Queda no lucro líquido para R$ 62,8 milhões foi impactada por efeito contábil e calendário de pagamento de proventos; expansão de R$ 1,1 bilhão reforça aposta da companhia no mercado de biocombustíveis.
A São Martinho S.A. (BOV:SMTO3) divulgou nesta terça-feira (12/08) o resultado do primeiro trimestre da safra 2025/26, com lucro líquido de R$ 62,83 milhões — queda de 40,9% em relação ao mesmo período da temporada anterior. O recuo foi atribuído à variação do valor justo do ativo biológico e ao impacto temporal do pagamento de Juros Sobre Capital Próprio, que neste ciclo ocorrerá no segundo trimestre.
Apesar do recuo no lucro, o Ebitda ajustado avançou 19,7% no comparativo anual, atingindo R$ 805,03 milhões, impulsionado por maiores preços e volumes comercializados de etanol, mesmo diante da queda nas vendas de açúcar. A receita líquida somou R$ 1,857 bilhão, alta de 12,2% sobre o ano anterior.
No campo operacional, a companhia processou 8,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, queda de 7,6%, reflexo do déficit hídrico registrado no início de 2025, que comprometeu a produtividade. A produção de etanol caiu 13,1%, enquanto o processamento de milho para o biocombustível subiu 11,6%.
O grande destaque foi o anúncio de um investimento de R$ 1,1 bilhão para a segunda fase do projeto de produção de etanol de milho em Quirinópolis (GO). A expansão adicionará capacidade para processar 635 mil toneladas de milho por ano, com previsão de produção de 270 milhões de litros de etanol, além de DDGS e óleo de milho. A operação plena está prevista para a safra 2029/30, com financiamento parcial via BNDES e Finep.
O presidente da São Martinho destacou que o projeto reforça a estratégia de diversificação e eficiência energética, aproveitando a proximidade com fornecedores e a integração logística.
A São Martinho é uma das maiores produtoras de açúcar e etanol do Brasil, com operações integradas que abrangem desde o cultivo da cana até a comercialização de biocombustíveis e energia elétrica. A empresa disputa mercado com nomes como Raízen (BOV:RAIZ4) e Biosev, além de atuar fortemente no segmento de etanol de milho.
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VISÃO DO MERCADO
As ações da São Martinho apresentam forte alta nesta terça-feira (12), impulsionadas pela reação positiva dos investidores aos resultados do segundo trimestre e ao anúncio de expansão do projeto de etanol de milho. Por volta das 12h55, os papéis subiam 3,20%, chegando a R$ 17,11.
O Itaú BBA avaliou que os resultados ficaram alinhados com as expectativas, com o EBITDA ajustado 3% acima do previsto. O destaque ficou por conta da segunda fase do projeto de etanol de milho, considerada positiva diante dos bons retornos das operações atuais e do perfil de longo prazo da dívida, captada em condições favoráveis.
Embora já esperada, a expansão pode gerar preocupações no mercado por elevar em R$ 440 milhões o Capex previsto para o ano, o que deve atrasar a geração de fluxo de caixa livre ajustado de dois dígitos que se esperava para 2025. O banco reforça que a decisão de adiar vendas de etanol foi acertada, mesmo com preços pressionados do açúcar, mas alerta que o maior volume de investimentos pode trazer dúvidas no curto prazo, pois os retornos podem demorar a aparecer.
O BTG Pactual destacou que, apesar da redução na produção, as vendas em equivalente ATR (Açúcar Total Recuperável) cresceram 13% na comparação anual, puxadas pelo etanol, que avançou 30%, compensando a queda de 4% nas vendas de açúcar. A receita subiu 13% ano a ano, superando em 4% as projeções, enquanto o EBITDA por ATR vendido atingiu R$ 957, alta de 6%. O etanol de milho apresentou margem de R$ 1,50 por litro.
Por outro lado, o lucro líquido caiu 41%, para R$ 63 milhões, impactado por despesas não caixa maiores. A alavancagem permanece confortável, com dívida líquida em 1,4 vez o EBITDA dos últimos 12 meses.
O banco ressaltou que a São Martinho está praticamente sem proteção (hedge) para o ciclo 2026/27, apostando na alta dos preços do açúcar. Também anunciou um aumento de 13% na capacidade total, com expansão de 270 mil m³/ano na produção de etanol de milho, investimento previsto em R$ 1,1 bilhão. O projeto tem taxa interna de retorno (TIR) estimada em 34% e payback menor que três anos, financiado com juros subsidiados.
Para o BTG, o projeto é altamente gerador de valor, mesmo com redução no fluxo de caixa livre no curto prazo, e mantém recomendação de compra, baseada no potencial de valorização do açúcar, no novo projeto e nos múltiplos atualmente atrativos.
A XP Investimentos comentou que o trimestre foi afetado por condições climáticas desfavoráveis, que reduziram moagem e mistura de açúcar, mas espera melhora em julho. A receita líquida cresceu 12% no ano, um pouco abaixo do esperado, enquanto o EBITDA ajustado superou as projeções. O lucro líquido em caixa ficou bem abaixo do estimado.
A companhia aumentou o guidance de investimentos, especialmente para o etanol de milho, visto como positivo a longo prazo, embora deva consumir caixa nos próximos dois anos. Diante do cenário atual dos preços do açúcar, a XP mantém recomendação neutra para as ações.