Smiles decide adiantar R$ 1,2 bi à Gol e desagrada minoritários
07 Julho 2020 - 10:30AM
ADVFN News
A Smiles (BOV:SMLS3) fechou um acordo de
adiantamento à Gol (BOV:GOLL4) de R$ 1,2 bilhão,
que será usado nos próximos três anos para compra de passagens de
emissão da GLA, controlada da Gol. A Smiles estima um ganho de R$
85 milhões com o acordo. A operação, no entanto, é questionada por
acionistas minoritários da Smiles, que consideram o acordo ilegal.
Para especialistas em governança, a transação tem uma relação entre
risco e retorno desfavorável para a Smiles.
O acordo, o 15º fechado pela Smiles desde que a empresa abriu
seu capital em 2013, foi aprovado por unanimidade pelo conselho de
administração da Smiles e pelo comitê independente. A Smiles fará o
adiantamento em uma única parcela. Em contrapartida, a Gol vai
oferecer à Smiles um desconto médio de 11% nos preços das passagens
adquiridas no resto deste ano. E, até 30 de junho de 2023, a Gol
vai garantir a venda de um percentual de passagens com tarifas
promocionais à Smiles. O saldo do adiantamento que não for usado na
compra de passagens será remunerado a uma taxa equivalente a 115%
do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) – em torno de 3,5%
ao ano, segundo a Gol.
As empresas também vão desenvolver produtos para fortalecer a
geração de receita da Smiles.
O valor do acordo equivale ao saldo de caixa da Smiles no fim de
março e se soma a um crédito de R$ 1,183 bilhão que a empresa já
tinha para compra futura de passagens da Gol.
“É todo o caixa da Smiles, que será transferido para a Gol em
uma compra antecipada de passagens. A Gol tem 52% da Smiles e usa
esse controle em benefício próprio”, afirmou Márcio Louzada
Carpena, do escritório Carpena Advogados. O advogado representa os
fundos de investimento Samba Theta, CSHG Suprassumo e Centauro
I.
Esses acionistas, donos de 4,03% das ações ordinárias da Smiles,
notificaram a Gol e a Smiles, pedindo uma assembleia geral para
discutir “irregularidades e ilegalidades” na antecipação da compra
de passagens aéreas. A empresa tem oito dias para realizar a
assembleia. Caso contrário, os minoritários podem acionar as
empresas na Justiça. Os acionistas estudam pedir uma liminar para
impedir que o acordo de ontem se concretize.
Os minoritários alegam que ao fazer adiantamentos para a Gol em
março no total de R$ 425 milhões, a Smiles violou seu estatuto, que
prevê aprovação dessas operações pelo conselho e pelo comitê
independente. Os acionistas também afirmam que a taxa praticada é
bem inferior à que a Gol obteria se buscasse crédito no
mercado.
Um advogado ouvido pelo Valor, que não quis ser
identificado, considerou o valor da operação muito alto e a taxa
muito baixa, levando em conta o potencial risco de recuperação
judicial da Gol. “A Smiles continua sendo usada como caixa da Gol
nos momentos de dificuldade”, disse.
“A relação de risco e retorno do investimento é assimétrica. A
prova disso é que as ações da Smiles estão abaixo do valor do caixa
que ela tem”, afirmou um especialista em governança corporativa,
que também pediu anonimato.
André Fehlauer, presidente da Smiles, disse que todas as
operações de adiantamento para a Gol seguiram à risca o estatuto da
Smiles e que não vê risco do negócio ser barrado. Sobre a alegação
dos minoritários que o adiantamento feito em março teria que ser
aprovado pelo comitê independente, Fehlauer disse o aval do comitê
só é exigido quando o valor da compra supera a média dos 12 meses
anteriores, o que não ocorreu.
Fehlauer disse ainda que a operação não vai zerar o caixa da
empresa. “A Smiles gerou mais de R$ 300 milhões de caixa no segundo
trimestre e vai continuar gerando caixa nos próximos meses. Além
disso, somos uma empresa muito enxuta, com um custo fixo médio de
R$ 30 milhões por mês”, disse o executivo.
Eduardo Bernardes, vice-presidente comercial e de marketing da
Gol, disse que o acordo deve ajudar a estimular as vendas de
passagens aéreas. Historicamente, a Smiles responde por 10% a 12%
das vendas de passagens da Gol mas, durante a pandemia de covid-19,
a maioria das passagens foram obtidas com o resgate de milhas. “Com
o acordo, a perspectiva é que mais clientes usem milhas acumuladas
para adquirir mais passagens”, afirmou Bernardes.
A Gol ampliou a oferta em julho de 100 para até 250 voos por
dia. Em junho, a Gol apresentou aumento de 95,4% na demanda por
voos em comparação com maio. Bernardes acrescentou que a companhia
espera que o governo federal publique nos próximos dias o edital
para compra antecipada de passagens aéreas. O governo avalia
comprar antecipadamente 12 meses de passagens aéreas. “No caso da
Gol, as vendas para o governo no ano passado chegaram a R$ 100
milhões”, disse Bernardes.