O grupo varejista GPA, dono do Pão de Açúcar (BOV:PCAR3),
informou nesta quarta-feira que seu conselho de administração
aprovou operações para vender três lojas da Sendas , no valor de
avaliação de cerca de 183,1 milhões de reais.
A venda será feita na modalidade “sale lease back”, em que a
empresa ocupante vende o imóvel e continua no local, pagando
aluguel à nova proprietária.
Em maio, a varejista fechou a venda de cinco imóveis — quatros
lojas da bandeira Assaí e uma da bandeira Pão de Açúcar — para a
TRX Gestora de Recursos por R$ 190,5 milhões. Em março, o GPA
anunciou o repasse de outros 43 imóveis por R$ 1,24 bilhão para
fundos de investimento administrados pela BRL Trust Distribuidora e
geridos pela TRX Gestora de Recursos.
Expansão James Delivery
Outra notícia divulgado pelo grupo,
de acordo com o site Neofeed foi a expansão do James
Delivery, rival de Rappi e iFood.
Nos últimos anos, uma cena se tornou comum nos centros urbanos
do País. Com marcas como Rappi e iFood estampadas nos
boxes presos às costas, milhares de motoqueiros percorrem ruas e
avenidas diariamente e entregam quase de tudo. De comida a remédios
a produtos de pet shops e documentos.
A pandemia deixou ainda mais em evidência esse setor da
economia, adicionando outras categorias a esses pacotes. A mais
recente delas foram as entregas de supermercados, que ganharam
fôlego com a Covid-19. E uma das empresas que está se aproveitando
dessa crise para crescer é o James Delivery, comprada
pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA) em 2018. As ações do grupo
são negociadas na B3 através do papel (BOV:PCAR3).
“Somos uma empresa online dentro de um grupo tradicional. E os
únicos do setor que não são players puros de tecnologia”, diz Lucas
Ceschin, cofundador e CEO do James Delivery. “Não precisamos ser o
maior app. Mas essa integração com o Pão de Açúcar nos permite ser
o maior no varejo alimentar.”
Na esteira da pandemia, o Pão de Açúcar acelerou os planos de
expansão do James Delivery de 18 para 25 cidades do País.
Estruturado nas primeiras semanas da crise, o novo mapa incluiu
municípios como São Caetano do Sul, São Vicente e Barueri, no
estado de São Paulo, e Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco.
Hoje, o serviço está ativo em 134 lojas do grupo.
O coronavírus está também no centro da interação com a foodtech
Cheftime, outra startup do GPA. O grupo antecipou o lançamento do
Restaurante Cheftime, projeto de delivery de refeições prontas, com
dark kitchens conectadas ao James Delivery. O serviço está
disponível em São Paulo, São Caetano do Sul, no ABC paulista, e no
Rio de Janeiro e em Niterói (RJ).
Neste período, o James Delivery, que atende ainda verticais como
restaurantes e o varejo em geral, também identificou um aumento de
200% nas adesões de novos estabelecimentos, com a participação de
categorias nas quais ainda tinha pouca presença, como lojas de
shoppings, padarias e pet shops.
Nesse universo, a categoria de maior crescimento foi a de
farmácias. O segmento, que já contava com as drogarias do próprio
grupo varejista, ganhou tração a partir de uma parceria do GPA com
a Raia Dorgasil (RD), no fim de 2019, que resultou na criação
da Stix Fidelidade. A operação reúne mais de 55 milhões de clientes
dos programas de fidelidade das duas companhias.
O acordo abriu caminho para a inclusão das unidades da RD, que
tem mais de 2,1 mil lojas no País, no serviço do James Delivery.
Hoje, já são 175 drogarias em todas as cidades que a startup está
presente.
Outra ação foi o lançamento do James Prime, serviço de
assinatura que oferece fretes grátis e descontos nas entregas. Para
impulsionar a adesão, a startup isentou a taxa mensal de R$ 19,90
para as pessoas pertencentes ao grupo de risco da Covid-19.
Embora não revele números, Ceschin disse que todas essas ações
trouxeram maior recorrência nas compras e ampliaram o perfil do
público atendido, antes mais concentrado nas faixas etárias de 20 a
40 anos.
“Agora, temos muitos usuários acima de 60 anos”, diz Ceschin. “A
pandemia fez esse tipo de serviço chegar
ao mainstream. Em duas semanas, chegamos a metas que
levaríamos, no mínimo, cinco anos para alcançar.”
A crise fez ainda com que muitos usuários experimentassem os
serviços de delivery. Segundo um estudo da Ebit Nielsen, 31% dos
clientes que fizeram compras digitais em supermercados entre 17 de
março e 27 de abril, usaram esse expediente pela primeira vez.
O avanço da categoria se refletiu na operação da James Delivery.
Em março, o aplicativo registrou mais de 80% de crescimento no
número de downloads, chegando a uma base de 2,5 milhões de
usuários.
No período, houve um salto superior a 3.000% no volume bruto de
mercadorias e de 225% no tíquete médio das compras na vertical de
varejo. O número de pedidos cresceu 862%.
Acesso total
No plano para atrair mais usuários para o serviço, Ceschin
destaca que o maior benefício de estar sob o guarda-chuva do GPA é
ter o acesso total aos estoques e demais informações das lojas do
grupo. A rede, por sua vez, tem em mãos os dados coletados pelo
aplicativo, como frequência e comportamentos de compra.
Essa combinação permite que o James Delivery contorne uma
questão que já domina as entregas de outras categorias e que
promete influenciar também as encomendas no varejo alimentar.
“O segmento vai ficar commoditizado e restrito à disputa de
preços nas taxas de entrega”, diz Ceschin. “Em vez de brigar por
margem, nosso plano é focar na experiência do consumidor.”
Nessa direção, depois de integrar essas duas bases, a parceria
começa a reforçar o investimento em sugestões mais personalizadas
para atrair e reter usuários.
“Podemos conhecer melhor o cliente, entender o que ele busca e
indicar, inclusive, outras categorias”, afirma o CEO do James
Delivery. “E não se trata necessariamente de fazê-lo comprar mais.
Mas sim, dele comprar o que realmente quer.”
Para Ceschin, esse foco ganha ainda mais destaque diante de uma
tendência que pode afetar outros apps rivais. “Com o
efeito WeWork, os investidores estão mais céticos sobre o
modelo de aquisição de clientes a qualquer custo”, diz. “Focar na
fidelização do cliente vai ser cada vez mais uma questão central no
discurso.”
Competição acirrada
Nessa corrida aos supermercados, o James Delivery tem cada vez
mais companhia. O interesse crescente dos aplicativos nesse espaço
vem sendo alimentado pelo fato de o segmento trazer recorrência,
palavra que soa como música aos ouvidos de qualquer operação ligada
ao e-commerce.
No exterior, um exemplo dessa atenção é a
americana Instacart, que já captou US$ 2,1 bilhões com
investidores como Sequoia Capital. O aporte mais recente, de US$
225 milhões, veio na semana passada e foi liderado pelos fundos DST
Global e General Catalyst, avaliando a empresa em US$ 13,7
bilhões.
No Brasil, a Rappi é uma das pioneiras e mantém um acordo com
o Carrefour. O iFood também entrou nessa disputa e criou
há um ano o iFood Mercado. O serviço já está presente em 80 cidades
do País, com mais de 400 estabelecimentos, em sua maioria mercados
de bairros e redes independentes.
Em janeiro, a B2W também ingressou nesse espaço, ao
adquirir a Supermercado Now. Já a
chilena Cornershop chegou ao País no fim de 2019, depois
de a Uber comprar o seu controle. E tem em sua base redes
como o Big (ex-Walmart) e o Carrefour.
Para fontes ouvidas pelo NeoFeed, o compartilhamento de
dados, uma questão crítica nessa relação entre aplicativos e
estabelecimentos, é um ponto positivo para o James Delivery e o GPA
nesse cenário de aumento da concorrência.
Esse é um dos motivos que explicam a decisão do grupo investir
na compra do aplicativo, em dezembro de 2018. Até então, o GPA
mantinha uma parceria com a Rappi.
“O GPA entendeu que estava alimentando o inimigo e criando um
monstro”, diz Walter Sabini Jr., sócio-fundador do grupo de
investimentos Hi Partners Capital. “Esses aplicativos guardam
informações estratégicas das transações.”
Sócio da consultoria Varese, Alberto Serrentino reforça esse
diferencial. “Nesse mercado, nenhum dos lados têm uma visão única
da jornada do cliente”, diz. “GPA e James terão uma alavanca brutal
de crescimento se trabalharem essas informações em conjunto.”
Ele cita ainda que a parceria com a RD pode dar ainda mais massa
crítica a esse volume. E ressalta o pioneirismo digital do GPA, sua
multiplicidade de formatos e capilaridade como outras vantagens
para o aplicativo. Mas também enxerga problemas na parceria.
“Os outros competidores estão sendo mais agressivos na ideia de
se consolidarem como superapps”, diz Serrentino. “Como está
ancorada no GPA, o James demanda menos caixa para escalar, mas, por
outro lado, seu portfólio é mais estreito e sua curva de
crescimento é menor.”
Sabini Jr. segue a mesma linha. “O fato de estar embaixo de um
único grupo pode restringir muito, mesmo pensando apenas no varejo
alimentar”, afirma. “Ser agnóstico é um fator crucial nesse
modelo.”
Além dos rivais já mais estabelecidos, os dois analistas
acrescentam que essa batalha das gôndolas deve ficar ainda mais
acirrada com a entrada recente do Mercado Livre e
do Magazine Luiza nesse nicho.
“E, no médio prazo, não dá para desprezar a Amazon, que já
colocou esse negócio como um de seus focos nos Estados Unidos”, diz
Serrentino. “E que, em algum momento, pode desembarcar fortemente
com essa oferta também no Brasil.”
PÃO DE AÇUCAR ON (BOV:PCAR3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Fev 2024 até Mar 2024
PÃO DE AÇUCAR ON (BOV:PCAR3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2023 até Mar 2024