Após um longo período de poucos investimentos no exterior, a Petrobras volta a direcionar seu foco ao mercado internacional em busca de novas reservas. Ontem, a companhia anunciou interesse em um novo território: a Costa do Marfim, na costa oeste da África. Caso saia vitoriosa da licitação, os ativos se somarão a outras iniciativas já em curso no continente africano, como na África do Sul, Angola, Namíbia e São Tomé e Príncipe.
Em 2023, a Petrobras (BOV:PETR4) (BOV:PETR4) retomou sua presença na África — continente praticamente abandonado durante os governos Temer e Bolsonaro — com a aquisição de participação em três blocos em São Tomé e Príncipe, também na costa oeste africana. A região, segundo estudos geológicos, teria sido separada do continente sul-americano há milhões de anos.
Em fevereiro de 2024, a companhia anunciou a aquisição de participação nos blocos exploratórios 10, 11 e 13, operados pela Shell, em São Tomé e Príncipe. Além disso, firmou aditivos aos contratos de partilha de produção e aos Joint Operating Agreements correspondentes, passando a integrar os consórcios responsáveis pelos blocos, ao lado da Agência Nacional de Petróleo de São Tomé e Príncipe e da Galp. Com isso, a estatal brasileira passou a deter 45% de participação nos blocos 10 e 13, e 25% no bloco 11.
Potencial promissor
De acordo com Ilan Arbetman, analista de energia da Ativa Investimentos, a empresa avança com força a partir do novo acordo de exclusividade para avaliação de ativos na região. “Trata-se de um movimento coerente com sua estratégia de expansão seletiva em águas profundas e ultraprofundas, com geologia compatível com sua expertise e bom potencial de descoberta”, avaliou.
Apesar das diferenças em relação ao pré-sal brasileiro, a bacia offshore da Costa do Marfim apresenta características operacionais semelhantes: lâminas d’água profundas, sistemas petrolíferos ativos e infraestrutura em desenvolvimento. O interesse de grandes players do setor, como TotalEnergies, Shell e Eni, reforça o atrativo da margem atlântica africana, especialmente após descobertas como o campo Baleine, com reservas estimadas em mais de 2 bilhões de barris.
“Além do alinhamento técnico, o avanço na África é estratégico: a vida útil média das reservas provadas atualmente da Petrobras gira em torno de uma década, o que exige uma constante reposição. A Costa do Marfim oferece uma oportunidade para novos volumes exploratórios, com relação risco-retorno controlada e potencial competitivo de desenvolvimento no médio prazo”, destacou Arbetman.
A expansão internacional da Petrobras visa garantir novas reservas e, inclusive, a Índia já passou a integrar a lista de possíveis alvos da estatal, mesmo sendo um país onde a companhia nunca cogitou operar. A razão é clara: os reservatórios do pré-sal, apesar de abundantes, não são infinitos e devem iniciar seu declínio já na próxima década. Mesmo com a transição energética em curso, sem novas descobertas, a tendência é de queda gradual na produção.
Investimentos no exterior
Ainda não está definido quanto a Petrobras pretende investir fora do Brasil. Embora a Costa do Marfim não esteja explicitamente mencionada no atual Plano Estratégico (2025–2029), a companhia prevê aplicar US$ 1,7 bilhão em investimentos exploratórios até 2029 fora das margens Sul, Sudeste e Equatorial brasileiras.
Em 2023, a produção internacional da Petrobras representou apenas 1,26% do total consolidado. No entanto, tanto os investimentos quanto a participação internacional na produção devem crescer com as novas diretrizes da atual gestão. A presidente da companhia, Magda Chambriard, e a diretora de Exploração e Produção, Sylvia Anjos, vêm se posicionando de forma favorável à expansão global da estatal.
“Nós acreditamos e queremos o Brasil. Por isso estamos lutando tanto para obter nossa licença de perfuração na Foz do Amazonas. Mas temos conhecimento: é sabido que Brasil e África já estiveram unidos. Então, sabemos que a geologia de um se espelha no outro. Por isso também conhecemos muito bem a África”, afirmou Sylvia no mês passado.