O mês de novembro trouxe novos desdobramentos na complexa negociação comercial entre Brasil e Estados Unidos. Após um degelo inicial no final de outubro, as conversas avançaram com um encontro entre o chanceler Mauro Vieira e sua contraparte norte-americana na quinta-feira (13/11). No entanto, nenhuma medida concreta foi anunciada, deixando o setor exportador em um cenário de espera e apreensão. Enquanto isso, os Estados Unidos seguem fechando acordos com uma lista crescente de nações, incluindo parceiros importantes do Brasil como Argentina e União Europeia, o que aumenta a pressão por uma resolução rápida.

Um alívio pontual veio na sexta-feira (14/11), quando o governo norte-americano concedeu isenção das tarifas recíprocas de 10% para 238 produtos agrícolas. Apesar disso, a notícia não é tão positiva quanto parece. Conforme análise da Confederação Nacional da Indústria, apenas três produtos – sucos de laranja e castanha do Pará – terão suas tarifas totalmente normalizadas. Para itens cruciais como café e carne bovina, a tarifa extra de 10% foi removida, mas o “tarifaço” de 40% anunciado em julho permanece intacto, mantendo esses produtos em grande desvantagem competitiva.

A edição de outubro do ICOMEX já apontava os efeitos dessas barreiras. Os dados confirmam uma queda abrupta de 24,9% no valor das exportações brasileiras para os Estados Unidos no acumulado de agosto a outubro, comparado ao mesmo período de 2024. Enquanto isso, as exportações totais do país surpreenderam, registrando um crescimento de 6,4% no mesmo período. Este movimento evidencia uma estratégia de diversificação, onde setores afetados encontraram refúgio em outros mercados globais, compensando parcialmente as perdas com o vizinho do norte.

A balança comercial de outubro refletiu essa dinâmica. O superávit foi de US$ 7,0 bilhões, um valor robusto, porém o acumulado do ano até outubro mostra um recuo de US$ 10,4 bilhões. O grande vilão desse desempenho foi o déficit com os Estados Unidos, que explodiu de US$ 1,4 bilhão para US$ 6,8 bilhões. Isso aconteceu porque, na era do tarifaço, as exportações para os EUA caem e as importações de lá aumentam. Em outubro, o volume exportado para os norte-americanos despencou 35,9%, enquanto as compras de produtos dos EUA subiram 7,5%.

Possíveis impactos nos mercados de ações, câmbio e títulos:

A notícia mistura alertas e resiliência, com efeitos distintos para o mercado. A piora no saldo comercial, impulsionada pelo déficit com os EUA, pode exercer pressão de desvalorização sobre o Paridade Dólar Americano e Real Brasileiro (FX:USDBRL) no curto prazo, devido à expectativa de menor entrada de dólares. Para a bolsa de valores, setores exportadores diretamente impactados pelas tarifas, como proteína animal e café, podem ver seu desempenho no Ibovespa (BMF:INDFUT) condicionado aos rumores das negociações. Por outro lado, setores que conseguiram diversificar suas vendas, como o de óleo bruto e minério de ferro, podem apresentar maior robustez. O cenário mantém os investidores atentos aos juros, com o contrato futuro de juros (BMF:DI1FUT) sensível a qualquer sinal que ameace a estabilidade fiscal e cambial do país.

Relevância no contexto atual do mercado financeiro:

Em um momento de tensões geopolíticas e reorganização de cadeias globais, a notícia serve como um termômetro crucial para a saúde da economia real. A capacidade do Brasil de redirecionar suas exportações, embora positiva no curto prazo, não substitui a importância estratégica do mercado norte-americano. A demora em fechar um acordo satisfatório pode corroer, de forma estrutural, a competitividade de setores inteiros e afetar o fluxo de investimentos estrangeiros diretos. O desempenho futuro de ativos brasileiros está intrinsecamente ligado à habilidade diplomática de desarmar esta guerra comercial.

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