🇺🇸 (18/09/2024): O Federal Reserve corta taxa de juros nos EUA em 0,50 pp, para faixa de 4,75%-5,00%.
A última vez que o Fed havia realizado um corte nas taxas havia sido em 16 de maço de 2020, com menos 1,00 pp, em meio à crise inicial da Covid-19, para faixa de 0,00%-0,25%. As altas começaram em 17 de março de 2022.
Histórico:
A decisão que o Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, tem impacto não só no Brasil, mas em todo o mundo, dado o peso da economia americana e do dólar em toda economia global.
Os Estados Unidos são os maiores importadores de mercadorias, e a moeda americana é amplamente usada como reserva de valor e meio de pagamento.
Mas a decisão desta semana é particularmente importante por ser a primeira vez que os Estados Unidos devem cortar seus juros desde março de 2020. Em março de 2022, o Federal Reserve deu início a um ciclo ininterrupto de alta.
Durante os anos da pandemia, o juro americano esteve em uma banda entre 0% e 0,25%, o que refletia as necessidades daquela época.
As empresas estavam fechadas, os trabalhadores estavam em casa (desempregados ou trabalhando em home office), e os consumidores não estavam gastando.
Ou seja, a economia precisava de estímulos para crescer, e juros baixos eram um dos mecanismos para fazer isso.
Mas, a partir de março de 2022, com a pandemia chegando ao fim, a situação começou a se reverter.
Empresas voltaram a contratar e consumidores passaram a gastar. Esse aquecimento da economia — que foi acompanhado por problemas nas cadeias globais de produção e pela guerra na Ucrânia, que afetou preços de energia e comida — levou a uma inflação forte nos Estados Unidos.
Por mais de um ano, os juros americanos só subiram, partindo da banda de 0% a 0,25% até chegar a 5,25% a 5,50% em julho do ano passado.
A tarefa do Fed é considerada especialmente difícil nesta semana, porque o banco precisa acertar o nível certo do corte de juros — diante de um dos cenários avaliado como um mais desafiadores das últimas décadas.
O presidente do banco, Jerome Powell, precisa fazer o que analistas chamam de “pouso suave” da economia — ou seja, depois de anos de intensas turbulências por causa da pandemia e da guerra, fazer com que os Estados Unidos continuem a crescer, mas sem passar por um período de recessão e desemprego.
“Conseguir isso foi o que fez Alan Greenspan [ex-presidente do Fed nos anos 1990 e 2000] um deus no mercado, mas aquilo foi fácil comparado com o desafio de agora”, disse o ex-vice-presidente do Federal Reserve, Alan Blinder, ao jornal Financial Times.
“Se Powell conseguir o ‘pouso suave’, ele vai entrar para o hall da fama do Banco Central Americano.”
O impacto no Brasil
A decisão sobre a taxa de juros americana é feita a partir de questões internas da economia dos Estados Unidos sobre como lidar com inflação e crescimento econômico.
Mas tem repercussão no mundo todo e também no Brasil, porque os Estados Unidos são a maior economia do mundo, e esta taxa é um fator que determina a capacidade do país de atrair investimentos, explica Rogerio Paulucci Mauad, professor de Finanças da faculdade Fipecafi.
“Quando os juros americanos sobem — e vivemos um período de alta para combater a inflação —, fica mais interessante investir nos Estados Unidos e em dólar, recebendo essa taxa de juros em dólar”, pontua Mauad.
“O Treasury Bond de 10 anos e de 30 anos, que são os títulos de renda fixa mais negociados no mundo, atraem investidores do mundo inteiro.”
Investidores estão sempre procurando retorno alto para seu capital. Quando os juros americanos estão baixo, muitos colocam seu dinheiro em economias de maior risco — em países como o Brasil, onde os juros praticados são mais altos, mas há sempre a possibilidade de a moeda se desvalorizar bruscamente, aniquilando ganhos.
Já com juros americanos altos, isso abre oportunidades de se investir em renda fixa em dólar. Ou seja: obter bons retornos em uma moeda forte, com relativamente baixo risco.
A queda dos juros americanos neste momento pode provocar um grande fluxo de dinheiro para mercados emergentes.
“Quando os juros americanos ficam mais baixos, os investidores vendem [seus títulos da dívida americana] e os recursos pode podem fluir para outros países do mundo, principalmente para emergentes, como o Brasil, em busca de retornos maior.”
Não são apenas moedas de países emergentes que se fortalecem. Parte do dinheiro que sai dos títulos da dívida americana (renda fixa) vai para ações nas bolsas de Valores (renda variável).
Isso explica por que a atividade de bolsas no mundo todo já vem crescendo desde o começo do ano — com investidores antecipando que a taxa de juros americana começaria a cair.
Para Mauad, a queda dos juros nos Estados Unidos pode ter outro efeito positivo para a economia brasileira.
“À medida que o Federal Reserve vai cortando juros lá, o Banco Central aqui encontra um pouco de espaço para cortar os juros também. E isso pode favorecer a nossa economia real”, afirma Mauad.
“Se os juros estão mais baixos no Brasil, cai também o custo de captação de recursos das empresas, e isso torna mais atraente o investimento em setores produtivos da economia e não apenas no mercado financeiro.”
Mas Ribeiro alerta que, apesar de haver em tese uma relação entre os juros americanos e a cotação do dólar no Brasil, na prática esses efeitos nem sempre existem.
Ele lembra que, no último ciclo, a taxa de juros brasileira subiu mais do que a americana.
Em teoria, isso significaria que o real ficaria mais atraente do que o dólar — o que deveria provocar uma queda na cotação da moeda americana no Brasil. Mas o que se viu no período foi o oposto: o real se desvalorizou.