O Flamengo surpreendeu o mercado ao anunciar a Betano como sua nova patrocinadora máster em um contrato que pode chegar a R$ 270 milhões por ano, valor nunca antes visto no futebol brasileiro. O montante não apenas supera qualquer outro patrocínio vigente no país, mas também coloca pressão sobre os rivais, abrindo caminho para uma reacomodação nos valores pagos por casas de apostas a clubes de futebol.
Segundo especialistas, o impacto vai além do número. O Flamengo reúne a maior torcida do país — público-alvo estratégico para o setor de apostas — e oferece um pacote de propriedades comerciais e digitais que poucos clubes têm, como a FlaTV, além de alta capacidade de engajamento em redes sociais. Esse conjunto de ativos dá lastro ao valor pago pela Betano, que enxergou no clube não apenas visibilidade, mas possibilidade real de ativar campanhas inovadoras e em escala nacional.
A disputa pelo espaço na camisa rubro-negra mostra a intensidade do movimento no setor. Superbet e Sportingbet, que já patrocinam clubes como São Paulo, Fluminense e Palmeiras, chegaram a apresentar propostas semelhantes às da Betano. A Sportingbet, por exemplo, dobrou a oferta inicial para se manter na briga. Ainda assim, o alcance internacional e a proposta final de R$ 268,5 milhões da casa de apostas grega pesaram na decisão da diretoria flamenguista.
Para o mercado, o contrato estabelece um novo parâmetro. “O acordo entre Flamengo e Betano será pauta em várias reuniões de clubes e patrocinadores. Mesmo com contratos em vigor, haverá questionamentos e movimentos de renegociação”, afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports. O efeito, segundo ele, é imediato: empresas podem ser pressionadas a rever contratos já assinados, enquanto clubes buscarão cifras mais próximas do patamar rubro-negro.
O cenário se torna ainda mais relevante após a regulamentação das apostas esportivas no Brasil, que trouxe novas regras e ampliou a competição entre empresas do setor. “O Flamengo será usado como referência, mas cada clube precisará provar sua capacidade de engajamento e ativos comerciais para justificar aumentos”, avalia Eduardo Corch, professor do Insper e consultor de marketing esportivo.
Outro ponto que chama a atenção é a estratégia de ativação. A Betano tem histórico de trabalhar além da simples exposição de marca, apostando em projetos criativos. Para Alexandre Vasconcellos, executivo do Flashscore, “a escala inédita desse contrato pressupõe que veremos ideias ousadas e inovadoras, especialmente aproveitando a conexão digital do Flamengo com sua torcida espalhada pelo país”.
Embora o contrato represente uma vitória financeira para o Flamengo, há o risco de desequilíbrio competitivo no futebol brasileiro. Clubes menores podem enfrentar dificuldades para justificar aumentos proporcionais de patrocínio, enquanto rivais diretos usarão o exemplo rubro-negro como argumento em futuras negociações. “O efeito de ancoragem é inevitável: ao ver o Flamengo receber valores tão acima, outros clubes e patrocinadores recalibrarão expectativas”, explica Thales Rangel Mafia, gerente de marketing da Multimarcas Consórcios.
O contrato de cinco anos, válido até 2028, deve render quase R$ 900 milhões ao clube da Gávea e consolida o Flamengo não apenas como potência esportiva, mas também como referência de negócios no esporte. Para o mercado de apostas e patrocínios esportivos, o acordo com a Betano marca o início de uma nova era — mais cara, mais competitiva e com potencial para transformar de vez o relacionamento entre marcas e clubes no Brasil.