Eletrobras vê resistência política maior à privatização por subsidiárias, diz fonte
23 Abril 2019 - 4:38PM
ADVFN News
A eventual adoção de um modelo alternativo para os planos do
governo brasileiro de desestatizar a gigante elétrica
Eletrobras (BOV:ELET6) poderia prejudicar o
processo, ao atrair resistência política muito maior para a
proposta, disse à Reuters uma fonte familiarizada com a estratégia
da estatal.
O Ministério de Minas e Energia tem afirmado que pretende levar
adiante uma capitalização da companhia por meio da emissão de novas
ações, o que reduziria a fatia do governo na empresa a uma fatia
minoritária.
Mas o Ministério da Economia do presidente Jair Bolsonaro,
comandado por Paulo Guedes, um liberal entusiasta de privatizações,
tem avaliado modelos alternativos, que eventualmente poderiam
passar pela capitalização ou venda em separado de subsidiárias da
estatal.
Em meio a essas interações, a cúpula da Eletrobras tem defendido
o prosseguimento do projeto de capitalização, nascido ainda na
gestão do ex-presidente Michel Temer, com uma visão de que
privatizar subsidiárias emblemáticas como Furnas e Chesf poderia
ser uma tarefa “praticamente impossível” do ponto de vista
político.
“Por subsidiárias é mais difícil, com certeza”, afirmou a fonte,
que acompanha as conversas sobre a privatização e falou sob a
condição de anonimato devido à sensibilidade do tema.
A Chesf, que atua principalmente no Nordeste, foi criada por
decreto em 1945, no governo Getúlio Vargas, quase dez anos antes do
surgimento da proposta que levaria ao nascimento da própria
Eletrobras, criada formalmente apenas em 1961.
Furnas nasceu em 1957 e tem ativos concentrados no Sudeste e
centro-sul.
Repetir história?
Furnas é justamente a empresa onde travaram os planos do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) para a privatização
em partes da Eletrobras nos anos 90, lembrou a fonte.
Na época, FHC conduzia um grande programa de desestatização no
setor elétrico, mas a resistência política e corporativa travou o
avanço do movimento dentro da Eletrobras –foram desestatizados
apenas ativos de geração da Eletrosul, a chamada “Gerasul”, no
final de 1998.
Já a oposição a uma privatização da Chesf poderia facilmente
mobilizar a bancada do Nordeste no Congresso, apontou a fonte,
lembrando que os nove Estados da região somam 27 votos no Senado,
ou um terço do total.
As dúvidas sobre a viabilidade política da venda em separado de
subsidiárias da Eletrobras ganham ainda mais importância porque
Furnas e Chesf são as empresas mais lucrativas da estatal e as que
administram seus mais valiosos ativos, com um enorme parque de
hidrelétricas.
A Chesf é a maior geradora do Brasil, com mais de 10 gigawatts
em capacidade instalada própria, além de fatias em empreendimentos
com sócios, enquanto Furnas é a segunda na lista, com 9,44
gigawatts próprios, sem contar participações. Ambas ainda operam
enormes sistemas de transmissão.
Dentre as outras principais controladas da Eletrobras, a
Eletronorte tem 9 gigawatts em capacidade própria de geração, dos
quais 8,37 gigawatts são de um único ativo, a hidrelétrica de
Tucuruí, enquanto a Eletrosul tem 1,73 gigawatt em usinas.
Já as subsidiárias da estatal que administram usinas nucleares
–Eletronuclear– e a usina binacional de Itaipu não devem ser
envolvidas nos planos de privatização.
O Ministério de Minas e Energia tem afirmado que um projeto
final para a desestatização da Eletrobras deverá ser apresentado
até junho, envolvendo a modelagem.
A pasta também tem insistido que o processo não será uma
“privatização”, embora admita que o governo deve perder o controle
da elétrica estatal após a capitalização atualmente planejada, que
poderia arrecadar cerca de 12 bilhões de reais para o Tesouro.
Em paralelo, a informação de que o Ministério da Economia
estaria aberto a outras possibilidades para a Eletrobras gerou
comentários positivos de alguns especialistas preocupados com os
efeitos da privatização da companhia como um todo sobre a
concorrência no mercado de energia, conforme publicado pela Reuters
no início do mês.
A Eletrobras controla cerca de um terço da geração e metade da
transmissão de energia no Brasil, com uma capacidade instalada de
49,8 gigawatts, sem considerar suas fatias em Itaipu e nas usinas
nucleares de Angra.
A francesa Engie Brasil Energia, líder privada em geração no
país –que venceu a disputa pela privatização da Gerasul em 1998–
fechou o ano passado com usinas que somam 8,1 gigawatt.
Com Reuters
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