O Banco Central (BC) cortou de 2,1% para 2% sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2025, segundo o Relatório de Política Monetária divulgado nesta quinta-feira, 25. A revisão foi atribuída à expectativa de “continuidade da moderação da atividade econômica no segundo semestre”.
No relatório de junho, a autoridade monetária havia elevado a estimativa de 1,9% para 2,1%. Apesar do tom mais otimista, o documento já indicava sinais de desaceleração. Agora, o ajuste reflete um cenário marcado por maiores incertezas, incluindo o “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos sobre exportações brasileiras e os primeiros sinais de perda de fôlego da atividade no terceiro trimestre. “Esses fatores foram parcialmente compensados por prognósticos mais favoráveis para a agropecuária e para a indústria extrativa”, afirma o documento.
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A previsão do BC fica abaixo da expectativa oficial do governo. A Secretaria de Política Econômica, do Ministério da Fazenda, estima expansão de 2,5% neste ano, enquanto o mercado financeiro trabalha com avanço de 2,16%.
O PIB avançou 2,2% no segundo trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024, no menor ritmo de crescimento desde 2020, quando a pandemia provocou retração de 10,1%. Para 2026, o BC projeta crescimento de 1,5%, sustentado pela manutenção da taxa Selic em patamar elevado — atualmente em 15% ao ano, o maior nível desde 2006. “A projeção [para 2026] considera a manutenção da política monetária em campo restritivo, o baixo nível de ociosidade dos fatores de produção, a perspectiva de desaceleração da economia global e a ausência do impulso agropecuário observado em 2025.”
Setores
O destaque positivo ficou para a agropecuária, cuja estimativa de crescimento subiu de 8% para 9%, apoiada na previsão de safra recorde e aumento da produção de grãos, de 13,6% para 16,6% no acumulado do ano. A indústria, por sua vez, teve projeção revisada para baixo, de 1,9% para 1%, refletindo dificuldades em áreas como transformação, construção e energia. Apesar disso, a indústria extrativa deve ganhar força com a elevação da produção de petróleo.
No setor de serviços, a expectativa foi mantida em 1,8%, mas com perda de dinamismo em segmentos como administração pública, saúde e educação. “As alterações nos segmentos do setor terciário refletem as surpresas observadas nos resultados do segundo trimestre, bem como os primeiros sinais captados pelos indicadores mensais referentes ao terceiro trimestre.”
As projeções de consumo também foram revisadas para baixo. O crescimento dos gastos das famílias caiu de 2,1% para 1,8%, enquanto os do governo recuaram de 1,2% para 0,5%.
Inflação
A probabilidade de o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ultrapassar o teto da meta de 4,5% em 2025 subiu para 71%. A estimativa para a inflação oficial foi ajustada de 4,9% para 4,8%. “Entre os fatores que pressionaram a inflação para cima, destacam-se o dinamismo no mercado de trabalho, em contexto de hiato positivo, e o aumento da projeção de energia elétrica residencial, e, como fatores baixistas, destacam-se a redução das expectativas de inflação e a apreciação do real.”
A energia elétrica desponta como a principal vilã no curto prazo. O acionamento da bandeira vermelha Patamar 2, em função da piora do cenário hídrico e do baixo nível dos reservatórios, elevará as contas em R$ 7,87 a cada 100 kW/h consumidos.
Apesar do quadro desafiador, o BC projeta que a inflação volte ao intervalo da meta nos próximos anos, com o IPCA em 3,6% em 2026 e 3,1% em 2027, dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. A probabilidade de descumprimento do teto da meta cai para 26% em 2026 e 17% em 2027.
Impactos no mercado
A revisão para baixo no PIB e a manutenção da Selic em nível elevado devem pressionar a renda variável, uma vez que reduzem perspectivas de lucros corporativos e consumo. O câmbio pode sentir os efeitos da incerteza externa e do menor ritmo da economia, enquanto os títulos públicos tendem a manter prêmios mais altos diante da necessidade de compensar os riscos no cenário fiscal e inflacionário.
No contexto atual do mercado financeiro, a notícia reforça o ambiente de cautela entre investidores, especialmente diante das incertezas externas e da inflação persistente. Esse movimento tende a influenciar tanto a bolsa de valores quanto o câmbio, mantendo a volatilidade elevada no curto prazo.
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