Última semana de junho e chegou a hora do famoso arraiá! É claro que, devido à pandemia, não tem como fazer aquele festerê danado, com gente para todo lado, correio elegante passando pelo meio de todo mundo, criançada pequena (e adulta) se divertindo ou arrancando os cabelos nas gincanas e música raiz ligada no último volume para dar aquela esquentada.

Mas o nosso “novo normal” pelo menos nos permite relembrar esses bons tempos (que voltarão em breve) de outro jeito. Pelo paladar. Paçoquinha, doce de abóbora, pé de moleque, canjica, bolo de fubá, pipoca, pinhão (no Paraná), pamonha, quentão. Tudo isso fica disponível no supermercado nessa época do ano, geralmente em uma quitandinha improvisada no meio dos corredores. Mas aqui vamos usar apenas duas dessas delícias para fazer uma analogia ao nosso mercado de ações.

Pamonha

Embora essa iguaria seja uma delícia (com exceção de quem tem alergia), por extensão de sentido a palavra adquire outro significado na nossa língua. Pamonha acaba virando apelido para aquela pessoa molenga, lerda, inativa, meio devagar. Então, estendendo só um pouco mais esse sentido e fazendo-o chegar ao arraiá do nosso mercado financeiro, podemos dizer que pamonhas são aqueles papéis que mais tiveram desvalorização, que estão meio apamonhados nas carteiras dos investidores.

Nesse caso, considerando janeiro até junho deste ano, vamos destacar cinco ações. Você está comprado nelas? Caso sim, não tem problema, afinal estamos falando de um mercado em que tudo é variável e papéis considerados pamonhas hoje podem se tornar grandiosos quitutes em outros tempos. No fim, o que importa é ficar de olho na freguesia.

Pão de Açúcar (BOV:PCAR3) – queda de 46% em 2021

Embora as ações do Grupo Pão de Açúcar (GPA) não sejam tão paradas, oscilando constantemente, ainda assim são as mais desvalorizadas durante os seis meses deste ano no Ibovespa. Como varejista alimentar, o setor foi bastante impactado pela pandemia, inclusive pelo encerramento do auxílio emergencial no fim do ano passado. Neste ano, o resultado do primeiro trimestre também ficou abaixo das expectativas de muitas casas de análise, fazendo com que PCAR3 ganhasse mais recomendação de “neutro” do que qualquer outra coisa.

Apesar disso, a ação segue em carteiras recomendadas semanais, sempre de olho em algum dado pontual. Os analistas da Toro Investimentos também acreditam que esse é um papel bastante descontado no momento e, pelo fato de a empresa atuar no setor de alimentos, que é essencial, tem boas perspectivas. Eles entendem PCAR3 como uma boa pechincha atual da Bolsa.

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IRB Brasil (BOV:IRBR3) – queda de 25% em 2021

Essa é uma empresa que já deu muito que falar e, agora, está focando em sua reestruturação interna e estratégica. Os resultados do primeiro trimestre também não animaram muito, demonstrando baixa lucratividade e uma piora no desempenho operacional, porém isso tudo já era previsto pela própria empresa. Na teleconferência sobre os resultados do primeiro trimestre, o presidente da IRB afirmou que 2021 é um ano de transição, os resultados mais consistentes são esperados para 2022-23.

=> Entenda de vez a situação da IRB Brasil clicando aqui. 

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Eztec (BOV:EZTC3) – queda de 20% em 2021

O desempenho da empresa até o último balanço divulgado (1T21) ficou bem abaixo do que os analistas de mercado projetaram para a companhia, demonstrando pouquíssimo volume de lançamentos no período, na faixa de R$ 28 milhões, o que representa um baita tombo de 95% no comparativo anual.

É justificável, afinal a companhia optou por postergar alguns lançamentos e os estandes de vendas ficaram fechados durante longo período na pandemia; também foi difícil vender alguma coisa sem poder fazer visitas presenciais. Apesar disso, o guidance (expectativa) da Eztec para 2020-2021 é lançar empreendimentos que podem gerar até R$ 4,5 bilhões.

Porém, outra dificuldade enfrentada pela companhia neste ano é o aumento da taxa básica de juros (Selic), o que impacta consistentemente o setor de construção civil, que depende de financiamentos tanto para promover as construções quanto para facilitar as vendas dos empreendimentos. A alta no preço das matérias-primas de construção ocorridas ainda no ano passado e que ainda não se estabilizou também pressiona as margens.

Qualicorp (BOV:QUAL3) – queda de 18% em 2021

Devido à pandemia, a Agência Nacional de Saúde (ANS) decretou que os ajustes de preços durante a crise de saúde só poderia ser realizado a partir de 2021. Portanto, o novo retorno vai ser gradual e diluído ao longo do ano.

O que também tem gerado bastante impacto, segundo o Credit Suisse, é o fato de a empresa, apesar de ter promovido ações, não ter visto um aumento orgânico na sua base de beneficiários. E sem clientes não há arraiá. Porém, ela vem tentando forte realizar parcerias para distribuir produtos em novas áreas, principalmente naquelas com menos opções de atendimento como as oferecidas pela Qualicorp.

De acordo com Bruno Blatt, o diretor-presidente da empresa, durante teleconferência dos resultados do primeiro trimestre deste ano: “Buscamos acelerar vendas nos próximos trimestres. Queremos patamar orgânico entre 40 e 45 mil vidas por mês”.

 Cyrela (BOV:CYRE3) – queda de 18% em 2021

Assim como a Eztec, a Cyrela também é uma empresa que vê suas margens pressionadas pela alta no custo das matérias-primas vista nos últimos tempos, reflexo sobretudo da pandemia. Segundo a Fundação Getulio Vargas, em maio a inflação acumulada em 12 meses sobre os produtos do segmento foi a maior já registrada nos últimos 28 anos! E se a Cyrela cai com o aumento da inflação, cai também com a elevação da Selic, que torna os financiamentos imobiliários ainda mais caros.

De acordo com o Credit Suisse, com a alta da taxa de juros, a procura por imóveis pode ficar mais restrita e inclusive forçar as empresas do setor a reduzir a quantidade de lançamentos e, consequentemente, as vendas. Porém, a estimativa é que essa pressão fique mais concentrada no primeiro semestre deste ano, com mais lançamentos feitos a partir da segunda metade de 2021.

Quentão

Um papel quentão é aquele que anima qualquer festa. Refere-se às maiores altas do Ibovespa neste ano, das ações mais quentes do momento. Nesse caso, temos também cinco companhias para destacar:

Braskem (BOV:BRKM5) – alta de 130% em 2021

A valorização do petróleo é um grande atrativo para as empresas ligadas à commodity, mas, no caso da Braskem, existem outras justificativas somadas. A companhia apresentou excelentes resultados no primeiro trimestre deste ano. Na verdade, foi o terceiro trimestre consecutivo de alta nos números operacionais, além de uma redução na alavancagem expressiva (de 5,8x para 1,8x) e melhora de lucro e receita líquidos.

E para o segundo trimestre a empresa se mostra bastante otimista, tanto para suas operações no cenário doméstico quanto nos Estados Unidos e México. Para a Europa, ela espera que o desempenho fique estável, mas com melhora de spreads (diferença entre o valor de compra e o de venda).

Vale lembrar que a companhia está em um possível processo de venda de controle, e há diversos fundos de investimentos e empresas petroquímicas interessadas, o que pode trazer ainda mais valor ao acionista.

Embraer (BOV:EMBR3) – alta de 120%

A companhia aérea tem uma das ações consideradas pechinchas da Bolsa atualmente pelos analistas da Toro Investimentos. Para eles, “o preço das ações EMBR3 está descontado, principalmente devido ao cenário adverso provocado pela pandemia de Covid-19 e pelas divergências ocorridas na negociação com a Boeing, que pode significar novas parcerias estratégicas, impactando o desempenho e gerando espaço para evolução. Dessa forma, visando o longo prazo, recomendamos a compra do ativo EMBR3”.

E sobre essas parcerias há grandes novidades. A Embraer já divulgou algumas para promover o desenvolvimento de veículos elétricos de decolagem e pouso vertical, inclusive com demanda já prevista dessas produções.

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Banco Inter (BOV:BIDI11) – alta de 110%

Diferentemente do setor de construção civil, que é penalizado com a alta da Selic, quando se trata de bancos, aí é diferente. Portanto, o Banco Inter se aproveita da elevação da taxa de juros que já começou no início do ano e deve continuar crescendo. Mas não é tudo. A base de clientes tem aumentado consistentemente e a meta da empresa é duplicar o portfólio atual de 10 milhões de usuários até o fim deste ano ainda. Difícil? Não se pensar que essa base (referente ao 1T21) já representa 106% a mais do que ela tinha um ano antes.

E ainda têm muitas outras coisas para acontecer. Uma delas é um follow-on de até R$ 5,5 bilhões, sendo que a Stone, a empresa de maquininhas, já tem dinheiro no bolso e preferência para abocanhar uma parte disso. Outra é a listagem da companhia na Nasdaq, Bolsa de Valores norte-americana, o que aumenta a perspectiva de volume de investimentos e de liquidez dos papéis, que já foram desdobrados para facilitar ainda mais o processo.

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Hering (BOV:HGTX3) – alta de 107%

O lucro da companhia no primeiro trimestre deste ano saltou mais de 290%, além de o balanço estar recheado de outros números também relevantes. Porém, o que ajudou os investidores a se lembrarem de HGTX3 neste ano foi um galanteio da Arezzo, mas que foi rejeitado. É claro que o interesse chamou atenção, mas a sequência dos fatos mais ainda: a Hering aceitou a proposta de outra gigante, ou melhor, de um grupo inteiro, o Grupo Soma. A operação deve gerar ganhos de sinergia e, é claro, uma melhora das margens.

Locaweb (BOV:LWSA3) – alta de 38%

Assim como o Banco Inter, LWSA3 entrou para o Ibovespa no começo deste ano, o que já dá outra visibilidade para ela. E também semelhante ao banco, essa é uma companhia que dobrou sua base de clientes ainda em 2020, um ano desafiador.

Mas o crescimento não é o único motivador da alta. Por ser uma companhia de tecnologia, o desempenho acaba acompanhando também o de seus pares internacionais. Assim, se o setor está em alta lá fora, provavelmente as companhias aqui também receberão o olhar e o dinheiro dos investidores estrangeiros. E normalmente está. Soma-se a isso o fato de a Locaweb atuar forte com parcerias e aquisições estratégicas, o que sempre dá visibilidade para ela no mercado e a melhor posiciona diante dos concorrentes.

Independente de ter ações pamonha ou quentão, o importante é estar nesse arraiá. E bora dividir esses quitutes com seus amigos, compartilhe este conteúdo! Aproveite e também comente aqui embaixo: quais das ações apresentadas você tem em carteira? Mais pamonhas ou mais quentão?