Samarco sofre “chantagem” de “fundos abutres”, depois que fundos que detêm bilhões de reais em dívidas tentaram im...
02 Julho 2021 - 3:16PM
ADVFN News
Após o processo de recuperação judicial da Samarco ganhar os
holofotes por conta da briga da mineradora com seus credores, a
empresa resolveu quebrar o silêncio. Depois que fundos que detêm
bilhões de reais em dívidas da companhia tentaram impedir na
Justiça que a empresa faça pagamentos à Fundação Renova –
responsável por reparar a tragédia de Mariana (MG), em 2015 -, a
companhia apontou sofrer “chantagem” de “fundos abutres”.
As declarações são do advogado que representa a Samarco, Daniel
Vilas Boas, do escritório VLF. Ele afirma que a “chantagem” tem o
objetivo de garantir melhores termos na negociação para o pagamento
dos créditos discutidos dentro do processo de recuperação judicial.
“Esses credores têm usado do meio processual para gerar obstáculos
e constrangimento, para que a Samarco se sinta acuada. Esse é o
modus operandi desses fundos”, disse Vilas Boas, em entrevista ao
Estadão.
Esses fundos compram ativos de empresas em dificuldades – tipo
de investimento de elevado risco. Por isso, são chamados no mercado
de “fundos abutres”. No caso da Samarco, segundo informações de
mercado, os fundos, liderados por nomes como York e Ashmore, detêm
cerca de metade da dívida de R$ 50 bilhões da Samarco. Esses fundos
compraram títulos de dívida principalmente em 2018, com um desconto
médio de 50% a 60%.
O advogado diz que a Samarco – que ficou sem operar durante
cinco anos – foi obrigada a fazer o pedido de recuperação judicial
em abril de 2021, após os fundos se mostrarem agressivos e
começarem a executar a empresa. “A Samarco só decidiu entrar com o
pedido de recuperação para se proteger. A empresa preferiria ter
tratado com os credores fora do processo de recuperação judicial,
mas as condições não foram razoáveis”, afirma.
Vilas Boas afirmou que a Samarco tomou dívida junto a bancos
americanos e japoneses para financiar um projeto de expansão e que
essa seria a origem da dívida detida hoje pelos fundos.
Ele disse ainda que a postura mais agressiva coincidiu com a
retomada das atividades da Samarco, no fim de 2020. Desde então, a
própria empresa começou a arcar com os pagamentos à Renova – cerca
de R$ 500 milhões por mês. Nos anos em que a empresa não funcionou,
Vale (BOV:VALE3) e BHP fizeram os pagamentos.
Esses valores foram incluídos no pedido de recuperação judicial,
dando às acionistas R$ 24 bilhões em crédito no processo. Esse
também tem sido um ponto recorrente nas petições dos credores, que
dizem que tal cobrança seria indevida.
Para o advogado da Samarco, os credores querem “fatiar” o
pagamento de uma obrigação que é da Samarco, e não de suas
acionistas. “Os credores estão querendo dividir essa conta em três.
Não sei de onde tiraram essa história”, diz Vilas Boas. O advogado
lembra que tais condições estavam claras nos acordos com órgãos
governamentais – e são anteriores à “venda” da dívida para os
fundos.
Segundo fonte próxima aos credores, a Samarco não poderia
realizar pagamentos fora da recuperação judicial – nem para a
Renova. A mesma fonte afirma que a fundação não vai ficar
desamparada, uma vez que Vale e BHP têm capital suficiente para
essa obrigação. Já o advogado da Samarco esclarece que a empresa
não colocará credores financeiros nem suas acionistas à frente da
reparação dos danos da tragédia de 2015.
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