O Ibovespa encerrou a quarta-feira (3) em mais um topo histórico. O Ibovespa subiu 0,41% e fechou aos 161.755,18 pontos, maior patamar de encerramento da série. No intradia, marcou nova máxima recorde em 161.963,49 pontos, após oscilar entre a mínima de 161.092,81 pontos. O volume financeiro somou R$ 25,90 bilhões.

A bolsa continuou a encontrar combustível para renovar máximas, em meio ao dólar em queda, commodities firmes, dividendos generosos e sinais de arrefecimento da inflação global, apesar de um ambiente político ruidoso e a debates intensos sobre o arcabouço fiscal.

Rali recente e desempenho acumulado

Mesmo com alguma perda de fôlego ao longo da sessão, o índice caminha firme em tendência de alta. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 1,68%, mesma variação de dezembro até agora. No quarto trimestre de 2025, a alta já chega a 9,97%. No ano, o avanço atinge 33,35%, consolidando um bull market robusto.

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Dólar recua com Fed e apetite por risco

No câmbio, o dólar teve mais um dia de enfraquecimento. Após testar níveis abaixo de R$ 5,30 no início da tarde, a moeda norte-americana fechou em queda de 0,31%, cotada a R$ 5,3136 na venda. No acumulado de 2025, a divisa já cede 14,01% frente ao real, em linha com o maior apetite global por ativos de risco.

ADP e apostas em corte de juros nos EUA

O gatilho para o humor positivo lá fora veio do mercado de trabalho norte-americano. O relatório da ADP apontou perda de 32 mil vagas no setor privado em novembro, após revisão para alta de 47 mil empregos em outubro. A desaceleração reforçou as apostas de novo corte de juros pelo Federal Reserve na reunião da próxima semana, sustentando bolsas e emergentes.

Wall Street em alta e suporte ao Brasil

Em Nova York, o dia terminou em tom positivo, ajudando a performance da B3. O Dow Jones avançou 0,86%, o S&P 500 ganhou 0,30% e o Nasdaq subiu 0,17%. Após um início mais cauteloso, em meio a ruídos pontuais com gigantes de tecnologia, prevaleceu a leitura de que um mercado de trabalho mais fraco aumenta a probabilidade de flexibilização monetária.

Selic no radar após indústria fraca

No front doméstico, a discussão sobre o início do ciclo de cortes da Selic voltou a ganhar força. A produção industrial brasileira cresceu apenas 0,1% em outubro na comparação com setembro, bem abaixo da expectativa de alta de 0,4%. A fraqueza da atividade em ambiente ainda incerto reacendeu as apostas de que o Banco Central pode reduzir os juros já em janeiro, movimento antecipado na curva de juros futuros.

Serviços reagem e PMI volta acima de 50

Apesar da indústria fraca, o setor de serviços mostrou recuperação. O PMI de serviços da S&P Global subiu de 47,7 em outubro para 50,1 em novembro, voltando à zona de expansão após sete meses de contração e registrando o maior nível em oito meses. O PMI Composto também melhorou, de 48,2 para 49,6, sinalizando um “pouso suave” da atividade, ainda que com crescimento moderado.

Cop30, emprego e custos no setor de serviços

Parte dos prestadores de serviços atribuiu a melhora nas vendas à realização da COP30 em Belém e a esforços de marketing bem-sucedidos. O emprego no setor cresceu pelo terceiro mês seguido, embora de forma limitada pelas restrições de custos e falta de mão de obra qualificada. Ao mesmo tempo, o índice de Produção Futura atingiu o maior nível em seis meses, com maior confiança para 2026.

Vale, Petrobras e a força das commodities

Entre as blue chips, o destaque ficou com as ações de commodities. A Vale ON (BOV:VALE3) avançou 3,37%, negociando 38,3 milhões de papéis e figurando entre os maiores volumes do pregão. A Petrobras PN (BOV:PETR4) subiu 0,97%, a R$ 32,38, amparada na alta do petróleo, mesmo em meio ao ruído jurídico sobre licenças ambientais na Bacia de Santos.

No mercado internacional, o WTI para janeiro avançou 0,52%, a US$ 58,95 o barril, enquanto o Brent para fevereiro subiu 0,35%, a US$ 62,67. A persistência da guerra entre Rússia e Ucrânia, sem sinais concretos de acordo de paz e com sanções mantidas contra o petróleo russo, sustenta os preços. O aumento de 600 mil barris nos estoques dos EUA limitou, porém, uma escalada mais forte.

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A agenda ambiental também pesou sobre o noticiário corporativo. O Ministério Público Federal entrou com duas ações civis públicas para anular a licença ambiental concedida em setembro à Petrobras para a Etapa 4 do pré-sal na Bacia de Santos. O MPF alega falta de transparência, celeridade excessiva do Ibama — com autorização em apenas 11 dias — e ausência de consulta prévia a comunidades tradicionais, como pescadores artesanais, quilombolas e indígenas, como determina a Convenção 169 da OIT. A Petrobras afirma que cumpriu integralmente a legislação ambiental e defende o projeto como essencial para a segurança energética do país.

As ações que mais se movimentaram hoje

O saldo do pregão foi levemente favorável ao comprador, com 182 altas (cerca de 43%) contra 157 quedas (aproximadamente 37%) e 82 ações estáveis (perto de 19%). O quadro se concentrou em apostas de commodities, consumo e cases de recuperação.

Nas maiores altas, o destaque absoluto foi a Vale. A lista traz ainda movimentos expressivos em nomes como Karsten (BOV:CTKA3), +17,65%, Unipar (BOV:UNIP3), +11,60% e Marfrig (BOV:MBRF3Q), +10,09%, também de papéis ligados a varejo e agronegócio, como Grendene (BOV:GRND3), Magalu BOV:(MGLU3) e 3Tentos (BOV:TTEN3).

Na ponta negativa, o ranking expõe um dia duro para segmentos de real estate, energia e logística. São Carlos (BOV:SCAR3) despencou 43,31% e Brava Energia (BOV:BRAV3Q) caiu 42,33%, enquanto nomes como General Shopping (BOV:GSHP3), Sequoia (BOV:SEQL3), Log-In (BOV:LOGN3), Tenda (BOV:TEND3) e Fleury (BOV:FLRY3) registraram perdas entre 5% e 10%.

Em termos de liquidez, o dinheiro continuou girando majoritariamente em blue chips. Bradesco (BOV:BBDC4) liderou o volume, seguido por Vale, Petrobras, Itaúsa (BOV:ITSA4), Itaú Unibanco (BOV:ITUB4), Banco do Brasil (BOV:BBAS3), Cosan (BOV:CSAN3), Magalu, CVC (BOV:CVCB3) e utilities como Cemig (BOV:CMIG4) e Raízen (BOV:RAIZ4). A presença também contou com PRIO (BOV:PRIO3), Gerdau (BOV:GGBR4), BTG (BOV:BPAC11) e Axia (BOV:AXIA3).

Exportações de proteína e impulso para Marfrig

O setor de proteína animal também entrou no radar. A ABPA projeta exportações brasileiras de carne de frango de até 5,32 milhões de toneladas em 2025, acima das 5,295 milhões embarcadas em 2024, com produção prevista em 15,3 milhões de toneladas. Para carne suína, as exportações podem chegar a 1,49 milhão de toneladas em 2025 e 1,55 milhão em 2026. As ações da Marfrig (BOV:MBRF3) fecharam com um salto de 2,39% hoje sustentadas pela perspectiva de maior demanda externa.

Brasil ganha espaço com gripe aviária e peste suína

Os números da ABPA mostram que o Brasil superou embargos após um caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul, com países como a China retirando restrições em novembro. No mercado de suínos, o surto de peste suína africana em javalis perto de Barcelona levou ao bloqueio de cerca de um terço dos certificados de exportação da Espanha. Para a entidade, o Brasil pode se tornar já em 2025 o terceiro maior exportador mundial de carne suína.

Dividendos recordes e disparada da Unipar

Entre os cases micro, a Unipar Carbocloro voltou a ser protagonista. A companhia anunciou R$ 700 milhões em dividendos, o equivalente a R$ 6,48 por ação PN classe B e R$ 5,89 por ON, com yield de 10,8%. Somados aos R$ 650 milhões declarados em março e agosto, os proventos de 2025 chegam a R$ 1,35 bilhão, um retorno de 20,8% sobre os preços atuais. As ações Unipar (BOV:UNIP3) saltaram 11,62%, enquanto Unipar (BOV:UNIP5) avançou 17,59% e Unipar (BOV:UNIP6) subiu 7,95%, apesar da XP alertar para alavancagem próxima de 1,6 vez Dívida Líquida/Ebitda após o pagamento.

Bancos dividem o protagonismo

A quarta-feira foi mista entre os bancos. O Bradesco PN (BOV:BBDC4) caiu 2,76%, liderando o volume financeiro da sessão, com 58,5 milhões de ações negociadas, em dia de correção após forte rali recente. Banco do Brasil (BOV:BBAS3) recuou 0,94%, enquanto Itaú Unibanco (BOV:ITUB4) oscilou perto da estabilidade, com leve alta de 0,09%. O BTG Pactual (BOV:BPAC11) subiu 1,74%, a R$ 56,14, em sessão de forte giro.

Biomm oscila com rumores e desmentido do BTG

No universo de saúde e biotecnologia, a Biomm (BOV:BIOM3) viveu um pregão volátil. As ações chegaram a subir mais de 8%, negociadas a R$ 7,69, após reportagem citar suposto interesse de André Esteves em comprar a participação do Banco Master na farmacêutica, hoje próxima de 26%. Ao fim do dia, os papéis fecharam em alta de 4,37%, a R$ 7,40, depois de o BTG Pactual negar veementemente qualquer plano de aquisição.

BDRX e IFIX mostram ajustes de carteiras

Nos índices setoriais, o BDRX, que reúne recibos de empresas estrangeiras listados na B3, avançou 0,06%, aos 25.059,11 pontos, acompanhando o bom humor com ações globais. O IFIX, referência dos fundos imobiliários, recuou 0,03%, aos 3.667,19 pontos, sugerindo realização seletiva em ativos de renda, em um momento em que o mercado já começa a precificar cortes de juros domésticos para 2025.

Fiscal, TCU e arcabouço no centro do debate

O pano de fundo político-fiscal seguiu sensível: O Tribunal de Contas da União decidiu que o governo não é obrigado a perseguir o centro da meta fiscal ao contingenciar despesas neste ano, após o Congresso autorizar, na LDO, a mira no piso da meta em 2025. Na prática, a meta de déficit zero admite resultado negativo de até R$ 31 bilhões, equivalente a -0,25% do PIB. Ministros do TCU, porém, alertaram para riscos à sustentabilidade da dívida e à credibilidade do arcabouço caso o governo se acomode no limite inferior.

Crime organizado, crédito consignado e proteção ao sistema financeiro

No campo institucional, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que a embaixada dos EUA pediu acesso a documentos sobre operações recentes contra o crime organizado, após conversa entre Lula e Donald Trump. O governo investiga esquemas de lavagem de dinheiro via empresas abertas, fintechs e casas de apostas. Ao mesmo tempo, o subprocurador Lucas Furtado pediu que o TCU apure irregularidades no crédito consignado, especialmente na modalidade de cartão consignado, que, segundo ele, passou de ferramenta de inclusão financeira a mecanismo de superendividamento de populações vulneráveis.

BC Protege+ reforça combate a fraudes

Na agenda de segurança financeira, o Banco Central divulgou os primeiros números do BC Protege+. Em dois dias, a ferramenta bloqueou 1.630 tentativas de abertura de contas fraudulentas, com 145,5 mil pessoas ativando a proteção e 1,9 milhão de consultas feitas por instituições financeiras. O serviço, ativado via conta gov.br, funciona como um “cadeado” contra aberturas indevidas, buscando reduzir golpes de identidade e fortalecer a confiança no sistema bancário.

Política, STF e clima institucional

No front político, a tensão entre Poderes voltou ao foco. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, criticou duramente a decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes que restringe à Procuradoria-Geral da República a iniciativa de pedidos de impeachment contra ministros do STF e eleva o quórum para abertura e julgamento para dois terços do Senado. Para Alcolumbre, a medida usurpa prerrogativas do Legislativo e revisita uma lei aprovada pelo Congresso e sancionada pelo Executivo, alimentando o debate sobre equilíbrio institucional.

Bolsonaro, Judiciário e percepção de risco

Também no campo jurídico, a execução da pena do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e três meses de prisão pela trama golpista, acrescentou “pano pra manga”. A Vara de Execuções Penais fixou o término da pena para 4 de novembro de 2052, com previsão de progressão ao semiaberto em abril de 2033 e possibilidade de livramento condicional em março de 2037. O caso mantém elevada a temperatura política com a proximidade das eleição de 2026.

Comércio exterior, Trump e tarifas sobre o Brasil

Nas relações internacionais, Donald Trump disse ter tido “ótima conversa” com Lula, mencionando sanções ligadas ao Judiciário brasileiro e à condenação de Bolsonaro, além da pauta comercial. O governo brasileiro busca avançar na remoção da sobretaxa adicional de 40% sobre parte das exportações nacionais, que ainda atinge 22% das vendas aos EUA, depois de sucessivas exclusões de produtos agrícolas. A redução gradual dessas barreiras é vista como fator relevante para setores industriais de maior valor agregado, com dificuldades para redirecionar suas exportações.

IoT, telecom e economia digital

No Congresso, o Senado aprovou o PL 4.635/2024, que prorroga até 2030 benefícios tributários sobre taxas de fiscalização e contribuições incidentes sobre estações de telecomunicações, especialmente em aplicações de internet das coisas e satélites de pequeno porte. Estudos apontam que o incentivo respondeu por cerca de 43,75% da demanda por dispositivos IoT entre 2021 e 2025 e pode levar o número de equipamentos a 60,5 milhões em 2030, com arrecadação adicional estimada em R$ 1,35 bilhão.

Perspectivas

A combinação de serviços em recuperação, indústria ainda fraca, juros elevados e eleições no horizonte indica um 2026 de maior seletividade, mas, por ora, o apetite por risco segue vivo, ancorado na expectativa de cortes coordenados de juros no Brasil e nos Estados Unidos.

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