Barsi se manifesta contra oferta da Eneva para fusão com AES Tietê: “Passarinho prestes a ser devorado”
17 Abril 2020 - 10:06AM
ADVFN News
Em carta, Luiz Barsi Filho, acionista
minoritário da AES Tietê (BOV:TIET11), posicionou-se contra a
proposta de fusão da companhia de energia com a Eneva
(BOV:ENEV3).
Investidor citou 3 motivos por ser contra: Política de
dividendos incerta, concentração da Eneva em matriz poluente e
momento ruim para venda são apontados como razões para recusar
oferta
No começo de março, a Eneva enviou à geradora AES Tietê
(BOV:TIET3) (BOV:TIET4) uma proposta de combinação de negócios que
resultaria na criação de uma “gigante no setor de geração” no
Brasil, prevendo o pagamento em ações da própria Eneva mais R$ 2,7
bilhões em dinheiro aos acionistas da AES Tietê. Essa foi
considerada uma proposta hostil pela direção.
Barsi comparou a Eneva a um jacaré de boca aberta à espera da
presa perfeita. “A Aes Tietê é o passarinho prestes a ser devorado
e a Eneva, o exímio predador”, apontou. Justificando a sua posição,
ele elencou três motivos principais: falta de uma política de
dividendos na Eneva; matriz energética concentrada em energias
poluentes e o momento pouco propício do mercado para o
vendedor.
Um dos maiores investidores individuais da bolsa brasileira,
Barsi afirmou que se tratam de duas corporações de fato
complementares em seus negócios, mas essencialmente diferentes na
postura em relação aos seus sócios. Assim, uma combinação
entre as duas traria incerteza sobre o pagamento de dividendos.
Sobre a AES Tietê, Barsi aponta que, apesar de lutar para que a
companhia formalizasse uma política de distribuição de lucros, sua
prática sempre foi clara.
“Enfim, até então dormia tranquilo, sabendo que tenho em meu
portfólio uma empresa lucrativa há anos. O mesmo não posso dizer
sobre a Eneva, que apesar de seu turnaround louvável, nunca
remunerou seus acionistas”, ressaltou, destacando o fato de que a
Eneva era antes da MPX, de Eike Batista.
“A omissão de qualquer compromisso sobre a distribuição de
dividendos desta possível nova gigante do setor de geração fala por
si só e, para mim, foi suficiente para concluir que ela não teria
lugar cativo na minha carteira. Este é o compromisso pelo qual luto
por anos junto a outros minoritários e que não mais poderia
pleitear, afinal seria violentamente diluído na nova composição
acionária. Diante do exposto, reflito: afinal, quem mais se
beneficiaria desta situação? O acionista parceiro ou o que deseja
sair desta sociedade? O segundo, claro. O BNDES é o maior
interessado na efetividade da proposta, quando enfim encontraria a
liquidez necessária para se desfazer deste investimento”, afirmou o
investidor.
Ele ainda apontou diferenças com relação à matriz energética.
Barsi apontou que a AES Tietê tem vários desafios, sendo o
principal gargalo a necessidade de diversificação da matriz
energética e vem mirando principalmente no crescimento em ativos
renováveis, eólico e solar, um mercado competitivo, mas alinhado
com a tendência irreversível da descarbonização.
“Viés contrário ao da Eneva, que atende a mais de 10% da
capacidade térmica no Brasil. Entendo a
sua importância para o país, mas não me interesso em investir em um
modal poluente”, apontou.
O investidor reforçar que os investidores estão cada vez mais
atentos às práticas de ESG nas empresas, sigla que significa
Environmental, Social and Governance (meio ambiente, social e
governança). “Essas 3 letras estão mudando o jeito que o mundo
investe e reflete uma mudança de comportamento. Seria inteligente
conflitarmos com essa tendência?”
O argumento final usado por Barsi é o sobre o momento atual, de
forte queda do mercado acionário, considerado por ele “excelente
para quem pode comprar e o pior possível para quem precisa vender”.
Contudo, reforçou que a AES Tietê não estava à venda. “Por que,
então, a pressa repentina de vender ativos lucrativos e que assim
permanecerão por pelo menos 10 anos? É inteligente fazermos
negócios quando todos os outros estão interessados em
sobreviver?”
Assim, apontou, ao analisar a proposta hostil, foi convencido de
que um processo de fusão e aquisição de fato seria uma excelente
saída para a Tietê, mas que não seria com a Eneva.
“Ela não é a única empresa no setor cuja fusão faria sentido. Já
imaginaram uma combinação de negócios com a Engie, ou CESP?”,
questiona.
“Em qualquer outro cenário, com uma ponta sequer de otimismo,
poderíamos pensar em procurar parceiros mais interessantes. Isso
geraria propostas melhores para os acionistas, que poderiam optar
pela combinação com a empresa que oferecesse as melhores condições,
a exemplo do que houve com a Eletropaulo em 2018.”