A fabricante de alimentos M. Dias Branco apresentou lucro líquido de R$ 69,4 milhões no primeiro trimestre do ano. O resultado é 55,2% menor na comparação com igual período do ano passado, quando a empresa reportou lucro líquido de R$ 154,9 milhões.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu R$ 160,9 milhões, recuo de 42% frente aos R$ 277,3 milhões do primeiro trimestre de 2024. A margem Ebitda ficou em 7,3%, ante 13% de um ano antes, queda de 5,7 pontos porcentuais em um ano. A alavancagem da empresa (relação entre dívida líquida e Ebitda) ficou em 0,1 vez negativa, inalterada ante igual período de 2024.

Já a receita líquida avançou 3,2% na mesma base comparativa, alcançando R$ 2,209 bilhões, ante R$ 2,140 bilhões do primeiro trimestre de 2024. O recuo de 0,7% no volume comercializado na comparação com igual período do ano anterior foi compensado pelo aumento de 3,7% no preço médio.

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No último trimestre, a receita líquida de produtos principais da empresa (biscoitos, massas e margarinas) cedeu 0,2%, para R$ 1,682 bilhão. A receita líquida do segmento de moagem e refino de óleos (farinhas, farelo e gorduras industriais) avançou 17,4%, para R$ 417 milhões. Já o segmento de adjacências (bolos, snacks, misturas para bolos, torradas, saudáveis, molhos e temperos) teve receita líquida 10,6% superior, para R$ 109,7 milhões.

A empresa destacou, em comunicado a investidores, que a alta dos custos, em virtude da desvalorização cambial e do aumento do preço do óleo de palma, afetou seus resultados trimestrais. Já a receita, observou a companhia, foi impulsionada pelo desempenho positivo das categorias de moagem e refino de óleo e da categoria de adjacências.

O volume comercializado pela M. Dias Branco de seus produtos recuou 0,7% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período do ano anterior. O volume vendido pela companhia passou de 397,1 mil toneladas para 394,2 mil toneladas.Em relação ao trimestre anterior, as vendas totais da companhia cederam 8,6%.

A companhia citou que a queda ante o último trimestre de 2024 reflete sazonalidade histórica. O preço médio de todas categorias subiu 3,7% na comparação anual dos trimestres, de R$ 5,40 por quilo para R$ 5,60 por quilo. Na comparação com o trimestre anterior, houve queda de 3,4% no preço médio dos produtos, de R$ 5,80 por quilo. Segundo a empresa, o recuo deve-se ao impacto desfavorável do mix de categorias no preço médio, dado que os itens de moagem e refino de óleos tiveram um desempenho melhor que as demais categorias.

Ainda como fatos relevantes do primeiro trimestre do ano, a companhia destacou a “elevada” verticalização dos dois principais insumos: farinha de trigo e gordura vegetal em, respectivamente, 99,6% e 100%. No último trimestre, a empresa investiu R$ 90,1 milhões, 72,9% acima do valor investido em igual intervalo de 2024. Do montante, 78,5% foram destinados para manutenção e 21,5% direcionados para expansão. Os principais aportes foram investimentos em melhorias na unidade Eusébio (CE) e investimentos em sistemas.

Os resultados da M. Dias Branco (BOV:MDIA3) referentes suas operações do primeiro trimestre de 2025 foram divulgados no dia 05/05/2025.

VISÃO DO MERCADO

Às 10h15 (horário de Brasília), a ação da companhia caía 11,02%, cotada a R$ 22,70.

O time de análise do Itaú BBA vê o trimestre como um obstáculo adicional na trajetória da M. Dias rumo à recuperação da lucratividade, já que as estratégias de precificação não compensaram a alta dos preços das commodities como esperado.

Por outro lado, o BBA parabeniza o foco da empresa em fatores controláveis, mas a maior volatilidade dos resultados pode pesar na percepção dos investidores antes que eles se tornem mais otimistas em relação à tese.

Em termos de volume, os números também ficaram abaixo das expectativas do BBA, enquanto a dinâmica de preços por segmento permanece incerta.

O Itaú BBA manteve classificação market perform (desempenho igual a média do mercado, equivalente à neutro) e preço-alvo de R$ 23.

O Bradesco BBI, por sua vez, aponta o crescimento do volume como a principal alavanca para a criação de valor na M. Dias, dada a alavancagem operacional que deve vir com ele.

Embora a administração tenha apontado a recuperação da participação de mercado como prioridade máxima, “os resultados do 1T25 não forneceram evidências claras de que isso esteja se materializando”, comenta BBI. “Na verdade, o trimestre estabelece uma base mais baixa para 2025 e deixa as mesmas perguntas que tínhamos no final do ano passado sem resposta”, completa o banco.

Como resultado, o BBI reduziu suas estimativas de Ebitda e lucro líquido para 2025 em 11% e 13%, respectivamente. O preço-alvo para o final de 2025 passou de R$ 26 para R$ 25, enquanto o banco continua considerando uma recuperação da margem EBITDA de longo prazo para 15,2%.

No curto prazo, a visibilidade limitada sobre o momento e a sustentabilidade de uma recuperação, juntamente com um Preço/Lucro de 13,8 vezes em 2025, deve continuar limitando o potencial de valorização. Com isso, o BBI manteve recomendação neutra.

Para o JPMorgan, os resultados da M. Dias Branco no primeiro trimestre refletem um período desafiador, com desempenho abaixo do esperado. A receita líquida cresceu apenas 3,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, um resultado fraco especialmente diante de uma base de comparação frágil no 1T24.

Segundo JPMorgan, a queda sequencial nos preços médios e o crescimento da receita abaixo da inflação continuam sendo pontos de preocupação.

No geral, o banco americano espera uma reação negativa do mercado, com o sentimento dos investidores impactado pela forte compressão de margens e pelo desempenho fraco nos principais indicadores.

De positivo, o JPMorgan destaca a geração de caixa operacional de R$ 280 milhões, o dobro do registrado no 1T24. “Esse resultado reflete ganhos no capital de giro — tema que pretendemos explorar com mais profundidade na teleconferência — além da redução nos juros pagos.”

O JPMorgan também reiterou recomendação neutra e preço-alvo de R$ 26.

Na mesma linha que os outros bancos, o BTG Pactual classificou os números reportados como fracos. “A trajetória da companhia tem sido difícil, e ainda não vemos resultados materiais do processo de reestruturação iniciado no 3T24”, comenta o banco.

O BTG disse que os resultados do 1T25 confirmam parcialmente sua visão de que a M. Dias enfrentaria um cenário desafiador de margens no primeiro semestre deste ano. Embora os custos de insumos sigam pressionando os resultados, a empresa ainda encontra dificuldades para demonstrar crescimento relevante de volume, e os impactos das recentes mudanças internas e comerciais ainda não se materializaram.

O BTG acredita que o segundo semestre será determinante para que a M. Dias apresente avanços mais tangíveis em sua estratégia de reestruturação. Diante do cenário desafiador, da baixa visibilidade de execução, do elevado custo de capital e de um valuation esticado (17 vezes P/L 2025), o banco reiterou recomendação neutra e preço-alvo de R$ 25.

* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney, Reuters