O juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito registrou uma leve queda em outubro e trouxe novamente ao centro do debate o impacto do teto de 100% definido pelo Congresso. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, a taxa recuou de 443,7% ao ano em setembro (revisado) para 439,8% em outubro. O juro do parcelado também recuou marginalmente, passando de 178,3% para 178,0% no mesmo período. Já o juro total do cartão de crédito, que combina rotativo e parcelado, caiu de 90,3% (revisado) para 90,1%.

O Congresso determinou que os juros e encargos totais do rotativo e do parcelado não podem ultrapassar o equivalente a 100% do valor principal da dívida, regra em vigor desde janeiro de 2024. À primeira vista, as taxas anuais informadas pelo Banco Central podem sugerir que o setor financeiro está descumprindo o teto legal, mas a própria autoridade monetária esclareceu que se trata de uma questão metodológica e não de um descumprimento. Como explicou o BC, “o que acontece é apenas um registro estatístico”. Para calcular a taxa anual, o órgão simplesmente projeta para doze meses o juro efetivamente cobrado no mês – o que produz valores muito mais altos do que o que costuma ocorrer na vida real, já que a maioria dos consumidores permanece no rotativo por poucos dias ou semanas.

Apesar do ruído que esses números podem causar, o Banco Central afirmou que “não pretende descontinuar essa série histórica”, destacando que ela é fundamental para acompanhar a velocidade de aumento ou redução das taxas de juros e para compor a estatística que reflete o custo total do crédito no sistema financeiro.

Do ponto de vista dos mercados, a divulgação acaba funcionando como um termômetro indireto do ambiente de crédito, influenciando a percepção de risco, as expectativas sobre inadimplência e a inclinação da curva de juros. Em momentos de maior estresse, oscilações abruptas nessas séries contribuem para movimentos pontuais em câmbio, títulos públicos e setores sensíveis a crédito na bolsa de valores. Já em períodos de estabilidade, os investidores utilizam esses dados para calibrar projeções de política monetária e avaliar tendências de consumo.

No contexto financeiro atual, em que o debate sobre endividamento das famílias, inadimplência e trajetória dos juros segue sensível para investidores e agentes do mercado, a manutenção e o detalhamento dessas estatísticas pelo Banco Central reforçam a transparência do sistema e ajudam a orientar decisões de crédito, política monetária e expectativas dos participantes da economia.

(BC)

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