A economia do Brasil encerrou o segundo trimestre com sinais de desaceleração, após registrar desempenho negativo em junho pelo segundo mês consecutivo. Apesar disso, o período ainda foi marcado por crescimento, em um cenário de política monetária restritiva e antes da entrada em vigor do tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (18/08) pelo Banco Central.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado um termômetro do Produto Interno Bruto (PIB), apresentou retração de 0,1% em junho na comparação com maio, em dado dessazonalizado. O resultado frustrou a expectativa de avanço de 0,05% apontada em pesquisa da Reuters, após o índice já ter recuado 0,7% em maio.
Mesmo com a queda em junho, o indicador fechou o segundo trimestre em alta de 0,3%, conforme dados ajustados do Banco Central. Já o IBGE divulgará o resultado oficial do PIB do período no dia 2 de setembro. No primeiro trimestre, a economia brasileira havia avançado 1,4% frente aos três meses anteriores.
A abertura dos números do BC mostrou que em junho a agropecuária recuou 2,3%, acumulando queda de 3,1% no trimestre. A indústria teve retração leve de 0,1% no mês, enquanto o setor de serviços registrou alta de 0,1%. No trimestre, ambos anotaram ganhos de 0,1% e 0,7%, respectivamente. O IBC-Br, quando desconsiderada a agropecuária, avançou 0,1% em junho e 0,4% no trimestre.
Na comparação com junho de 2024, o índice apresentou crescimento de 1,4%. No acumulado de 12 meses, a alta chegou a 3,9%, segundo números sem ajuste sazonal.
Dados do IBGE também mostraram que os serviços surpreenderam positivamente, com crescimento de 0,3% em junho. Já a produção industrial avançou apenas 0,1% no mês, ficando abaixo das projeções, enquanto as vendas do varejo frustraram ao recuar 0,1%.
No fim de julho, o Banco Central manteve a taxa Selic em 15% ao ano e reforçou que a expectativa é de manutenção prolongada do patamar elevado. A política monetária restritiva tende a esfriar gradualmente a atividade econômica ao longo de 2025, embora a resiliência do mercado de trabalho atenue parte desses efeitos.
O cenário também será pressionado pelo tarifaço norte-americano em vigor desde o início de agosto. Os Estados Unidos passaram a aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros que representam cerca de 36% das exportações ao país, como carne, café, frutas e calçados. Além disso, outros 20% das vendas estão sujeitos a tarifas globais que variam de 25% a 50%.
Para mitigar os impactos, o governo brasileiro anunciou na semana passada um pacote de medidas de apoio, incluindo linhas de crédito, prorrogação de tributos, estímulo às exportações e compras governamentais.
A pesquisa Focus, divulgada nesta segunda-feira (18/08), apontou que o mercado espera expansão de 2,21% para o PIB em 2025 e de 1,87% em 2026.
No contexto atual, o desempenho do IBC-Br reforça a percepção de que a economia brasileira entrou em uma fase de maior moderação, em meio ao desafio de juros altos e pressões externas. Para investidores da bolsa de valores, câmbio e títulos públicos, os próximos meses tendem a ser marcados por volatilidade, principalmente diante do impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre setores-chave das exportações brasileiras.
(BC)