Gerdau pela primeira vez tem mulher à frente de operações industriais
25 Novembro 2020 - 1:20PM
ADVFN News
Perto de completar 120 anos, a siderúrgica Gerdau terá, pela
primeira vez, uma mulher à frente de uma de suas operações
industriais, dentro de um setor ainda predominantemente masculino.
Engenheira de 43 anos, Michele Robert acaba de assumir o cargo de
presidente da Gerdau Summit, que nasceu com foco no fornecimento de
peças para a geração de energia eólica e cujo controle é dividido
com as japonesas Sumitomo Corporation e Japan Steel Works (JSW). A
unidade fica em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, interior de
São Paulo.
A Gerdau (BOV:GGBR4) fez o comunicado nesta quarta-feira
(25).
Com presença forte no exterior, a Gerdau é hoje uma das poucas
empresas brasileiras a abrir seus dados relacionados à agenda
ambiental, social e de governança (ESG, pela sigla em inglês),
antes mesmo de o assunto ganhar os holofotes no País, com o aumento
de pressão por parte de investidores. Além de dar mais
transparência, a companhia tem trabalhado em paralelo em programas
internos para ajudar na formação de profissionais em busca de
diversidade, incluindo a de gênero. Para a posição de chefia da
Summit, contudo, a decisão foi atrair Michele, que estava há 18
anos na General Electric (GE), já ocupando um cargo de liderança.
“Finalmente a Gerdau terá uma mulher à frente de uma de suas
operações industriais, o que é coerente com a transformação da
empresa, que está a todo vapor. As empresas precisam ter mais
exemplos dentro de casa (em relação à diversidade). É necessário
ter referência”, comenta a executiva.
Mãe de duas filhas, uma de 13 e outra de 15, Michele foi morar
aos 18 anos em Buenos Aires, capital da Argentina, quando seu pai,
que trabalhava na Ford, foi transferido. Lá entrou na universidade
no curso de engenharia mecânica, no Instituto Tecnológico, em sala
com apenas quatro mulheres em um mar de rapazes. Os estudos
acabaram sendo finalizados nos Estados Unidos.
Michele irá encarar, 25 anos depois, uma situação semelhante na
planta que comandará. Na equipe de 700 pessoas, cerca de 90% são
homens. A ideia é, aos poucos, começar a mudar essa proporção.
Michele chega à Gerdau Summit já com algumas metas. Além, é
claro, de ajudar a dar um impulso na diversidade, o plano é “dobrar
ou triplicar” a operação, que busca diversificar sua atuação – algo
que a pandemia mostrou ser necessário. Hoje com o foco em cilindros
para energia eólica, a unidade já está em processo de homologação
de produtos para atender outros setores, como mineração e açúcar e
álcool.
Pirâmide
A Gerdau tem apostado em programas em suas bases para alavancar
a diversidade na companhia, que possui atualmente 30 mil
funcionários. De janeiro para cá, o número de mulheres diretoras
que reportam diretamente ao presidente Gustavo Werneck – que desde
que assumiu o posto, há quase três anos, tem colocado o assunto na
mesa ESG tanto dentro quanto fora da Gerdau – passou de zero para
três. Do ano passado até agora, o porcentual feminino nos cargos de
liderança passou de 18% para 20,4%.
Além de iniciativas que buscam trazer mais diversidade, como um
programa de trainee no qual 50% das contratações foram mulheres e
um programa de estágio destinado a negros, a Gerdau vai atrelar
metas relacionadas ao tema ESG ao bônus de longo prazo dos
executivos da companhia.
A diretora global de Pessoas e Responsabilidade Social, Caroline
Carpenedo, que iniciou sua carreira na Gerdau há 15 anos como
trainee, conta que, nessa trajetória de se buscar mais diversidade
na companhia, alguns dos processos de recursos humanos foram
alterados. Para a seleção de grande parte dos cargos, por exemplo,
foram retiradas informações como nome e endereço dos candidatos.
Outra medida foi deixar de exigir inglês para postos em que seu uso
não é necessário no dia a dia, e oferecer o curso nos casos em que
a língua seja necessária em movimentos na carreira. “Temos
trabalhado em dar as ferramentas”, diz.
Caroline comenta que, nessa busca por uma empresa mais diversa,
é preciso planejamento. Para esse tipo de progresso, além de
começar a preparar a base de profissionais, a Gerdau estabeleceu à
liderança da empresa uma meta bastante clara: na hora de se
preparar o mapa de sucessão é preciso ter a indicação de ao menos
uma mulher. Se a leitura for de que nenhuma executiva está pronta é
preciso colocar a mão na massa para preparar as candidatas. Aos
poucos os números do setor podem começar a mudar. No Brasil, a
indústria siderúrgica emprega 112 mil pessoas, sendo 66,7 mil de
efetivos, conforme dados do Instituto Aço Brasil (IABr). Do total,
apenas 9% são mulheres.
“Em um momento em que as questões ESG ganham cada vez mais
relevância, um avanço nessa agenda por parte das empresas, além de
fazer-se necessário, tem sido monitorado de perto pelos
investidores”, comenta a analista de Research especializada em ESG
da XP, Marcella Ungaretti.
A professora da FGV, Claudia Yoshinaga, aponta que é um marco
importante ver mulheres assumindo posições de liderança em setores
historicamente tido como masculinos. “São inúmeras pesquisas que
confirmam o benefício da diversidade, não só de gênero, para as
empresas, trazendo diferentes perspectivas, mais produtividade e
inovação.”
GERDAU PN (BOV:GGBR4)
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