Atualmente, entre ações e derivativos, Molina tem 47% do capital
total da Marfrig, descontadas as ações em tesouraria. Já a família
Vilela de Queiroz, da Minerva, conduz o negócio com cerca de 20% do
capital — apoiada por um acordo de acionistas com o fundo saudita
Salic, dono de 25% da empresa. Economicamente, portanto, não é
difícil entender que Molina seria prevalente como acionista de
referência.
A união das companhias é aventada há tempos e houve até quem
sonhasse em juntar Marfrig, Minerva e BRF num só negócio.
Contudo, a execução sempre foi um desafio e o tempo só fez a
rivalidade entre os empresários aumentar. O clima é quase como
Sadia e Perdigão, que só se uniram para formar a BRF quando a
primeira estava à beira de um colapso financeiro devido à crise dos
derivativos cambiais em 2008.
Consultadas, ambas negam com veemência qualquer possibilidade de
acordo e a existência de discussões. No entanto, a reportagem teve
acesso a informações que confirmam o namoro pré-pandemia. E há quem
acredite que esse diálogo possa esquentar ainda no segundo semestre
deste ano.
As condições atuais, porém, parecem menos favoráveis do que as
do começo de 2020. Um dos principais fatores que abriam espaço para
a transação ocorrer era a pressão financeira que existia sobra a
família Vilela de Queiroz, pois a holding VDQ emitiu 350 milhões de
reais em debêntures, em outubro de 2018, para acompanhar o aumento
de capital privado de 1,1 bilhão de reais anunciado pela empresa
naquele ano. A dívida vence em 2023. Quem comprou as ações naquela
capitalização ganhou o direito de subscrever igual quantidade em
2021, por 6,42 reais — hoje, um descontão sobre o preço atual,
acima de 14 reais. Ao preço atual, o exercício dessa subscrição
faria o valor de mercado da empresa subir para próximo de 8 bilhões
de reais e traria mais 770 milhões ao caixa.
Conforme fontes próximas à família, essa espada já é muito menos
afiada, pois a holding captou 195 milhões de reais com a venda de
papéis na oferta pública de Minerva de 1,2 bilhões de reais
realizada no fim de janeiro — o que permitiu o pagamento antecipado
de mais de metade do compromisso. Além disso, a família também
teria vendido parte dos bônus no mercado secundário, aliviando
ainda mais a pressão.
A Minerva anunciou um plano de crescer organicamente nos
próximos dois anos, sem aquisições, dedicada a criar valor para os
acionistas por meio do pagamento de dividendos, após reequilibrar
sua estrutura de dívida. A falta de dividendos era algo que
incomodava os Vilela de Queiroz. A companhia ficou três anos —
2017, 2018 e 2019 — sem pagar proventos aos acionistas, dois deles
com patrimônio líquido negativo. Fontes próximas aos controladores
afirmam que a remuneração esperada para 2020 e 2021 deve permitir
que a VDQ exerça os bônus de subscrição que ainda possui e ainda
pague os compromissos restantes das debêntures.
Alavancagem por alavancagem, Molina também tem seus
compromissos. O empresário fortaleceu sua participação na empresa
desde a saída do BNDES do capital da empresa por meio de uma oferta
pública em dezembro de 2019. Para isso, levantou um empréstimo de
500 milhões de reais que tem as ações da empresa como garantia e
prazo de cinco anos. Desde então, ele seguiu ampliando sua fatia
com aquisições no mercado à vista — está hoje a 300 milhões de
reais de distância de se tornar controlador majoritário do
negócio.
Ao ser consultada sobre o tema de uma transação com Marfrig, a
Minerva disse por meio de nota que: “Como informado em diversas
ocasiões, seguiremos comprometidos com a geração de valor e de
dividendos para os nossos acionistas, pelo menos nos próximos dois
anos. Portanto, não há qualquer operação de fusão ou aquisição
prevista neste período”. Com as finanças reformadas, a companhia
acredita, conforme o EXAME IN apurou, que as gigantes americanas do
setor de proteína terão de buscar soluções e alternativas diante da
guerra comercial com a China, o que pode transformar o Brasil em um
alvo interessante para negócios. Parte importante da família Vilela
de Queiroz, segundo informações, continua propensa a vender a
empresa.