A mineradora Vale apresentou um novo produto que poderá reduzir
em até 10% a emissão de gases do efeito estufa (GEE) na produção de
aço de seus clientes siderúrgicos.
O “briquete verde” da Vale (BOV:VALE3), que estará em produção
em 2023, é formado por minério de ferro e uma solução tecnológica
de aglomerantes, que inclui em sua composição areia proveniente do
tratamento de rejeitos de mineração, e é capaz de resistir à
temperatura elevada do alto-forno sem se desintegrar, disseram
executivos da companhia à Reuters.
O produto foi desenvolvido pela empresa ao longo de quase 20
anos e está incluído na estratégia da Vale de reduzir em 15% as
suas emissões de escopo 3, relativas à cadeia de valor, até
2035.
“Esse é efetivamente o primeiro produto inovador que se dispõe
de fato a ajudar a reduzir o problema da descarbonização. Coloca a
Vale na liderança para uma solução efetiva, imediata”, afirmou o
vice-presidente executivo de Ferrosos da mineradora, Marcello
Spinelli.
A produção do “briquete verde” será inicialmente realizada nas
usinas 1 e 2 de pelotização, na Unidade Tubarão, em Vitória (ES),
que serão convertidas para este fim; e no Complexo de Vargem
Grande, em Minas Gerais, onde está sendo instalada uma nova
planta.
As duas plantas que serão convertidas eram mais antigas e
estavam paralisadas, segundo o diretor de Marketing de Ferrosos,
Rogerio Nogueira.
Já a usina de Vargem Grande será instalada ao lado de uma planta
de concentração magnética da empresa da Vale chamada New Steel, que
tem uma tecnologia inovadora capaz de entregar um concentrado de
até 68% de teor de ferro, a partir de minérios pobres, sem o uso de
água.
“É uma quebra de paradigma tecnológico conseguir concentrar
minério e aglomerar, sem o uso de barragens”, disse Nogueira,
pontuando que o produto final do processo ainda será de alta
qualidade e com valor agregado.
Operação Comercial
A capacidade inicial de produção é de aproximadamente 7 milhões
de toneladas por ano, e o início das três plantas está previsto
para 2023.
Os executivos afirmaram que já vem conversando com siderúrgicas
do mundo inteiro e que há grande interesse no novo produto, que tem
patentes registradas em 47 países.
Já o investimento soma 185 milhões de dólares. A estimativa é de
que, no longo prazo, a companhia tenha capacidade para produzir
acima de 50 milhões de toneladas por ano de “briquete verde”, o que
levaria a um potencial de redução de emissão superior a 6 milhões
de toneladas de carbono equivalente por ano (MtCo2e/ano) com uso da
tecnologia.
Nogueira explicou que a oferta do novo produto crescerá conforme
o avanço da demanda e que o volume de capacidade previsto
atualmente é conservador. “Pode ser muito mais”, afirmou.
A redução de GEE ocorre porque o produto permite ao siderurgista
reduzir a dependência da sinterização, processo anterior à produção
do aço no qual há a aglomeração do fino de minério de ferro
(“sinter feed”).
Segundo a Vale, a sinterização demanda o uso intensivo de
combustíveis fósseis para o alcance de uma temperatura de processo
em torno de 1.300 graus Celsius.
Já o briquete da Vale é considerado um aglomerado a frio, no
qual não ocorre queima, mas uma cura a uma temperatura entre 200 e
250 graus Celsius, demandando menos energia. Dessa forma, há um
menor uso de energia e também um ganho operacional na produção, com
menores custos.
O produto reduz ainda a emissão de particulados e de gases como
dióxido de enxofre (SOX) e o óxido de nitrogênio (NOX), além de
dispensar o uso da água na sua produção.
O “briquete verde” está incluído na estratégia da Vale de
reduzir em 15% as suas emissões de escopo 3, relativas à cadeia de
valor, até 2035.
A meta de redução de escopo 3 faz parte da estratégia da Vale de
zerar suas emissões líquidas de carbono diretas e indiretas
(escopos 1 e 2) até 2050. Para isso, a empresa vai investir entre 4
bilhões e 6 bilhões de dólares para reduzir em 33% essas emissões
até 2030.
VISÃO DO MERCADO
Bank of America
A Vale vem trabalhando em “iniciativas interessantes” para
reduzir a emissão de carbono em suas cadeias, de acordo com o Bank
of America (BofA). O banco participou de um evento da companhia
voltado a investidores.
O BofA aponta que a Vale vem adotando iniciativas para redução
do gás carbônico relacionado à cadeia de valor do aço. Segundo os
analistas, a Vale patentou um novo briquete de minério de ferro de
baixa temperatura que pode substituir qualquer produto, como
pellets ou granulados.
O material também reduz as emissões de partículas como os óxidos
de nitrogênio e óxidos de enxofre nas siderúrgicas, além de
apresentar baixo custo operacional e menor pegada de carbono.
Outro destaque é a retomada da capacidade da companhia, que
volta a ser competitiva em relação a grandes pares, com novidades a
serem anunciadas ainda neste mês.
O BofA também afirma que as ações da companhia estão
“extremamente desvalorizadas”. A recomendação do banco para os
recibos de depósito (ADRs, na sigla em inglês) da Vale é de compra,
com preço-alvo de US$ 27, o que representa potencial de alta de
47,5% ante a cotação nesta sexta-feira.
Itaú BBA
O Itaú BBA também chama atenção para o novo produto. “Vemos a
iniciativa como fundamental, pois visa garantir a sustentabilidade
de suas operações no longo prazo, mas notamos que os investidores
podem não pagar por isso antecipadamente”, escreve.
O banco tem recomendação de compra e preço-alvo de
US$ 25 para os papéis da mineradora negociados na bolsa
americana.
Levante
Segundo a casa de análise Levante, a iniciativa é positiva, dado
que a Vale investe em novas tecnologias e soluções para reduzir as
emissões de carbono de sua cadeia, diminuindo riscos ESG ligados à
empresa. “Porém, não esperamos impactos relevantes no curto
prazo, visto que esse projeto não possui um investimento
considerável e só deve gerar resultados no longo prazo.”
Morgan Stanley
Na avaliação do Morgan Stanley, a Vale está bem posicionada para
se beneficiar da tendência de redução de emissões de carbono por
parte dos produtores de metal, uma vez que oferece minério de ferro
de alta qualidade e definiu metas “agressivas” de corte de
emissões.
A Vale prevê reduzir as emissões líquidas do “escopo 3” em 15%
em relação aos níveis de 2018, o que apoiará os esforços do setor
em se descarbonizar.
Em relatório, o Morgan Stanley escreve que continua com
recomendação overweight (acima da média do
mercado) para as ações da Vale, devido ao forte impulso do minério
de ferro e ao valuation mais barato em relação
aos pares e à média histórica. O banco estima um preço-alvo de US$
26 para os papéis da mineradora negociados na bolsa de Nova
York.
Na avaliação do banco, a continuação dos altos preços do minério
de ferro durante o segundo semestre de 2021 provavelmente resultará
no pagamento de dividendos extraordinários adicionais.
“Projetamos que a Vale apresentará sólidos fluxos de caixa livre
nos próximos anos, apesar das previsões de preços mais baixos do
minério de ferro e dos pagamentos futuros referentes ao acidente de
Brumadinho, o que deve permitir que a empresa devolva o caixa
excedente aos acionistas por meio de dividendos e/ou recompras”,
escreve.
Informações Reuters
VALE ON (BOV:VALE3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
VALE ON (BOV:VALE3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024