A Amazon (BOV:AMZO34) é uma empresa que dispensa longas
apresentações, mas merece muitas análises porque é um verdadeiro
case de sucesso em termos de governança, estratégia do
negócio, visão de longo prazo e retorno ao investidor. Este último
quesito, principalmente, nos interessa ainda mais.
Neste mês, a companhia celebra 24 anos desde que abriu capital
na Bolsa de tecnologia dos EUA, a Nasdaq, lá em 1997. As ações
começaram valendo US$ 1,73 e hoje (04 de maio de 2021) já estão em
mais de US$ 3,3 mil! Para uma companhia que começou vendendo
livros, ela mostra que é protagonista de sua própria história,
sendo escrita diariamente pelo mesmo autor: Jeff Bezos, que
acompanha e gerencia a empresa desde sua fundação.
Entretanto, algo está prestes a mudar, o que pode ser o grande
clímax para a empresa: Bezos deixará seu cargo a partir do terceiro
trimestre deste ano e os analistas preveem que a própria estrutura
da empresa pode sofrer grandes mudanças, com ela focando mais no
seu braço de computação em nuvem por meio da plataforma AWS. Mas,
enquanto esse novo capítulo não chega, vamos aproveitar para
aprender os segredos de sucesso da Amazon demonstrados nesses 24
anos.
Quem nos conta essa trajetória e nos dá pistas sobre o
desenrolar das histórias que estão prestes a acontecer é o
professor do Insper e especialista em cultura digital
Renato Mendes, que também é autor do livro
Mude ou Morra: tudo que você precisa saber para fazer crescer
seu negócio e sua carreira na Nova Economia (disponível inclusive na página da nossa
empresa-foco Amazon). Acompanhe.
Foto: Renato Mendes – Divulgação.
Professor, quais os segredos da Amazon
para se tornar tão grandiosa assim e em tão pouco
tempo? Quais as maiores lições dela para serem usadas por qualquer
empreendedor?
O segredo da Amazon é menos pelo fato de ser uma empresa de
tecnologia e mais por alguns pilares de estratégia. Eu destacaria
primeiro uma visão muito clara do que eles querem construir, do que
eles querem ser. Em segundo lugar, eles colocam o cliente no centro
da estratégia, são “obcecados” pelo cliente, como eles mesmos
dizem. Como um terceiro pilar eu destaco a tomada de decisão sempre
baseada em dados. Em quarto lugar, existe o desejo permanente de
inovar sem medo de errar. Por fim, como quinto ponto acredito que
há uma capacidade de execução primorosa. Esses são os cinco
aspectos que fizeram a Amazon tão única em todos os sentidos e que
podem ser usados em qualquer empresa, independente de trabalhar com
tecnologia ou não e do tamanho dela.
A Amazon criou o Kindle e a Alexa, itens que
teoricamente ninguém queria ou precisava, mas hoje todo mundo quer.
Como ela conseguiu isso e como qualquer empresa pode conseguir
incutir produtos assim no mercado?
Para fazer uma comparação, empresas da economia tradicional
costumam ser centradas em duas coisas: seus produtos e nos seus
concorrentes. A Amazon tem um viés um pouco diferente, ela é muito
focada em ouvir o cliente e a partir da necessidade dele criar uma
solução. Veja que o approach é bem diferente. Nos casos do
Kindle e da Alexa, a Amazon foi capaz de antecipar necessidades que
nem o cliente sabia que tinha. E isso é simplesmente bárbaro.
Quando você conversa com um cliente, ele não sabe o que quer, ele
relata uma dor, o que está sentindo. Aí o Jeff Bezos é o craque em
entender o que está por trás dessa dor, mapear essa necessidade e
depois fazer uma solução para isso.
A companhia tem sua parte de filmes, vídeos, streaming.
Como ela concorre com outras gigantes do setor e de cabeça
erguida?
Se você for ver a história da Amazon, o centro dela sempre foi o
varejo. Começou vendendo os livros de modo on-line, depois ampliou
categorias e todos os outros setores em que ela entrava eram com
foco em alavancagem de varejo, tudo servia a esse propósito. A AWS
também vai para uma necessidade do varejo, do cloud, assim
como a estratégia de conteúdo, o mercado de criação de conteúdo
(Prime). Então, a partir desse centro, que sempre foi o varejo
on-line, toda a ampliação setorial está pautada para a alavancagem
dele. O segredo é essa amarração com o negócio original.
Muito devido à pandemia, diversas empresas acabaram
criando seu lado “on-line”, derivado dos seus estabelecimentos
físicos. A Amazon tem feito o caminho inverso. Por que os pontos
físicos ainda continuam sendo essenciais na operação das empresas e
por que a Amazon tem entrado nisso também?
As marcas digitais estão entendendo que só ser marca digital não
basta, porque as pessoas não estão só no digital. Essa presença
física de uma marca digital é a materialização da proposta de
valor. E, se eu quero estar presente no ciclo da vida de compra
completa do meu consumidor, eu tenho que sair do meu território
on-line e ocupar também esse território offline. É por isso que a
maioria das marcas que são nativas digitais em algum momento acaba
passando por isso. Já que, para expandir, crescer ainda mais,
precisam ir para o offline.
Em maio agora a Amazon faz 24 anos desde sua IPO. Como
você vê o amadurecimento da companhia no mercado de ações? É
um pouco enraizado na cabeça dos investidores que companhias de
tecnologia não são investimentos de longo prazo, porém até Warren
Buffett investe na Amazon. Até que ponto, então, isso seria um mito
em se tratando dessa empresa?
Acredito que a primeira coisa que eu poderia dizer é: “queria
ter comprado as ações da Amazon na IPO” (risos), porque é admirável
o resultado dessas ações ao longo desses 24 anos. Mas tem um
aspecto que vale a gente ressaltar. É impressionante a capacidade
do Bezos de conseguir esse alinhamento em termos de visão de longo
prazo com os seus investidores. Porque a lógica do mercado de
capitais, uma vez que você faz a IPO, é de curtíssimo prazo. É uma
lógica trimestral, eu estou preocupado com o próximo
report e só. Então, acredito que o Bezos foi muito hábil,
primeiro na narrativa de longo prazo que ele faz da Amazon desde o
Dia 1, e depois na escolha dos investidores estratégicos, aqueles
que tinham essa visão de longo prazo alinhada. Talvez seja um caso
único de uma empresa que por muitos anos deu prejuízo, queimou
caixa e os investidores não abandonaram porque confiaram na
capacidade e na visão do empreendedor de entregar isso no longo
prazo. E quem ficou com ele foi premiado.
Essa é uma empresa feita para durar ou você acredita
que ela é apenas uma companhia da moda e que chegará o dia de sua
luz desaparecer?
O próprio Bezos diz que a Amazon vai desaparecer um dia, então
quem sou eu para contrariar? Quando ele cria o conceito da cultura
do sempre Dia 1, o que ele tenta combater é exatamente isso. Ele
diz que o Dia 2 é o dia em que a gente se torna mais preguiçoso,
mais lento. A obsessão dele pela cultura do Dia 1 é que a empresa e
os funcionários nunca percam esse frescor, essa fome de conquista
do primeiro dia de trabalho. E eu acredito que, de certa forma, a
saída dele do dia a dia da empresa pode ser um golpe duro nessa
cultura, porque ele é a encarnação desse conceito. Vamos ver como
isso vai se desenrolar.
Você fala em seu livro Mude ou Morra sobre a
Nova Economia. Como é isso? E como se relaciona com a
Amazon?
A Amazon é a materialização de quase tudo o que falamos no livro
em termos de melhores práticas de nova economia. A provocação do
Mude ou Morra é exatamente esta: estamos vendo uma
transição do que a gente chama da economia tradicional para a nova
economia, e tem um grupo de empresas que entenderam essa dinâmica
antes das demais – como é o caso da Amazon – e que usam isso como
uma vantagem competitiva. A provocação do livro é convocar essas
empresas que ainda não fizeram essa transição para fazerem. Elas
têm que mudar ou vão morrer. E o que é mudar? É mudar a forma de
pensar para mudar a forma de agir. É colocar o cliente no centro,
ter pensamento de longo prazo, entender que o erro não é sinônimo
de fracasso, e sim um passo na construção de algo novo. Então, a
Amazon tem tudo a ver com a mensagem do Mude ou Morra.
O livro é destinado apenas para empreendedores ou os
investidores podem aprender também (afinal todo investidor é,
teoricamente, um sócio, portanto empreendedor junto da
empresa)?
É destinado a todos que querem entender esse modelo de negócio.
Ele serve para empreendedores, mas também para investidores, para
executivos, para pessoas que também se interessam por esse novo
momento. Sou suspeito a dizer, mas acredito que é uma leitura que
vai acrescentar bastante.
Recentemente, Jeff Bezos disse que apoia o aumento de
impostos sobre as empresas de tecnologia para dar margem ao plano
de infraestrutura de Biden. Mas qual o impacto disso na gigante
Amazon?
A Amazon é historicamente criticada por pagar pouco imposto, ela
sempre se defende dizendo que os investimentos compensam os
impostos, que está respeitando toda a legislação tributária, mas é
um calcanhar de aquiles da empresa. Então, eu acredito que esse
pronunciamento público do Bezos favorável é mais uma tentativa de
reverter essa percepção negativa da companhia, porque é lógico que
no final do dia eles vão ser impactados. Mas, devido a essa
estratégia tributária, o impacto vai ser menor do que muita gente
imagina. Para o Bezos é o jogo perfeito, porque melhora a percepção
da empresa no mercado e tem pouco impacto nas margens.
Ainda sobre Biden, desde a candidatura ele sempre se
mostrou firme para tirar regalias das empresas de tecnologia quanto
a impostos. Como a Amazon pode se posicionar nesse cenário? Quais
as tendências para ela, o que podemos esperar para o futuro (como
investidores e consumidores)?
Não vejo grandes mudanças no curto prazo. Acredito que havia
outros candidatos democratas que eram mais radicais, estavam mais
dispostos a comprar essa briga com as bigtechs. O Biden já
está comprando diversas brigas simultâneas em diversas frentes,
então não vejo isso na agenda de curto prazo do governo. Acredito
que a preocupação principal da Amazon deveria ser sobre essa
passagem de bastão. Vamos ver como a empresa se comporta sem o
Bezos e principalmente se o eixo dela vai mudar. Porque
historicamente, como falei, ela foi construída para alavancar o
negócio de varejo, todas as ações em outros setores eram com esse
intuito, e agora o que se suspeita é que tenha um protagonismo
maior no negócio de cloud. Daqui a pouco a gente não vai
falar “A Amazon varejista”, vai falar “A empresa de cloud?”. Então,
existe uma perspectiva de que o negócio de cloud da AWS
venha para o centro da estratégia, e isso muda radicalmente o que
vai ser feito nos próximos anos.
=> Veja a cotação atual da BDR da Amazon negociada na
B3 clicando aqui.
=> Acesse gráficos exclusivos de desempenho das ações
clicando aqui.
Gostou deste artigo? Comenta aqui embaixo e aproveite para
compartilhar o conteúdo com seus amigos! Aproveitem e ótimo$$
investimento$$!
Amazon com (BOV:AMZO34)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
Amazon com (BOV:AMZO34)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024