Nos últimos 12 meses, as ações da resseguradora IRB Brasil
(BOV:IRBR3) acumulam queda de -33%, enquanto a empresa das
maquininhas Cielo (BOV:CIEL3) vê seus papéis amargarem -29% de
desvalorização. Mas, como essas companhias estão na Bolsa há
bastante tempo (IRB abriu capital em 2017 e a Cielo em 2009), vamos
traçar uma linha temporal um pouco maior, dos três últimos anos.
Nesse caso, a Cielo passa na frente, com as ações mais
desvalorizadas de todo o Ibovespa, em -69%, seguida de perto, no
segundo lugar, pela IRB, cujos papéis caem -57%.
Apesar de serem empresas de setores distintos, não tem como
desconsiderar que o desempenho que apresentaram nos últimos anos as
coloca como as piores performances do Ibovespa. Mas será que está
tudo tão ruim assim mesmo para essas companhias? Provavelmente elas
também sabem que estão na ponta desse ranking invertido, então o
que têm feito para tentar mudar a situação? Qual delas tem atuado
mais fortemente para reverter a trajetória negativa? Isso e muito
mais é o que vamos descobrir agora.
Só para situar
Você já acompanhou aqui na ADVFN matéria especial específica
sobre a Cielo e sobre a IRB, cada qual com suas especificidades e
dentro de seus contextos. Mas é importante relembrar um pouco o que
elas passaram nos últimos tempos (e que também justifica suas
colocações atuais no Ibovespa) para poder entender ainda melhor o
que estão fazendo atualmente para se reposicionar.
=> Veja a matéria especial Chega de especulação, vamos falar de
verdade sobre a IRB Brasil!
=> Confira também Cielo: essa empresa ainda é uma máquina de
dinheiro?
Vamos começar com a empresa da ação mais especulada do mercado
brasileiro?
A IRB Brasil é uma resseguradora brasileira com operações também
no exterior. Ou melhor, ela é um contrasseguro das seguradoras. Por
muitos anos foi a única em sua atividade por aqui. Muitos anos
mesmo. Foram 68 no total. E isso já nos dá uma ideia de que essa
companhia não é tão novinha assim.
Com mais de 80 anos, a IRB começou como estatal, mas em 2013 foi
privatizada. Pouco tempo depois, em 2017, abriu seu capital na
Bolsa de Valores. Uma IPO bastante aguardada, tanto que a demanda
foi o dobro da oferta. Em apenas um dia de negociação o papel
disparou 8%. O retorno ao acionista foi consistente. Precificada em
R$ 27,24 na IPO, em 2019 bateu R$ 38. Mas o pico mesmo aconteceu em
janeiro de 2020, quando alcançou R$ 45. O valor de mercado inicial
da empresa chegou a ser multiplicado por quatro somente nesse
período. Mas… daí em diante foi só ladeira abaixo.
A gestora de fundos Squadra Investimentos descobriu manipulação
de balanços pela IRB, o que já no primeiro dia em que a notícia foi
veiculada fez os papéis da empresa caírem mais de 20%. Em
fevereiro, o presidente do Conselho de Administração renunciou, em
março nova mudança, mas dessa vez na diretoria. Também teve batida
da Polícia Federal na empresa, com executivo sendo acusado de
corrupção, fiscalização forte da Susep (Superintendência de Seguros
Privados), pedido de respostas pela CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) e, no meio de tudo isso, até investidores pedindo
indenização por prejuízo…
Depois de tantos trancos e barrancos, IRBR3 fechou 2020 com uma
desvalorização de mais de 80%. A música típica de fim de ano também
levou prejuízo no caso da IRB: melhor não querer explicar a parte
do “Então é Natal e o que você fez?” e partir logo para o “O ano
termina e começa outra vez”. Afinal, em 2021 tudo poderia ser
diferente.
Já começou complicado. Nos EUA, grupos de pequenos investidores
incentivavam por meio das redes sociais a compra de ações “mais pra
lá do que pra cá” para poder quebrar alguns grandes fundos que
apostavam na queda dos papéis. Um verdadeiro ataque de sardinhas
contra tubarões.
Não deu nem tempo de piscar e isso chegou ao Brasil. Também não
precisou de um uni duni tê ou jokempô para decidir qual ação seria
escolhida para a especulação – e nessa até plânctons participaram.
Somente neste ano, até agora, os papéis da IRB têm queda de -23%. E
a gente nem citou o caso do Warren Buffett nessa saga…
=> Saiba mais sobre a resposta de Buffett à investida
da IRB Brasil clicando aqui.
Vamos de Cielo para ver se dá uma animada?
A companhia ainda é jovem. Nasceu em 1995, inicialmente chamada
de Visanet, por meio da parceria dos maiores bancos brasileiros
(Bradesco, BB, o extinto Banco Nacional e o Banco Real, atual
Santander) com a Visa Internacional, para oferecer uma facilidade
revolucionária na época: as maquinetas de pagamentos. Andar sem um
tostão no bolso da calça nunca foi tão descolado.
O melhor – ou nem tanto – foi poder andar sem um tostão no bolso
nem sequer ter muito na conta, mas ainda assim poder comprar o que
quisesse. Afinal, por meio das maquininhas os bancos conseguiam
oferecer créditos e tantos outros serviços financeiros antes
restritos apenas a suas agências físicas. O problema era que, no
caso dessa empresa, somente cartões com a bandeira Visa eram
atendidos. Os cartões da bandeira Mastercard eram passados em outra
maquineta, da Redecard.
E esse foi o primeiro conflito da nossa companhia foco, uma
disputa que deu muita canseira, mas foi só o começo na trajetória
de concorrência por espaço no mercado, clientes e investidores. Em
se tratando de market share e clientela, a Visanet sempre se deu
melhor do que a Redecard, mas, quanto a investidores, o negócio foi
diferente. Em partes.
A Redecard abriu capital em 2007, para tentar superar sua
concorrente direta, mas não foi tão efetiva, mesmo a demanda pelas
ações tendo superado a oferta em dez vezes. Dez vezes. Dois anos
depois foi a vez da Visanet chegar chegando, com uma IPO que ficou
marcada na história da época como a maior do Brasil e uma das
maiores do mundo. Muito bom para ser verdade? Quase isso.
Na época já existia um rumor de que o Banco Central não tava
gostando nada dessa história de só duas empresas concorrendo pelos
clientes na praça. O Banco Real não demorou em vender sua
participação, já temendo um futuro turbulento. Dito e feito. A
partir de 2010 o BC abriu o mercado para concorrentes menores e
quebrou a exclusividade das bandeiras Visa e Master. O começo da
“guerra das maquininhas” estava selado. E a Visanet até mudou de
nome, tornando-se Cielo.
Uma figurante dessa história que começou a ganhar atenção foi a
PagSeguro, que, enquanto Visanet e Redecard se digladiavam, comia
pelas beiradas atraindo clientes menores. Com o tempo, a companhia
conseguiu se tornar um garrão no pé das gigantes. Demorou para elas
sentirem os efeitos da decisão do BC, mas no fim de 2015 o calo
apertou. As ações da Cielo começaram a despencar, com um mercado
agora atendido também por Stone, SumUp, GetNet, SafraPay, Elavon e
outras.
De R$ 30 em junho de 2015, CIEL3 passou para R$ 21 em fevereiro
de 2016. Ela até criou produtos mais inovadores, ganhando novamente
a confiança dos investidores na Bolsa, porém de 2018 em diante,
assim como ocorreu com a IRB, só foi ladeira abaixo.
O que as empresas têm feito
Sabemos que até aqui só foi tristeza ver que duas empresas
bastante representativas em seus mercados e que geraram muito
retorno aos investidores chegaram a essa situação. E, já
adiantamos, não podemos garantir que o restante deste texto vai
trazer um “felizes para sempre” a elas. Mas alguma esperança pode
gerar.
Uma delas é o fato de que as coincidências entre as empresas não
ficam restritas à queda das ações. Elas também são controladas por
grandes bancos. E bancos não entram para perder. No caso da IRB,
atualmente o Bradesco Seguros tem 15,8% do capital social total da
companhia, enquanto o Itaú Seguros detém 11,5%. Do lado da Cielo, o
Bradesco tem 30% e o Banco do Brasil 28,6%. Então, por pior que
esteja o cenário, ao menos o controle das companhias é forte ($$).
Mas isso se os controladores não resolverem se desfazer de suas
posições.
A Cielo é a mais propensa a cair em um cenário assim, afinal o
mercado já vem há um tempo cogitando que o Banco do Brasil possa
vender sua parte para o Bradesco, mas nenhum dos bancos deu isso
como verdade. Porém, fato é que ela vem promovendo mudanças que têm
a ver com controle, sim, mas não acionário, da própria empresa.
Paulo Caffarelli, o atual presidente, pediu renúncia do cargo e
será substituído por Gustavo Henrique Santos de Sousa, que é o
atual vice-presidente de finanças e diretor de RI da empresa. Os
analistas divergem de opinião, considerando que isso pode marcar um
novo começo para a Cielo, já que o então presidente da companhia
esteve à frente dela nos últimos três anos, mas pode ainda impactar
um processo de reestruturação que vinha se consolidando.
Já em termos operacionais, a Cielo também traz novidades. Ela
vem há um tempo tentando dar margem a um projeto feito em parceria
com o Facebook para promover um sistema de pagamento via WhatsApp.
Enfim ele foi aprovado, porém precisa de ajustes para que as
cobranças (e o faturamento da Cielo) possam ser realizadas. A
expectativa é que tudo esteja pronto no segundo semestre deste
ano.
Outra novidade também tecnológica é a parceria feita com o
Google, para oferecer às pequenas e médias empresas clientes da
Cielo a facilidade de criarem lojas virtuais e campanhas de
marketing totalmente on-line. Como o Google tem uma grande imagem
na praça, espera-se que a união possa impactar até 600 mil
negócios.
Esses dois exemplos mostram que de maquininha de mesa a Cielo já
foi promovida para empresa de tecnologia. E, a julgar pelo
desempenho dessas empresas na Bolsa, o cenário pode ser bem
favorável. Apesar disso, a maioria das recomendações dos analistas
é neutra, embora vez ou outra CIEL3 apareça em diversas carteiras
recomendadas semanais, o que é justificado por expectativas de
performances pontuais e de curto prazo.
Agora, em se tratando da IRB Brasil, a questão de reestruturação
interna é o que mais tem feito diferença para a empresa atualmente.
Após os desastrosos episódios, ela contratou auditores
independentes para garantirem o cumprimento das obrigações legais e
darem credibilidade às divulgações de balanços. Também mexeu na
diretoria, aqui e ali, e está focando mais nos negócios locais e
nos da América do Sul, em vez de investir tanto nos europeus.
Ao mesmo tempo, a Susep encerrou sua fiscalização em abril,
quase um ano após ter começado o processo. O mercado aplaudiu de
pé, afinal é um grande passo para a nova fase independente da
empresa, que começou a mudar.
O resultado do primeiro trimestre deste ano revelou um lucro
líquido 44% maior do que o alcançado no mesmo período de 2020,
fruto de uma limpeza na carteira de contratos de risco e
deficitários. Dessa vez, pelo menos, o balanço trouxe verdades.
Apesar disso, muitos analistas entendem que a lucratividade ainda
permanece muito baixa, o que consequentemente penaliza o papel. De
acordo com a equipe da Guide Investimentos: “Avaliamos que a IRB
ainda tem um longo caminho a percorrer em termos de recuperação de
credibilidade e consequentemente dos seus resultados para voltar a
ter uma performance positiva em Bolsa”.
Querendo ou não é a mesma opinião da própria empresa. Na
teleconferência sobre os resultados do primeiro trimestre, o
presidente da IRB afirmou que 2021 é um ano de transição, os
resultados mais consistentes são esperados para 2022-23.
Para os analistas da Levante, “a companhia segue líder em seu
setor e as medidas feitas ao longo do ano mostram comprometimento
no turnaround [reestruturação] da empresa, porém o grande
problema da IRB Brasil não é apenas operacional, mas reputacional,
e a quebra da confiança é uma ferida que pode demorar a
cicatrizar”. Como sabemos que mercado de ações não é lugar para
fezinha, e sim para investimento consciente, é sempre bom avaliar
se o seu perfil de investimentos condiz com as vantagens e os
riscos do negócio.
De qualquer modo, mesmo com tudo o que foi apresentado, ainda é
difícil de saber qual das duas empresas, dentro de suas
necessidades, está mais bem posicionada. Entretanto, cada uma delas
tem se dedicado, e isso não resta dúvidas. O investidor que as
mantém em carteira pode ser premiado pela paciência e consideração?
Isso é o que veremos daqui em diante. Mas, por ora, fique de olho
nas novidades trazidas por elas e sempre apresentadas aqui, na sua
ADVFN.
Gostou deste artigo? Comente aqui embaixo e aproveite para
compartilhar o conteúdo com seus amigos, afinal têm muito
investidor comprado nessas empresas, portanto sempre vale saber
mais. Aproveitem e ótimo$$ investimento$$!
CIELO ON (BOV:CIEL3)
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