A Boeing anunciou neste sábado (25) que
encerrou o Contrato de Transações Mestre (Master Transaction
Agreement-MTA) com a Embraer para compra da
operação de aviação comercial da empresa brasileira – um negócio de
5,2 bilhões de dólares. As partes planejavam criar uma joint
venture composta pelo negócio de aviação comercial da Embraer e uma
segunda joint venture para desenvolver novos mercados para a
aeronave de transporte aéreo médio e mobilidade C-390
Millenium.
A decisão veio “após a Embraer (BOV:EMBR3) não ter atendido as
condições necessárias”, de acordo com comunicado da Boeing
(BOV:BOEI34).
Analistas mundo afora apontam que a pandemia do coronavírus e o
consequente impacto sobre as companhias aéreas foi a pá de cal para
a operação. Trata-se da segunda grande crise para a Boeing em dois
anos.
Para o acordo, celebrado em julho de 2018 e mais tarde revisado,
havia sido estabelecido que a Boeing pagaria 4,2 bilhões à Embraer,
ou o equivalente a 80% do total dos ativos, e os 20% restantes
seriam a participação minoritária mantida pela companhia
brasileira. Além disso, haveria a formação de uma joint-venture
para produção do avião de uso militar KC-390.
Na prática, o que estava acordado era a compra dos principais
negócios da Embraer pela Boeing, com a manutenção de uma fatia
minoritária do negócio resultante pela empresa brasileira. Sem o
negócio, a Embraer “volta” a ser uma fabricante brasileira de
aviões.
Em janeiro deste ano, como parte desse esforço, a Embraer
anunciou a conclusão da separação, em uma nova empresa, das
atividades de aviação comercial – para que pudesse ser absorvida
pela Boeing. Um esforço nada pequeno que será desperdiçado.
Sabia-se que era parte importante das condições.
Desde fevereiro do ano passado, os acionistas da Embraer
deixaram o negócio pré-aprovado, no aguardo das condições
precedentes para ser executado plenamente. A assembleia que avaliou
o assunto contou com presença de 67% do capital e aval de 97% dos
participantes. O governo brasileiro, dono de uma golden-share (uma
ação com super-poder de veto, chamada de ação de ação de ouro) na
Embraer, também já havia dado a benção ao acordo.
Com a crise do 737 Max e os efeitos da pandemia de coronavírus,
a Boeing enfrenta sérios problemas financeiros e houve rumores de
uma possível falência. Já a Embraer registrou prejuízo líquido de
R$ 1,3 bilhão em 2019 e está com produção paralisada em meio à
crise – com tudo isso, ficou desvalorizada frente ao preço que a
Boeing pretendia pagar.
A parceria proposta entre a Boeing e a Embraer havia recebido
aprovação incondicional de todas as autoridades regulatórias,
exceto a Comissão Europeia.
O dia 24 de abril de 2020, última sexta-feira, era a data limite
inicial para rescisão, passível de extensão por qualquer uma das
partes caso algumas condições fossem cumpridas. A Boeing exerceu
seu direito na data.
“A Boeing trabalhou diligentemente nos últimos dois anos para
concluir a transação com a Embraer. Há vários meses temos mantido
negociações produtivas a respeito de condições do contrato que não
foram atendidas, mas em última instância, essas negociações não
foram bem-sucedidas. O objetivo de todos nós era resolver as
pendências até a data de rescisão inicial, o que não aconteceu”,
disse Marc Allen, presidente da Boeing para a parceria com a
Embraer e operações do Grupo, em nota. “É uma decepção profunda.
Entretanto, chegamos a um ponto em que continuar negociando dentro
do escopo do acordo não irá solucionar as questões pendentes”.
Na sexta-feira, diante da expectativa de fim da transação, os
papéis das duas companhias despencaram em seus respectivos
mercados. As ações da Boeing caíram quase 6,5% e as ordinárias da
Embraer, na B3, registraram perda superior a 10,5%.
Mesmo com todos os desafios, o tamanho das companhias continua
incomparável. A Boeing encerrou a sexta-feira avaliada na Bolsa de
Nova York (Nyse) em 72,6 bilhões de dólares, enquanto a Embraer
fechou o dia em 1 bilhão de dólares, conforme a cotação dos recibos
americanos de ações (ADRs). O valor em bolsa, portanto, está muito
abaixo dos preços usados para o acordo.
A Boeing e a Embraer irão manter o contrato vigente relativo à
comercialização e manutenção conjunta da aeronave militar C-390
Millenium assinado em 2012 e ampliado em 2016.
Embraer diz que acordo da Boeing ‘terminou indevidamente’
A fabricante brasileira de aeronaves Embraer disse neste
sábado que a Boeing “rescindiu indevidamente” o acordo de US $
4,2 bilhões, no momento em que as duas empresas enfrentam um
mercado sombrio para jatos comerciais em meio à pandemia de
coronavírus.“É profundamente decepcionante. Mas chegamos a um ponto
em que a negociação contínua no âmbito do contrato de transação de
fusão não resolveria os problemas pendentes ”, disse Marc Allen,
presidente da Parceria e Operações do Grupo Embraer, em comunicado
à Boeing no sábado.Mas a Embraer disse que o acordo foi “rescindido
indevidamente” e prometeu buscar todos os recursos contra a Boeing
pelos danos sofridos.“A Embraer acredita que está em total
conformidade com suas obrigações previstas no acordo e que cumpriu
todas as condições necessárias previstas até 24 de abril de
2020. A empresa buscará todas as medidas cabíveis contra a
Boeing pelos danos sofridos como resultado do cancelamento indevido
e da violação do acordo.”
A Boeing é obrigada a pagar US $ 100 milhões se as aprovações
antitruste do negócio não forem garantidas, de acordo com um
registro da empresa, mas uma porta-voz da Boeing disse que a
empresa não acredita que a taxa de rescisão se aplique neste
caso.
A Boeing “fabricou alegações falsas como pretexto para evitar
seus compromissos de fechar a transação e pagar à Embraer o preço
de compra de US$ 4,2 bilhões”, disse a Embraer.
“A empresa acredita que a Boeing adotou um padrão
sistemático de atraso e violações repetidas ao acordo devido à
falta de vontade em concluir a transação, à sua condição
financeira, aos problemas com o 737 MAX e outros problemas
comerciais e de reputação”, diz a Embraer no comunicado.
O acordo, que daria à Boeing o controle sobre o braço comercial
da Embraer, tinha como objetivo ajudar a Boeing a se fortalecer
ainda mais no setor aeroespacial comercial para competir melhor com
a rival européia Airbus.
O colapso do acordo entre a Boeing e a Embraer ocorre quando a
indústria aeroespacial está em crise por causa do coronavírus.
Milhares de jatos em todo o mundo estão aterrados, pois a demanda
por viagens aéreas secou nas ordens de pandemia e de abrigo no
local que visam impedir que a propagação se espalhe. A crise
colocou as companhias aéreas em situação financeira instável,
destruindo a demanda por novos jatos e acelerando as aposentadorias
de aviões antigos.
“Quando ninguém está voando e jatos estão no chão, é difícil
atribuir vencedores e perdedores” no colapso do acordo, disse
Richard Aboulafia, vice-presidente de análise do Teal Group.
A Boeing anunciou os termos do acordo em julho de 2018, o que
daria à Boeing o controle do braço aeroespacial comercial da
Embraer, que fabrica aviões de passageiros menores que os da
Boeing.
Muita coisa mudou para a Boeing desde que as negociações foram
divulgadas pela primeira vez no final de 2017. Dois de seus aviões
737 Max, seu principal avião, caíram, um na Indonésia em outubro de
2018 e outro na Etiópia em 2019, matando todas as 346 pessoas nos
dois voos.
Esses jatos estão suspensos desde março de 2019 e os
cancelamentos estão se acumulando, prometendo um ano doloroso para
a empresa sediada em Chicago.
Espera-se que a Boeing forneça mais detalhes sobre o acordo e
planos adicionais para cortar custos quando divulgar os resultados
do primeiro trimestre antes da abertura do mercado na quarta-feira
(29).
EMBRAER ON (BOV:EMBR3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
EMBRAER ON (BOV:EMBR3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024