de destacar que em um fato relevante divulgado pela empresa em novembro sobre a possível combinação de negócios, ficou expresso que a operação não andava bem.

“A companhia está zelando pelo longo prazo e melhor interesse de seus acionistas, e a gente vai estar sempre aberto a escutar propostas que possam gerar valor”, ressaltou, para frisar em seguida que o comunicado de novembro afirmava que o valor apresentado pela Eneva para o negócio era “injustificável”.

VISÃO DO MERCADO

Um lucro 483% maior na comparação anual, mas as ações caindo forte na sessão: às 14h30 (horário de Brasília), a baixa era de 5,46%, a R$ 25,11. A reação do mercado ao resultado da Vibra pode gerar surpresas para muitos investidores, mas analistas destacam algumas explicações para o movimento – que também foram ressaltadas pelos próprios executivos da companhia durante teleconferência.

BTG Pactual

Para o BTG, surpreende que os principais pares da Vibra não pareceram ter que sacrificar tanta participação quanto ela, e mesmo assim entregaram margens trimestrais um pouco maiores.

O BTG também ressalta a menção da Vibra de querer recuperar alguma “parte justa” perdida, embora não esteja claro até que ponto planeja fazê-lo. De qualquer forma, o banco segue com recomendação de compra para VBBR3.

“Um mercado de combustível mais saudável sugere que os operadores históricos, que provavelmente são mais capazes de obter combustível da Petrobras e de importações de forma mais eficiente, são beneficiários claros, permitindo que a Vibra forneça margens acima do consenso parece prever. A capacidade de proporcionar um maior giro de ativos continua provavelmente a ser o principal elo que falta para permitir uma expansão de múltiplos mais encorajadora. As ações são negociadas com desconto em relação ao seu principal par (Ultrapar, dona do Ipiranga) e somos compradores”, destaca.

Bradesco BBI

Na avaliação do Bradesco BBI, os resultados do 4T23 mostraram bons desenvolvimentos para a tese de investimento da Vibra, tais como: (i) o reconhecimento de R$ 2,6 bilhões na Lei Complementar 192 que podem ser usados para amortizar quaisquer impostos federais, portanto a empresa poderia efetivamente não pagar PIS/Cofins e imposto de renda durante os próximos 1,5 ano; (ii) o continuo processo de desalavancagem, com redução da dívida líquida em R$ 0,58/ação; (iii) o pagamento de dividendos de R$ 1,6 bilhão referente a 2023, implicando um rendimento de 5%, e o pagamento de 62% do lucro recorrente podendo ser um primeiro sinal de um yield consistente.

No entanto, as questões relativas às perspectivas para a companhia permanecem no radar. Em primeiro lugar, se a diferença de margens observada entre a Vibra e seus pares no 4T23 será fechada agora que a companhia ajustou sua estratégia de negociação para aproveitar oportunidades de arbitragem com o diesel russo e como se dará a recuperação da participação de mercado.

“A pergunta é: A Vibra conseguirá recuperar participação de mercado de forma gradual e sem atrapalhar o mercado?”, questionam os analistas do BBI. A equipe de análise do banco responde o seu próprio questionamento ao apontar que acredita que sim, seguindo com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 37 por ação.

XP

A XP ressalta que o lucro líquido da distribuidora de combustíveis veio muito forte – totalizando R$ 3,3 bilhões -, mas impulsionado por ganhos fiscais não recorrentes, enquanto um fator de preocupação foi a perda de market share (participação de mercado). No release do 4T23, a empresa observa que a média anual (2023) de share foi de 25,9%, redução de 2,4 pontos percentuais (p.p.) na comparação com a média de 2022.

A administração da Vibra apontou que a falta de diesel russo foi um dos principais fatores para a perda de participação de mercado, algo que pode mudar agora, já que a empresa parece mais propensa a trazer moléculas desse país. Porém, ainda há questionamentos sobre como a companhia atuará nesse mercado.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ajustado unitário excluindo efeitos não recorrentes (exceto efeito estoque e hedge) da companhia foi de R$ 163/m³ (-5% versus expectativa da XP, -29% no trimestre, +228% ano a ano), também pela falta do “diesel russo”. A visão é de que a importação maior do diesel também poderia reduzir (pelo menos uma parte) a diferença de desempenho da Vibra em relação ao Ebitda unitário dos seus pares, que ficou acima (durante o 4T23, R$ 194/m³ para a Raízen e R$ 192/m³ para a Ipiranga), sendo que essas companhias estão importando mais diesel russo.

A XP também avalia que olhará de perto as importações de diesel da Vibra para ver se a empresa recuperará o atraso nos volumes em relação a seus pares (embora, por enquanto, a molécula importada pareça menos favorável). “Ainda estamos otimistas em relação à tese, com base em um ambiente competitivo saudável para o setor e uma avaliação atraente. Seguimos nossa recomendação de compra”, reforçou.

* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney, Estadão