Apesar de amenizar as perdas, companhia ainda enfrenta desafios com queda de margens e consumo de caixa no trimestre
A Braskem (BOV:BRKM5), maior petroquímica da América Latina, divulgou na madrugada desta quinta-feira (07/08) seus resultados financeiros referentes ao segundo trimestre de 2025, registrando prejuízo de R$ 267 milhões – uma queda de 93% na comparação com os R$ 3,6 bilhões negativos do mesmo período de 2024. Ainda assim, os números revelam um trimestre de margens pressionadas e retração nos indicadores operacionais.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorrente da companhia recuou para R$ 427 milhões, uma forte redução frente aos R$ 1,67 bilhão do segundo trimestre do ano passado. Já a receita líquida caiu para R$ 17,86 bilhões, ante os R$ 19,07 bilhões registrados no mesmo intervalo de 2024.
A Braskem destacou que o segundo trimestre de 2025 foi marcado por maiores desafios operacionais e cambiais, com impacto nos preços internacionais dos produtos petroquímicos. Mesmo com uma gestão mais eficiente do capital de giro, a empresa apresentou um consumo de caixa de R$ 1,45 bilhão, contra R$ 74 milhões negativos um ano antes, refletindo um cenário ainda adverso para o setor.
No acumulado do ano, a Braskem investiu R$ 515 milhões de um total previsto de R$ 2,4 bilhões em 2025. A companhia reforçou seu compromisso com projetos estruturantes e sustentáveis, mas segue pressionada por fatores externos, como o câmbio e a volatilidade nas matérias-primas.
No pregão da quarta-feira (06/08), as ações da Braskem (BRKM5) estão cotadas a R$ 8,53, praticamente estáveis, com leve alta de 0,12%. Ao longo do dia, os papéis oscilaram entre R$ 8,20 e R$ 8,63. Desde o início do ano, a ação acumula forte desvalorização, refletindo os desafios contínuos da companhia no mercado internacional e doméstico.
A Braskem atua no setor petroquímico com forte presença na produção de resinas termoplásticas e outros produtos químicos. Suas operações são estratégicas para diversos segmentos industriais, com exportações relevantes e grande participação no PIB industrial brasileiro. Seus principais concorrentes são empresas globais como Dow (NYSE:DOW) e LyondellBasell (NYSE:LYB).
Teleconferência
O CEO da Braskem, Roberto Ramos, afirmou nesta quinta-feira (7) que as operações da companhia nos Estados Unidos são essenciais dentro do plano estratégico voltado à rentabilidade e transformação do negócio, especialmente diante de um cenário global marcado por excesso de capacidade no setor petroquímico.
“A manutenção das plantas nos EUA é de importância fundamental porque lá estão dois de nossos três principais laboratórios… Não temos nenhuma intenção de nos desfazer das plantas de polipropileno nos EUA”, declarou Ramos, durante conferência com analistas sobre os resultados do segundo trimestre.
A fala veio após questionamentos sobre notícias veiculadas na imprensa, que indicavam a suposta intenção da companhia de vender ativos nos EUA, em meio a preocupações com o nível de alavancagem e os vencimentos de dívida a partir de 2028.
Ramos foi direto ao comentar os rumores:
“Não sou fã de venda de ativos para amortizar dívida.”
Na mesma linha, o CFO Felipe Jens reiterou que os laboratórios nos EUA são peças-chave na transição da Braskem para um modelo mais sustentável, com foco na substituição da nafta de petróleo por gás e no avanço da produção de químicos de origem renovável, como os derivados de cana-de-açúcar e milho.
“Os laboratórios nos EUA são de extrema importância e, portanto, aderentes ao nosso futuro. Os ativos em si são importantes, já tiveram ciclos de geração de EBITDA maiores, deverão voltar no futuro, e as possibilidades vamos sempre avaliar desde que isso não nos desvie de nosso plano de transformação”, afirmou Jens, mencionando que monetizações — parciais ou totais — podem ser consideradas, mas sem dar mais detalhes.
Sobre o endividamento da companhia, Ramos minimizou os receios de um eventual reperfilamento:
“Preocupações sobre isso [reperfilamento] não fazem nenhum sentido. Isso se resolve aumentando o EBITDA. O problema da Braskem não é o tamanho da dívida”, disse o CEO.
Ele ainda ressaltou que os vencimentos mais relevantes só ocorrem a partir de 2028 e que a expectativa é de uma companhia mais robusta até lá:
“Em 2028, a Braskem vai estar em um nível de EBITDA muito maior do que estamos hoje. Isso [reperfilamento] é vir com remédio para um diagnóstico errado.”
Segundo dados divulgados pela empresa, a alavancagem em dólares no fim do segundo trimestre subiu para 10,59 vezes o EBITDA, contra 7,98x em março e 6,79x um ano antes. A dívida bruta corporativa fechou o período em aproximadamente US$ 8,5 bilhões, com prazo médio de 9 anos e 68% dos vencimentos concentrados a partir de 2030. O caixa, desconsiderando a operação da Braskem Idesa (no México), era de US$ 1,7 bilhão, além de uma linha rotativa de US$ 1 bilhão disponível até dezembro de 2026.
VISÃO DO MERCADO
As ações da Braskem registram forte queda nesta quinta-feira (7), refletindo a divulgação de resultados do segundo trimestre de 2025 abaixo das já rebaixadas expectativas dos analistas. Por volta das 11h44, os papéis recuavam 3,64%, cotados a R$ 8,21.
Segundo a XP, o desempenho fraco está relacionado, em parte, a um efeito contábil não monetário. Após o chamado Liberation Day, em 2 de abril, houve queda significativa nos preços de resinas e insumos. No entanto, os custos ainda refletiram estoques mais caros, já que o giro de inventário no setor é lento. Embora isso pese no resultado, a corretora destaca que o fluxo de caixa pode se beneficiar da redução nas necessidades de capital de giro — o que pode abrir caminho para uma recuperação no terceiro trimestre, caso o cenário se normalize.
A XP também vê o projeto de lei PRESIQ, atualmente em discussão no Congresso, como uma potencial alavanca de recuperação para a Braskem e todo o setor petroquímico nacional.
Já o JPMorgan considerou os números divulgados como negativos, abaixo de suas estimativas — que já eram conservadoras — e também aquém do consenso de mercado. Mesmo com os volumes de vendas dentro do esperado, a pressão sobre os spreads foi maior que o previsto, afetando diretamente as margens operacionais.
O banco estima que o fluxo de caixa livre ficou negativo em R$ 1,2 bilhão, com R$ 537 milhões de geração operacional, impactada por pagamentos de juros, investimentos e leasing. A dívida líquida ajustada cresceu para US$ 6,9 bilhões, o que elevou a alavancagem para 10,59 vezes o EBITDA, frente aos 7,98x do trimestre anterior. O aumento não foi tanto pelo crescimento da dívida, mas sim pela queda no EBITDA acumulado em 12 meses.
Apesar disso, o JPM destaca que a companhia mantém uma posição de liquidez confortável, com US$ 1,7 bilhão em caixa e cobertura para os próximos 30 meses — sem contar uma linha de crédito rotativa de US$ 1 bilhão. O banco manteve recomendação neutra para BRKM5, com preço-alvo de R$ 6.
O Bradesco BBI também avaliou o trimestre como fraco. O EBITDA recorrente veio muito abaixo das projeções, afetado por margens menores, desalinhamento de estoques e uma parada programada de manutenção no México. Apesar de uma leve melhora no fluxo de caixa livre ao acionista, que passou de -US$ 511 milhões para -US$ 161 milhões, o indicador permanece negativo devido à fraca geração operacional.
Com base nesses dados, o BBI reduziu suas projeções para os próximos dois anos, considerando que tanto suas estimativas quanto as do mercado estavam otimistas demais. O novo preço-alvo foi cortado para R$ 10 por ação (ou US$ 3,50 por ADR), ante R$ 12 anteriormente. A recomendação continua neutra, com o banco observando que a visibilidade sobre os spreads segue bastante limitada.
Ainda assim, o BBI vê potencial de melhora caso medidas como antidumping sobre o polietileno dos EUA e isenções tributárias sobre insumos petroquímicos avancem. Se essas iniciativas forem bem-sucedidas, o banco estima que o EBITDA da Braskem poderia saltar até 80%.