Para Roberto Fulcherberguer, presidente da
varejista Via Varejo, quem terá sucesso no
varejo depois da pandemia do novo coronavírus é quem conseguir
conciliar tecnologia e atendimento humano.
A Via Varejo (BOV:VVAR3), dona das marcas Casas Bahia e Ponto
Frio,
chegou a fechar suas 1.070 lojas físicas e, logo no início da
crise, perdeu 70% do faturamento. “Fechar loja e parar de faturar é
algo surreal para qualquer varejista”, afirmou o executivo.
A solução foi apostar no comércio
eletrônico. Com 20.000 vendedores em casa, a companhia
criou um novo formato de vendas pela internet, a venda assistida
por vendedores. Cerca de 7.500 colaboradores já estão trabalhando
dessa forma e representam 20% das vendas pela internet – o
faturamento online da empresa hoje é cerca de 70% do total, ante
30% antes da crise. “Achamos um pote de ouro na crise”, afirma o
executivo em relação a esse modelo de vendas.
Segundo ele, o modelo é um híbrido entre as vendas nas lojas e
as feitas pela internet. “O Brasil que não é Faria Lima ainda
tem muita dificuldade de lidar com a venda online. Criamos uma
solução de venda online assistida em quatro dias, que nunca mais
vai sair do ar”, diz Fulcherberguer. “Vamos ajudar o cliente a ser
mais online.”
As ações da Via Varejo chegaram a atingir alta de 35,27% na
semana, considerando a cotação máxima da manhã desta
terça-feira, 28, de 8,63 reais.
Sucesso dos aplicativos
A venda assistida deve ser mantida mesmo depois da abertura de
lojas. O movimento nas lojas não costuma ser forte o tempo inteiro
e há momentos em que vendedores ficam ociosos. A ideia é usar um
aplicativo de venda assistida para continuar comercializando pela
internet e aumentar a produtividade por vendedor.
O aplicativo usado pelos funcionários também deve servir para
verificar o histórico de compras dos consumidores e recomendar
novos produtos, diz o executivo. Com a ajuda de um sistema com mais
de 85 milhões de clientes cadastrados, o vendedor recebe ofertas
personalizadas para cada cliente.
Mais do que criar aplicativos para os vendedores,
a varejista está impulsionando o uso dos
aplicativos pelos consumidores. “Assumimos a empresa com 1,5 milhão
de usuários ativos nos aplicativos, finalizamos o ano com 6,5
milhões e estamos agora com 10 milhões de usuários ativos”, afirma
Fulcherberguer.
Retomada
A Via Varejo já reabriu 200 lojas, cerca de 20%, em municípios
menores nos quais já houve permissão para a retomada do
comércio.
De acordo com o executivo, o consumo nessas 200 lojas está
semelhante ao que era antes da pandemia do novo coronavírus.
“Temos sim maior desemprego e uma confiança menor, mas também
vemos o governo federal irrigando consumidores com uma renda que
não estava prevista”, diz.
De acordo com o executivo, o plano da varejista é usar o momento
de crise para implantar soluções que a ajudem ganhar mercado sobre
os concorrentes, como as vendas digitais e o fortalecimento da
logística. “Tudo isso que estamos fazendo pode ajudar muito a Via
Varejo a ter um forte aumento de share, na retomada do mercado”,
afirma.
Na segunda-feira, 27,
anunciou a aquisição da startup curitibana ASAPlog,
especializada em soluções de logística urbana e conexão de
transportadoras em etapas de longas distâncias. Com a aquisição, a
empresa acelerou em 15 meses o seu plano na área de logística, de
acordo com o executivo, que conta com mais de 1 milhão de metros
quadrados de centros de distribuição.
A Via Varejo usa cerca de 120 lojas como pequenos estoques e
centros de distribuição. Ainda esse ano, a empresa busca chegar a
180 mini hubs, além de dar suporte logístico aos vendedores do seu
marketplace. “Fazemos duas entregas por segundo e, por isso, nossas
tabelas de frete são muito mais vantajosas”, diz
Fulcherberguer.
Mudança no controle e na liderança
As transformações digitais devem ser lideradas por um conselho
reestruturado, diz Fulcherberguer. Há cerca de uma semana,
o empresário Michael Klein decidiu
deixar o cargo de presidente do conselho de administração da
Via Varejo. O motivo da decisão não foi informado, mas Klein
afirmou que a mudança já era esperada e fez menção à crise
ocasionada pela pandemia do novo coronavírus.
Klein, filho do fundador da Via Varejo Samuel Klein, é o maior
acionista da companhia desde que comprou a participação do Grupo
Pão de Açúcar em junho do ano passado.
Segundo Fulcherberger, que também deve deixar o conselho de
administração para se dedicar apenas à presidência, o objetivo é
preparar um conselho de administração voltado aos novos desafios da
varejista.
Desde a venda do GPA e a mudança no controle, a varejista buscou
se fortalecer ao reformar lojas, recontratar vendedores e
desenvolvendo uma infraestrutura de tecnologia mais
firme. Agora, a companhia se prepara para uma nova fase de
transformação, diz o presidente. Klein indicou o seu filho,
Raphael, para tomar seu lugar no conselho.
As ações da companhia acompanharam as mudanças recentes e haviam
se valorizado de 4,12 reais há um ano para 16,64 no pico, em
fevereiro deste ano. Há cerca de um mês, no dia 22 de março,
a companhia fechou mais de 1.000 lojas temporariamente,
juntando-se a outras empresas do setor. Com isso, as ações
voltaram a cair. Hoje, o valor é de 8,55 reais, alta de 13,34% no
dia.
Em 2019, a empresa atingiu volume de vendas total de 31,2
bilhões de reais, praticamente estável em relação ao ano anterior.
O prejuízo líquido foi de 1,4 bilhão de reais, ante prejuízo de 291
milhões de reais no ano anterior.
Grupo Casas Bahia ON (BOV:BHIA3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
Grupo Casas Bahia ON (BOV:BHIA3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024