A WEG (BOV:WEGE3) está cara ou barata? Esta é a
pergunta que está tirando o sono de muitos investidores e não é
para menos! A cotação subiu cerca de 22.500% nos últimos 20
anos, muito pela influência dos pesados investimentos em
tecnologia, com a ação saltando de R$21,43 em junho de 2019 para R$
63 no dia em que este texto está sendo desenvolvido. Se
pegarmos um arco de tempo mais recente percebemos que a companhia
detinha 53.390 acionistas pessoa física em abril de 2019 e saltou,
em pouco mais de um ano, para 219.109. Sim, é isso mesmo que
você leu! Estamos diante um crescimento que passou fácil os
300%.
A WEG segue em uma crescente que já dura anos e parece que nem a
pandemia afetou os números da empresa, basta ver o 2T20. Isso se
reflete na B3, com a ação passando a casa dos 60 reais há um bom
tempo.
Mas que aumento foi esse? Ainda vale a pena? Vamos
entender agora!
Antes mais nada, a ADVFN tentou entrar em contato com a WEG para
esta matéria, porém compromissos internos e a chegada do período de
silêncio impedem que a empresa participe desta matéria, porém
podemos entender o que está acontecendo de outra maneira – e nada
melhor do que ir nas raízes da empresa enquanto não é divulgado o
3T20.
Aquecendo os motores
Criada em 1961 em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, por Werner
Voigt, Eggon Silva e Geraldo Werninghaus, que usaram as
iniciais de seus nomes para começar uma pequena fábrica de motores
elétricos. Em pouco menos de 10 anos a WEG transformou-se em
uma das maiores multinacionais do país, com valor de mercado
multiplicado por quatro nos últimos 10 anos.
A companhia faturou R$ 14,9 bilhões nos último ano, com um lucro
líquido na casa de R$ 1,8 bilhão e caixa líquido de R$ 400 milhões.
Tudo isso ancorado em quatro pilares:
– Equipamentos eletroeletrônicos industriais;
– Equipamento de geração, transmissão e distribuição de
energia;
– Motores elétricos para uso doméstico e
– Tintas e vernizes para a indústria
Estamos lidando com uma companhia que atua em áreas de negócios
cuja evolução e atualização é constante: a tecnologia. Por
ser uma área que requer uma estratégia sólida de crescimento, ou
seja, precisa ser seguida à risca acompanhando a tecnologia
mundial, a WEGE3 passou a ser a menina dos olhos na B3,
atraindo investidores antenados com o mercado internacional.
Novidades chegando
Atualmente, cerca de 42% da receita da companhia tem origem aqui
dentro, no Brasil, porém a diversificada internacional
apresenta os seguintes números:
– América do Norte: 26% do faturamento
– Europa: 15%
– Ásia e Pacífico: 6%
– América Central e América do Sul – já excluído o Brasil: 6%
e
– África: 5%, a menor fatia
A forte atuação da WEG no setor de infraestrutura, apesar dos
recentes cenários de incertezas que o mercado atravessou, tem se
mostrada para alguns investidores como um porto seguro. Some tudo
isso com a forte autonomia tecnológica da WEG, que investe pesado
em desenvolvimento de soluções próprias, e temos uma empresa
voltada para novos produtos de maneira ágil.
Um bom exemplo de como a empresa parece ignorar este cenário
incerto foi o anúncio de um acordo para a aquisição, em 2 de julho,
do controle da startup BirminD, de Sorocaba, interior de São
Paulo. Estamos falando de uma empresa de tecnologia que se
destaca no mercado de Inteligência Artificial aplicada à Industrial
Analytics. Com o acordo, a WEG passou a ter 51% do capital social
da BirminD, com possibilidade, prevista em contrato, de aumentar
sua participação nos negócios em um futuro próximo.
E no mesmo mês, outra aquisição importante para a WEG: o
controle da startup Mvisia, também especializada em soluções de
inteligência artificial, aplicada à visão computacional para
a indústria. Com o fechamento do acordo, a WEG passa a ter 51% do
capital social da Mvisia,
A voz do mercado
Um dos especialistas da Mirae, o Analista de Investimento Pedro
Galdi, explica que este bom desempenho se justifica pois a WEG atua
com produtos de elevada tecnologia e uma grande gama de
diversificação. Além disso, a retomada da economia mundial tende a
ajudar as encomendas de ciclo longo, com novas oportunidades
surgirão com o novo marco de saneamento e maior demanda de
equipamentos de geração de energia eólica e solar:
“A empresa possui uma excelente estrutura de capital,
apresentando em junho/20 caixa líquido de R$ 1,2 bilhão. Por conta
destas características a ação é negociada a 12,8x seu valor
patrimonial e já valorizou neste ano 84%, contra -13% do IBOVESPA.
Os múltiplos da ação são esticados, o que tradicionalmente
acontece, apresentando um indicador PL20 de 72x. Com a alta
registrada no ano, a WEG deve mostrar uma menor evolução, mas tendo
ainda um potencial de valorização de 9% para os próximos 12 meses”
explica Galdi.
Já o Analista de Investimento da Toro Investimentos, Daniel
Herrera Pinto, analisa que a ação está um pouco cara e explica que
precisa haver uma separação entre o que é a empresa WEG e o que é a
ação WEGE3:
“Não conheço ninguém que diga o contrário, que a empresa que
está em um momento fantásticos sem sombra de dúvida, com
crescimento muito robusto, resultados trimestre após trimestre.
Pensando na valorização ou um pelo menos em um bom pagamento de
dividendos, não pensamos que a WEGE3 vá entregar nem um, nem outro.
A WEG tem uma política mais de reinvestir o fluxo de caixa em
aquisições e fez algumas recentemente. Pelo lado de dividendos, não
é super atrativa agora”.
Daniel vai além, entendendo que quem está olhando pelo lado de
bem de capital, a ação está bem esticada. A empresa trabalha com
múltiplos super altos e vai ter que seguir entregando um
crescimento muito forte por mais algum tempo só para justificar o
patamar de múltiplos – e se estiver pensando que ela precisa
seguir valorizando, para o investimento fazer sentido, então ela
precisaria crescer muito rápido em muito tempo: “Claro que é
possível, a WEG vem demonstrando muita consistência”.
Geração de energia é imune à crise?
O setor de geração e distribuição de energia, percebido como
mais seguro de acordo com alguns especialistas, dá algumas pistas
para Daniel explicar como a WEG se beneficiou neste momento.
1 – Exposição muito grande no exterior.
Mesmo que tenha sofrido um pouco em algumas linhas, a WEG tem quase
60% das suas vendas em dólar. Se pegarmos o comparativo da moeda
americana do 2T19 com o 2T20, há uma valorização de quase
40%:
“Isso mais do que compensou a queda que a WEG teve se
analisarmos a receita em dólar mesmo. Ela caiu 10% no trimestre e
5% no acumulado do ano, mas acabou não sentido na linha final pela
valorização”.
2 – Ciclo longo
A WEG possui dois mercados de atuação principal: máquinas de ciclo
curto e máquinas de ciclo longo. O braço de ciclo curto sentiu um
pouco com a crise, pois muitas empresas demandaram menos neste
momento. Já as máquinas de ciclo longo são investimentos mais
altos, com prazo dilatado e com mais tempo para implementação.
Daniel explica que não são flutuações de curto prazo que vão
impactar a carteira de pedidos para o ciclo longo:
“ A WEG tem salientado que tem os pedidos de ciclo longo são
constantes em um primeiro momento. Não significa que seja este um
segmento à prova de crise. O choque rápido no curto prazo não
impacta tanto nas máquinas de ciclo longo. Se a gente tiver, no
mundo inteiro, uma economia que vai passar por uma crise mais
prolongada , e levar mais tempo para se recuperar, os investimentos
poderão cair”..
Para Daniel, as empresas vão pensar duas vezes antes de
mobilizar mais capital agora. O que pode acontecer lá na
frente é que esta carteira de pedidos seja impactada –
estamos falando de um setor que está, sim, exposto às flutuações da
economia, não é blindado: “A WEG acabou se beneficiando por este
delay de sentir o impacto das máquinas de ciclo longo”.
Novo braço da WEG?
As aquisições feitas no 2T20 (Mvisia e BirminD), de
Inteligência Artificial, podem ser um novo braço da empresa
ao lado dos segmentos mais tradicionais? Daniel ainda acha cedo
para tecer algum prognóstico, pois no curto prazo não haverá um
impacto relevante.
O analista explica que não está claro se este será um quinto
braço ou uma complementaridade mesmo, um serviço para dar apoio à
estrutura que eles já possuem. Mas de qualquer forma, todo esse
segmento de inteligência artificial, por mais que seja a grande
aposta da economia mundial no futuro, vai ser como um setor que
está ainda está muito no começo: carregado de incertezas.
“Não se sabe exatamente quais tipos de atividades vão vingar,
quais tecnologias darão certo. É sim um investimento muito
interessante e a WEG é conhecida por fazer boas
aquisições, tem caixa líquido para fazer este tipo de estas
movimentação, mas é um investimento que está focado muito lá na
frente. Só vamos saber se a tacada deu certo dentro de alguns anos”
completa.
Por Aroldo Antonio Glomb Junior – Especial ADVFN
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