Após prejuízo bilionário no mesmo período de 2024, a Natura mostra recuperação do lucro e melhora no Ebitda, mas frustra projeções de receita; ações fecham estáveis na bolsa de valores.

A Natura Cosméticos S.A. (BOV:NATU3) surpreendeu positivamente no lucro do segundo trimestre de 2025, revertendo o prejuízo de R$ 859 milhões registrado um ano antes e fechando o período com lucro líquido consolidado de R$ 195 milhões. O resultado reflete avanços na estratégia de reestruturação e a reclassificação das operações da Avon International e Avon América Central e República Dominicana como ativos mantidos para venda.

O lucro líquido das operações continuadas somou R$ 444,8 milhões, revertendo a perda de R$ 872,8 milhões no mesmo trimestre de 2024. Já o Ebitda recorrente atingiu R$ 795,6 milhões, alta de 4,5% na base anual, evidenciando ganho de eficiência operacional.

Apesar do avanço no resultado final, a receita líquida totalizou R$ 5,7 bilhões no trimestre, recuo de 1,7% ano a ano e abaixo das projeções do mercado, que esperava cerca de R$ 7,5 bilhões, segundo dados da LSEG. Esse desempenho reforça que o desafio da companhia agora é retomar o crescimento de vendas, especialmente no mercado brasileiro e latino-americano.

Com a incorporação da holding Natura&Co em junho, a companhia consolida sua estrutura e busca acelerar a desalavancagem, fortalecer o portfólio e aumentar a rentabilidade no médio prazo. O setor de cosméticos, embora competitivo, apresenta oportunidades com a retomada do consumo e a demanda por produtos sustentáveis, área onde a Natura mantém forte posicionamento.

Fundada em 1969, a Natura é uma das maiores empresas de cosméticos da América Latina, com atuação global por meio de marcas como Natura, Avon, The Body Shop e Aesop. Seu modelo de negócios combina venda direta, canais digitais e lojas próprias, com forte presença em produtos de beleza, perfumaria e cuidados pessoais.

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Teleconferência

O presidente-executivo da Natura, João Paulo Ferreira, afirmou nesta terça-feira que os trabalhos para separação ou venda da Avon International e a Avon América Central e República Dominicana (CARD) avançaram de forma significativa nos últimos meses.

“Nossos auditores ratificaram a classificação desses ativos como mantidos para venda dadas as evidências de alta probabilidade de uma conclusão desses processos em até 12 meses”, afirmou o executivo, em teleconferência com analistas sobre o balanço do segundo trimestre divulgado na véspera.

A Natura informou na terça-feira que a Avon International e a Avon América Central e República Dominicana (CARD) foram reclassificadas como ativos mantidos para venda no segundo trimestre. Em 2024, eram citadas como operações descontinuadas.

“Acreditamos que os movimentos incrementais de simplificação da Natura no segundo trimestre indicam uma possível venda iminente da Avon International”, afirmaram analistas do JPMorgan em relatório a clientes, citando que isso acabou ofuscando o Ebitda abaixo do esperado pelo mercado.

No segundo trimestre, o Ebitda recorrente da Natura somou R$795,6 milhões, alta de 4,5% ano a ano, enquanto a receita líquida recuou 1,7%, para R$5,7 bilhões, também menor do que previsões de analistas.

VISÃO DO MERCADO

As ações da Natura sofreram uma queda significativa nesta terça-feira (12), após avançarem mais de 5% na véspera, quando o mercado aguardava a divulgação do balanço da empresa. Por volta das 10h47, os papéis recuavam 4,47%, negociados a R$ 8,98.

No segundo trimestre de 2025, a companhia reportou um lucro líquido consolidado de R$ 195 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 859 milhões registrado no mesmo período do ano anterior. Apesar disso, os investidores reagiram com cautela ao balanço.

A XP Investimentos destacou que, embora os resultados da Natura sigam difíceis de interpretar, o desempenho superou as expectativas. Entre os pontos positivos estão a reclassificação da Avon International e da operação CARD (América Central) como ativos mantidos para venda; o avanço da Natura América Latina, impulsionado pelas eficiências da chamada Onda 2; a significativa redução da queima de caixa livre da Avon International; a solidez da operação da Natura Brasil; e a queda de 30% nos custos de transformação da Natura América Latina.

Por outro lado, a XP ressaltou que a empresa adotou uma postura mais cautelosa para os próximos meses, citando uma desaceleração acentuada no Brasil a partir de junho, um cenário desafiador no México e possível desvalorização na Argentina.

De modo geral, a análise reforça a visão positiva sobre a Onda 2, enquanto a reclassificação da Avon International apoia o cenário de desinvestimento até o fim de 2025.

O Morgan Stanley, apesar dos resultados operacionais mais modestos, avaliou como positivo o registro da Avon International como “mantida para venda”, interpretando essa movimentação como sinal de avanço nos planos de desinvestimento. A receita da Natura &Co na América Latina caiu 2% em relação ao ano anterior, ficando 11% abaixo das estimativas do banco, refletindo os impactos da implementação da Onda 2 no México e na Argentina. Já a operação da Natura Brasil teve alta de 10%, mesmo com um desempenho mais fraco em junho. O Morgan manteve recomendação neutra (equal-weight) e preço-alvo de R$ 11,50.

O Bradesco BBI apontou que, embora os resultados do segundo trimestre tenham sido negativos, as declarações mais enfáticas sobre uma possível venda da Avon podem animar o mercado. Segundo o banco, a indefinição sobre o futuro da Avon demorou mais que o esperado para ser resolvida e virou uma questão de “mostrar para acreditar”. Porém, dado o baixo otimismo atual do mercado em relação à Natura, essa sinalização pode ter um impacto positivo nas ações.

No que diz respeito aos números, o Bradesco destacou uma decepção na revisão para baixo da receita, resultado das vendas fracas e dos ventos contrários apontados pelo desempenho em junho no Brasil — principal pilar da empresa. Além disso, chamou atenção o elevado consumo de caixa e a dívida líquida de R$ 4 bilhões no trimestre.

Ainda assim, o BBI ressalta que, do ponto de vista estrutural, uma solução para a Avon pesa mais na tese de investimento do que os resultados trimestrais. Embora tenha havido uma sinalização sobre a venda, ainda não há confirmações concretas sobre potenciais compradores, prazos ou condições.

O banco reforçou que, olhando além do terceiro trimestre — quando a implementação da Onda 2 deve ser concluída e a Avon ainda afetará o caixa na primeira metade do período —, as mensagens do segundo trimestre indicam boas perspectivas para o desbloqueio de valor da companhia. Essa visão sustenta a recomendação de compra, desde que o resultado consolidado e o fluxo de caixa se alinhem aos números da Natura Cosméticos, condição considerada crucial para uma possível reavaliação dos múltiplos.

Por fim, a Ativa Investimentos avaliou o resultado da Natura Cosméticos como misto, destacando que a receita continua impactada negativamente pelas marcas Avon e Casa & Estilo, que ainda estão em recuperação e pesam no desempenho da empresa.