Acionista controladora da AES Tietê pediu mais tempo à B3 para
explicar desistência de fusão mas análise do Itaú BBA diz que a
fusão ainda não está descartada.
Na semana passada, a Eneva havia decidido encerrar as tratativas
em torno da proposta de combinação de negócios que levaria à
criação de uma gigante do setor elétrico. A decisão ocorreu após a
AES Tietê, depois de rejeitar a fusão por unanimidade afirmar que,
mesmo que venha submeter a proposta à deliberação de seus
acionistas, não reconhecerá o direito a voto dos detentores de
ações preferenciais.
A elétrica Eneva (BOV:ENEV3) segue interessada em uma fusão com
a rival AES Tietê (BOV:TIET11), mesmo após ter tido rejeitada uma
proposta inicial, e o conselho de administração da empresa deverá
discutir nos próximos dias a possibilidade de uma nova oferta,
disse à Reuters nesta terça-feira uma fonte próxima às
discussões.
A Eneva propôs em 1° de maio pagar 6,6 bilhões de reais aos
acionistas da AES Tietê pela combinação dos negócios das empresas,
sendo 2,75 milhões de reais em dinheiro e o restante em ações.
Mas o conselho de administração da AES Tietê rejeitou a
transação, ao alegar que a oferta subavaliou a empresa e que o
negócio não se encaixaria em sua estratégia de focar em renováveis
e em descarbonização.
Além disso, a norte-americana AES divulgou carta em que disse
entender que a fusão não poderia ir adiante sem seu aval, como
controladora da empresa, defendendo que acionistas sem direito a
voto não poderiam decidir sobre o destino da companhia em eventual
assembleia para deliberar sobre a proposta da Eneva.
A Eneva disse então que não seguiria com negociações devido ao
“provável embate acerca dos direitos dos acionistas”, mas uma
manifestação da bolsa paulista B3 sobre a polêmica deverá garantir
base jurídica para levar as conversas adiantes, segundo a
fonte.
A B3 disse em ofício na segunda-feira que todos acionistas de
empresas listadas no Nível 2 de governança da bolsa, como a AES
Tietê, podem votar “de maneira equitativa” em assembleias sobre
propostas de incorporação, fusão ou cisão.
“Agora (com o posicionamento da B3) uma briga judicial se torna
menos provável, então o interesse se acentua. Há interesse (da
Eneva) em colocar uma oferta nova”, disse a fonte, sob a condição
de anonimato devido à sensibilidade do tema.
Após o posicionamento da B3, a AES voltou a se manifestar,
acusando a bolsa de “inteferir” nas negociações e pedindo prazo de
30 dias para apresentar seus argumentos em relação à oferta hostil
da Eneva.
Uma resposta da B3 confirmando seu entendimento sobre os
direitos a voto e uma eventual manifestação da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) sobre o tema devem garantir as bases necessárias
para que a Eneva discuta com seu conselho uma nova proposta, ainda
segundo a fonte.
“Se serão os mesmos termos, se paga mais, se envolve mais ações,
mais caixa, para isso deve haver resposta nos próximos dias”,
afirmou.
A AES controla a AES Tietê com 61,6% das ações ordinárias, mas
possui apenas 24,35% do capital social da companhia, o que dá
importância aos votos de acionistas minoritários.
O braço de participações do banco estatal BNDES, BNDESPar, deve
ter papel-chave na definição do negócio, uma vez que detém 28,4% da
empresa desde a renegociação de dívidas da AES nos anos 2000. O
banco tem 37,5% das ações preferenciais e 14,4% das ordinárias.
Já a Eneva tem como principais sócios o banco BTG Pactual e a
Cambuhy Investimentos, do banqueiro Pedro Moreira Salles, com
22,95% cada.
Nos termos da proposta da Eneva, caso aprovada a fusão com a AES
Tietê, a empresa resultante da combinação de ativos teria como
principais acionistas Cambuhy e BTG, com 17,8% cada, enquanto a AES
teria 5,5%. O BNDESPar teria 6,4%.
Análise do Itaú BBA não descarta fusão
Itaú BBA apontou que, para empresas listadas no Nível 2 da
B3, detentores de ações preferenciais teriam direito a voto em
assembleias sobre assuntos como incorporações e mudança de
controle. Já a AES havia apontado que o foro apropriado para
discutir o assunto seria a Câmara de Arbitragem do Mercado, e que o
regulamento do Nível 2 diz que apenas o diretor-presidente da B3
teria competência para esclarecer casos omissos e situações não
previstas pelas regras. Após o parecer, a AES informou em fato
relevante que o ofício divulgado pela B3 “interferiu diretamente´´
no caso.
Assim, em meio a todo impasse, o analista Marcelo Sá, do Itaú
BBA, não acredita que a negociação entre ambas as empresas está
morta.
Na visão do analista, a declaração de B3 é positiva para o
negócio, pois aumenta as chances de aprovação em uma potencial
reunião de acionistas, e ele acredita que a Eneva aguardará uma
declaração da CVM antes de enviar outra proposta.
Isso porque, aponta, a Eneva não deseja entrar em uma longa
batalha legal por direitos de voto e, portanto, só poderá avançar
se a CVM concordar com a avaliação de B3.
ENEVA ON (BOV:ENEV3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
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