A produção industrial brasileira avançou em julho, mas o clima entre os empresários perdeu força diante de um cenário mais desafiador para os próximos meses. Segundo a Sondagem Industrial divulgada nesta quarta-feira (20/08) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a confiança do setor recuou especialmente em relação às exportações, em meio ao tarifaço imposto pelo governo norte-americano a produtos brasileiros.
O índice de evolução da produção alcançou 52,6 pontos em julho, acima da linha divisória dos 50 pontos, o que indica aumento em relação a junho. Já o índice de evolução do número de empregados ficou em 49,3 pontos, abaixo do nível de estabilidade, revelando redução no contingente de trabalhadores.
A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) se manteve em 71%, repetindo os níveis de junho e de julho de 2024, além de ficar 2 pontos acima do registrado em julho de 2023. Os estoques também apresentaram pouca variação: o índice de evolução ficou em 50,1 pontos, enquanto o indicador de estoque efetivo frente ao planejado atingiu 49,9 pontos. “Próximo à linha de 50 pontos, o índice do mês revela que os estoques se encontram ajustados conforme o planejado pelos empresários industriais”, destaca a sondagem.
Expectativas em queda
Os empresários mostraram maior cautela em agosto. O índice de expectativa de exportações caiu 5,1 pontos, para 46,6 pontos, o menor nível em 21 meses. “A piora das expectativas de exportações da indústria estão muito relacionadas às incertezas do cenário externo, principalmente em função da nova política comercial americana”, afirma a analista de Políticas e Indústria da CNI, Isabella Bianchi. Desde o início de agosto, quase metade da pauta exportadora brasileira para os Estados Unidos está sujeita a uma tarifa de 50%.
No mesmo movimento, a expectativa de número de empregados recuou para 49,3 pontos, sinalizando que o setor não prevê aumento de postos de trabalho no horizonte de seis meses. A projeção de demanda também caiu, para 53,1 pontos, enquanto a expectativa de compras de insumos ficou em 52,1 pontos — ambos ainda acima da linha dos 50 pontos, sugerindo crescimento moderado.
A intenção de investimento recuou para 54,6 pontos em agosto, menor patamar desde outubro de 2023. O levantamento ouviu 1.500 empresas entre os dias 1º e 12 de agosto, abrangendo 601 pequenas, 518 médias e 381 grandes.
Impactos no mercado
A retração das expectativas industriais pode pressionar ativos ligados à produção e exportação, especialmente de empresas com maior exposição ao mercado norte-americano. O desaquecimento projetado para empregos e investimentos também tende a refletir em menor dinamismo econômico, o que pode impactar a bolsa de valores, títulos de renda fixa e a taxa de câmbio, diante da percepção de risco para a atividade brasileira.
No contexto atual, a notícia reforça os desafios para a indústria brasileira, em um momento em que a confiança já vinha oscilando. A pressão vinda da política comercial dos Estados Unidos adiciona incerteza ao cenário e amplia a cautela dos investidores, que seguem atentos ao desempenho da produção e às movimentações do câmbio.