O Simpósio de Política Econômica de Jackson Hole, organizado pelo Federal Reserve Bank de Kansas City, é um dos encontros mais relevantes do mundo quando o assunto é política monetária. Em 2025, o evento acontece entre os dias 21 e 23 de agosto e deve direcionar as atenções globais para o mercado de trabalho, em um momento de expectativas intensas em torno das taxas de juros norte-americanas.
Criado em 1978 e realizado em Jackson Hole desde 1982, o encontro reúne anualmente cerca de 120 convidados selecionados, entre banqueiros centrais, representantes do Federal Reserve (Fed), acadêmicos, jornalistas, autoridades governamentais e líderes do setor financeiro. Apesar de restrito, o evento sempre ganha grande repercussão, já que os discursos podem alterar projeções sobre inflação, crescimento econômico e taxa de juros — elementos capazes de movimentar bolsas de valores, câmbio e até criptomoedas.
O tema escolhido para a edição de 2025 é “Labor Markets in Transition: Demographics, Productivity, and Macroeconomic Policy” (em tradução livre, “Mercados de trabalho em transição: demografia, produtividade e política macroeconômica”). A pauta reflete a preocupação dos formuladores de políticas econômicas com os efeitos do envelhecimento populacional, da automação e dos avanços tecnológicos sobre o emprego e a produtividade global.
Entre os momentos mais aguardados do evento está o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, marcado para sexta-feira (22/08), às 11h (horário de Brasília). Suas falas podem oferecer pistas decisivas sobre o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, esperado por investidores em todo o mundo. Atualmente, a taxa de juros norte-americana está entre 4,25% e 4,50%, mantida nesse patamar desde dezembro. Nesta terça-feira (19/08), os mercados atribuíram cerca de 85% de probabilidade para um corte de 25 pontos-base na próxima reunião, em setembro — chance que já esteve próxima de 100% e oscila a cada novo dado econômico.
Segundo Julio Ortiz, sócio-fundador da CX3, o impacto desse tipo de decisão vai muito além das fronteiras norte-americanas. “O mercado americano suga o dinheiro do resto do mundo ou alaga o mercado global com dinheiro. Quando a taxa de juros lá está alta, atrai dinheiro do mundo inteiro, e falta dinheiro em outros países”, explica. “Da mesma forma, quando as taxas caem por lá, o fluxo é inverso. E essa entrada e saída de capital tende a mexer com os preços dos ativos em todos os países.”
Para os investidores, a consequência é clara: um corte de juros pode fortalecer os mercados de ações, como S&P 500 (SPI:SP500), Nasdaq Composite (NASDAQI:COMPX) e Ibovespa (BOV:IBOV), além de reduzir a atratividade da renda fixa norte-americana, estimulando fluxos para ativos de maior risco, especialmente em países emergentes. Já uma frustração nas expectativas pode levar o capital de volta à segurança dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.
Em 2025, o dólar (CCOM:DXY) acumula queda de 10% frente às principais moedas, reflexo da expectativa de cortes de juros. Caso o Fed sinalize a confirmação desse movimento em Jackson Hole, o cenário pode reforçar ainda mais a valorização de ativos de risco nos próximos meses, ampliando o apetite global por investimentos.