O Índice de Confiança da Indústria (ICI), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), registrou forte retração em agosto. O indicador caiu 4,4 pontos na comparação com julho, encerrando o mês em 90,4 pontos — o menor patamar desde outubro de 2023 e a maior queda mensal desde a pandemia. Na média móvel trimestral, o índice recuou 2,8 pontos, chegando a 94,0 pontos.
“A queda da confiança da indústria em agosto reforça a tendência de insegurança entre os empresários. As avaliações sobre o momento atual dos negócios evidenciam a preocupação de alguns setores com o acúmulo de estoques”, escreveu em nota o economista Stéfano Pacini, do Ibre/FGV.
Pacini destacou ainda que o ambiente atual combina política monetária restritiva e maior incerteza externa, principalmente após a imposição de novas taxações a produtos brasileiros pelos Estados Unidos. “O resultado da sondagem está em linha com a complexidade da macroeconomia para o setor industrial no segundo semestre. Um cenário de contração da política monetária e de aumento da incerteza, em virtude das questões externas envolvendo Brasil e EUA, pode intensificar a desaceleração que já era esperada para o setor.”
Segundo a FGV, a queda foi puxada principalmente pelo Índice de Situação Atual (ISA), que recuou 3,9 pontos em agosto, para 93,4 pontos. Dentro desse segmento, o destaque negativo ficou com o indicador que mede a situação atual dos negócios, que caiu 6,1 pontos, para 91,3 pontos — o maior tombo desde janeiro de 2022.
O Índice de Expectativas (IE) também recuou de forma expressiva, caindo 4,9 pontos, para 87,6 pontos. A piora foi generalizada em seus componentes, sendo mais intensa no ímpeto de contratações. O indicador de expectativas de emprego cedeu 5,9 pontos, para 91,2 pontos, o nível mais baixo desde junho de 2020.
Já o Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria (Nuci) permaneceu praticamente estável, com leve alta de 0,1 ponto percentual, atingindo 81,6%.
Impactos no mercado financeiro
A retração da confiança industrial tende a pressionar as perspectivas para a bolsa de valores brasileira, especialmente em setores ligados à atividade econômica, como bens de capital e consumo cíclico. Além disso, a maior incerteza em relação ao comércio com os Estados Unidos pode trazer volatilidade ao câmbio, com reflexo na paridade Dólar Americano e Real Brasileiro (FX:USDBRL), e nos contratos futuros de juros (BMF:DI1FUT), diante da leitura de desaceleração da atividade e riscos externos.
Relevância no contexto atual
Mesmo sem a divulgação imediata de cotações específicas ligadas à indústria, a queda histórica no ICI reforça um alerta ao mercado financeiro. O enfraquecimento da confiança dos empresários pode sinalizar menor dinamismo na economia nos próximos meses, um fator que tende a influenciar tanto o desempenho da bolsa de valores quanto a tomada de decisão dos investidores em relação ao câmbio e aos títulos públicos.