O tão aguardado encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin no Alasca terminou sem anúncio de proposta concreta para encerrar a guerra na Ucrânia. Ainda assim, a cúpula deixou marcas importantes: reforçou a proximidade pessoal entre os dois líderes e deu a Putin algo que ele mais precisava neste momento – legitimidade internacional e tempo para aliviar a pressão de sanções e tarifas econômicas.

A chegada de Putin à Base Elmendorf-Richardson, em Anchorage, foi marcada por uma recepção calorosa, com aplausos e tapete vermelho. O gesto foi interpretado como sinal de prestígio por parte do governo americano, mesmo que ainda não oficializado por Washington. Em troca, Putin usou uma estratégia de bajulação explícita, explorando a vaidade de Trump, que saiu do encontro chamando a reunião de “produtiva”.

Um dos pontos centrais do discurso de Putin foi a repetição da tese que Trump sustenta desde 2022: a guerra na Ucrânia não teria começado se o republicano estivesse na Casa Branca. A fala foi destacada por analistas, como David Axelrod, da CNN, que classificou o comentário como “música para os ouvidos de Trump”. A sintonia discursiva chamou a atenção de observadores internacionais.

Trump, por sua vez, evitou compromissos objetivos. Em resposta a perguntas da imprensa, limitou-se a dizer que “não há acordo até que haja acordo”, enquanto Putin classificou a conversa como “um ponto de partida para a resolução do conflito”. Apesar da ausência de medidas práticas, ambos reforçaram a importância do diálogo e demonstraram disposição de continuar conversando.

O ex-presidente americano foi além e transferiu para o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a responsabilidade de buscar uma saída para a guerra. “Cabe agora ao presidente Zelensky fazer isso. A Rússia é uma potência muito grande e eles não são”, afirmou Trump em entrevista à Fox News. A declaração foi vista como sinal de que Washington pode pressionar Kiev a aceitar concessões territoriais.

Já Putin voltou a insistir que a Ucrânia é “uma nação irmã” e descreveu o conflito como “uma ferida terrível”. Reforçou, porém, que qualquer acordo de paz deve contemplar as “preocupações legítimas da Rússia” em relação à expansão da Otan no Leste Europeu. Fontes próximas ao Kremlin indicam que Moscou exige controle sobre o Donbass em troca de congelar o conflito nas atuais linhas de frente.

O clima da cúpula também chamou atenção. Antes da reunião, Trump e Putin trocaram cumprimentos efusivos, joinhas e até momentos descontraídos que viraram memes nas redes sociais, como as caretas do líder russo ao ser bombardeado por jornalistas. Apesar da gravidade do tema, a atmosfera foi bem mais leve do que a expectativa de tensão diplomática.

No balanço, analistas veem o encontro como vitória estratégica para Putin, que saiu legitimado após meses de isolamento e acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional. Para Trump, a reunião serviu para reforçar seu discurso de que pode encerrar a guerra rapidamente, além de alimentar sua narrativa eleitoral de que teria evitado o conflito caso estivesse no poder em 2022.