Queda na receita no Brasil e desafios de integração na Argentina e México pesaram no resultado; NATU3 cai mais de 15% no pregão desta terça-feira.

A Natura Cosméticos S.A. (BOV:NATU3) divulgou nesta terça-feira (11/11) seu balanço financeiro referente ao terceiro trimestre de 2025, reportando prejuízo líquido de R$ 1,926 bilhão, redução de 71,2% em relação aos R$ 6,694 bilhões negativos registrados no mesmo período de 2024. A empresa atribui o resultado às pressões sobre receita e rentabilidade, refletindo um trimestre marcado por desaceleração no mercado brasileiro e ajustes operacionais em mercados da América Latina.

O Ebitda recorrente somou R$ 577 milhões, queda de 33,7% na base anual. A margem Ebitda recuou para 11,1%, 350 pontos-base abaixo do observado um ano antes. Já a receita líquida totalizou R$ 5,194 bilhões, representando um recuo de 13,1% em reais e de 3,8% em moeda constante.

Segundo a companhia, a operação no Brasil apresentou desaceleração, enquanto Argentina e México enfrentaram pressões de integração e normalização pós-aquisição de ativos regionais. No trimestre, a margem bruta ficou em 67,2%, e as despesas com vendas, marketing e logística caíram 6,6%, chegando a 42,3% da receita líquida. A dívida líquida encerrou o período em R$ 4 bilhões, equivalente a 2,53 vezes o Ebitda.

As despesas gerais e administrativas (G&A) somaram R$ 515 milhões no trimestre, representando 16,0% da receita líquida comparada a 11,0% no 3T24.

As despesas com vendas, dada sua natureza mais variável, acompanharam a queda nas receitas e caíram 6,6% A/A, representando 42,3% da receita líquida comparada a 43,6 % no mesmo período do ano passado.

O fluxo de caixa livre das operações continuadas representou saída de caixa de R$ -101 milhões no 3T25, quando comparada à entrada de R$ +1.300 milhões no 3T24, deterioração de R$ -1.401 milhões A/A. Do ponto de vista do fluxo de caixa para a firma, a comparação A/A é bastante semelhante: o indicador somou R$ +11 milhões ao final do 3T25, contra R$ +1.256 milhões no ano anterior.

O resultado financeiro líquido do 3T25 foi de R$ -431 milhões, em comparação com R$ -170 milhões no 3T24. A piora de R$ -261 milhões A/A é explicada principalmente pela deterioração de R$ -246 milhões no resultado líquido das atividades financeiras

A relação dívida líquida/EBITDA ficou em 2,53x no 3T25, enquanto a dívida líquida foi de R$ 4,0 bilhões, praticamente estável em relação ao trimestre anterior. A redução de R$ -90 milhões no caixa e equivalentes em relação ao trimestre anterior reflete um fluxo de caixa estável para a firma e uma saída de caixa de R$ -93 milhões referente a juros sobre a dívida durante o trimestre.

O índice de alavancagem subiu 0,35x em relação ao trimestre anterior, como resultado da redução A/A de R$ -194 milhões no EBITDA do 3T25, impactando o EBITDA dos últimos 12 meses (LTM) na mesma magnitude. Por fim, vale mencionar que o 4T24, que influencia o EBITDA LTM, foi impactado por R$ -564 milhões de projetos estratégicos da Holding, relacionados principalmente ao Chapter 11 da API. Excluindo esse efeito, a relação dívida líquida/EBITDA no 3T25 seria de 1,87x.

No pregão desta terça-feira, o mercado reagiu de forma negativa. As ações NATU3 operam a R$ 7,81 (-15,11%), após abrirem a R$ 8,04, com mínima em R$ 7,48 e máxima também em R$ 8,04 até o momento. Investidores interpretam o resultado como sinal de que a curva de recuperação da companhia ainda deve levar tempo.

A Natura (NATU3) é uma das principais empresas de cosméticos e beleza da América Latina, com atuação no varejo, venda direta e e-commerce. No setor, concorre com gigantes como Grupo Boticário, Avon, Jequiti e players internacionais de beleza.

Para o investidor, o momento exige acompanhamento atento da execução das estratégias de consolidação e reestruturação.

VISÃO DO MERCADO

As ações da Natura (NATU3) registravam forte queda nesta terça-feira (11), após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2025. Por volta das 11h55 (horário de Brasília), os papéis recuavam 15%, sendo negociados a R$ 7,82.

Segundo a XP, o desempenho da companhia no 3T25 foi considerado fraco. A corretora aponta que o ritmo de crescimento desacelerou em meio a um ambiente macroeconômico difícil e aos efeitos da chamada Onda 2, o que acabou pressionando a alavancagem operacional.

Na análise da casa, o trimestre foi desafiador para todas as linhas de negócio. As operações no Brasil e Argentina sofreram com o contexto econômico, enquanto a integração operacional em mercados como México e Argentina — parte da Onda 2 —, somada ao impacto do câmbio, trouxe pressão adicional para as operações hispânicas.

O Itaú BBA também avaliou o resultado como negativo. Para o banco, a Natura ficou aquém das já baixas expectativas de mercado e deve enfrentar novas revisões para baixo nas projeções. A combinação entre menor consumo no Brasil e os entraves na implementação da Onda 2 resultou em queda das receitas e compressão relevante das margens.

No trimestre, o Ebitda ajustado somou R$ 577 milhões — retração de 34% na comparação anual e 10% abaixo da estimativa do BBA — com margem 3,5 pontos percentuais menor. A empresa reportou prejuízo de R$ 119 milhões, enquanto o mercado esperava lucro de R$ 168 milhões. A geração de caixa seguiu fraca, com queima de R$ 47 milhões de fluxo de caixa livre.

Para o Itaú BBA, mesmo com expectativas já contidas, a deterioração nas receitas e margens superou o esperado, o que pode reduzir ainda mais a confiança do mercado e retardar uma recuperação dos papéis. O banco prevê revisões negativas no consenso atual, estimado em lucro de cerca de R$ 1,4 bilhão.

O BBA destacou ainda que a venda da Avon International para o fundo Regent, prevista para o primeiro trimestre de 2026, ajuda a reduzir riscos estruturais ao retirar uma operação deficitária. No entanto, a conclusão ainda envolve incertezas. Caso haja atraso, a companhia pode precisar de suporte adicional de liquidez, embora o banco não considere esse cenário como base.

A geração de caixa permanece como ponto sensível. Excluindo recompra de ações, houve consumo de R$ 47 milhões no trimestre. A dívida líquida encerrou o período em R$ 4 bilhões, com alavancagem de 2,9 vezes o Ebitda dos últimos 12 meses — número impactado pelo desempenho fraco no 4T24. A expectativa do BBA é que esse índice recuo para entre 1,2 e 1,3 vez até o final de 2025.

O JPMorgan também apontou fraqueza operacional. Para o banco, o trimestre refletiu uma combinação de fatores negativos: economia desaquecida no Brasil, crédito mais restrito, interrupções operacionais que pressionaram a receita e consequente desalavancagem, enquanto as despesas gerais e administrativas seguiram elevadas.
“A alavancagem aumentou no trimestre, atingindo mais de 3 vezes a relação dívida líquida/Ebitda, o que limita a capacidade da companhia de realizar distribuições de caixa adicionais, especialmente diante da geração de caixa praticamente estagnada”, afirmou o JPMorgan.

Já o Goldman Sachs observou que os números fracos refletem vendas estagnadas da marca Natura no Brasil, retração nas unidades da Avon no país e na América Latina, além de efeitos da Onda 2 na Argentina e da consolidação de plantas no Brasil.

  • Perspectivas

A XP projeta que o ambiente desafiador continue no quarto trimestre, embora possa haver leve melhora à medida que a Onda 2 avance no México e Argentina e a empresa intensifique medidas de eficiência. “Além disso, não foi necessário novo aporte de caixa para financiar a Avon Internacional, o que pode aliviar preocupações de investidores com esse ativo”, destacam os analistas.

Para o BBI, contudo, o 4T25 não deve representar um ponto de inflexão no crescimento. Do lado da rentabilidade, a Natura reafirmou a projeção de expansão da margem Ebitda em 2025. Como a margem acumulada entre janeiro e setembro está apenas 0,30 ponto percentual abaixo do ano anterior, em 13,4%, e a base comparável do 4º trimestre é mais fraca (9,6%), a melhora pode ocorrer sem grandes dificuldades.

Em relação aos custos de transformação, o BBI calcula que, caso a meta de até R$ 483 milhões seja cumprida, será necessário investir até R$ 160 milhões no 4T25 — com encerramento dos aportes a partir do 1T26.

O Morgan Stanley avalia que, apesar do discurso otimista da gestão sobre controle de despesas, o impacto das pressões no Brasil somado aos efeitos da Onda 2 resultou em um trimestre bastante desafiador.

  • Potencial das ações

Para o Itaú BBA, o potencial de valorização dos papéis permanece limitado até que a Natura demonstre melhora consistente na geração de caixa e avance em seus marcos estratégicos. A combinação de incertezas de curto prazo e um ambiente operacional difícil deve continuar pesando sobre o desempenho das ações. Ainda assim, o banco reiterou recomendação equivalente à compra e preço-alvo de R$ 13. O BBI também manteve recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 17.

Já o Goldman Sachs e o JPMorgan optaram por manter recomendação neutra, com preços-alvo de R$ 13 e R$ 10,50, respectivamente.