Fusão entre a BrMalls e Aliansce Sonae deve gerar um retorno bem menor do que o montante que vem sendo divulgado pelas empresas
12 Junho 2022 - 10:36PM
ADVFN News
A fusão entre a BrMalls e Aliansce Sonae, aprovada ontem em
assembleias de acionistas dos dois lados, deve gerar um retorno bem
menor do que o montante que vem sendo divulgado pelas empresas. A
afirmação é dos analistas de shoppings André Mazini e Renata
Cabral, do Citi.
A dupla escreveu um relatório apontando que as sinergias
oriundas da combinação da duas empresas deve gerar ganhos anuais na
ordem de R$ 100 milhões. Esse valor equivale a menos da metade dos
R$ 210 milhões anunciados pela Aliansce Sonae (BOV:ALSO3) durante
as negociações para convencer investidores a aprovarem a fusão.
“Acreditamos que será difícil entregar os R$ 210 milhões em
sinergias anuais que a empresa está propondo. Olhando para
experiências anteriores de fusões nesse mercado, achamos que cerca
de metade disso é viável”, afirmam.
Os analistas do Citi trabalham com a expectativa de que as
sinergias fiquem no patamar de 5% do lucro operacional medido pelo
Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização)
de BrMalls (BOV:BRML3) e Aliansce combinadas, que deve ser de R$
1,9 bilhão em 2023, nas suas contas.
E por que 5%? Esse número foi levantado com base em experiências
anteriores de outras empresas de shoppings mundo afora que também
passaram por fusões. O exemplo citado no relatório é o caso da
gigante URW, resultante da combinação de três empresas.
A URW começou com a fusão entre a francesa Unibail e a holandesa
Rodamco, gerando ganhos de 5% do Ebitda nos idos de 2007. Mais
tarde, esse grupo comprou a operação da australiana Westfield nos
Estados Unidos, e as sinergias ficaram na casa dos 3% do Ebitda.
Isso foi em 2018.
É preciso ponderar que na segunda operação os ganhos foram
menores porque os shoppings do conglomerado URW estavam espalhadas
por Estados Unidos e Europa, o que dificultou alguns movimentos de
integração. Mesmo assim, os ganhos resultantes da combinação dos
negócios ficaram abaixo das expectativas.
“Tanto é que o portfólio da Westfield nos Estados Unidos está à
venda apenas quatro anos depois de ter sido comprado, indicando que
há limites para os ganhos de escala que um portfólio de shopping
cada vez maior e diversificado pode obter”, alertaram os analistas
do Citi.
Eles apontaram que a URW não teve um avanço significativo no
campo digital (algo que as empresas de shoppings estão buscando
construir para fazer frente ao comércio eletrônico). Tampouco gerou
sinergias expressivas. A maioria dos ganhos veio dos cortes de
despesas gerais e administrativas.
No mercado brasileiro, uma boa referência foi a fusão entre a
Aliansce e a Sonae Sierra, em 2019, que desencadeou sinergias
também na faixa de 5% do Ebitda, segundo o time do Citi. E olha que
Aliansce e Sonae já atuavam no mesmo mercado, ao contrário da URW
que foi formada a partir de empresas de países diferentes.
“Por isso, vemos 5% como uma estimativa razoável para sinergias
no processo de Brmalls e Aliansce”, decretaram Mazini e Cabral.
Analistas de outros bancos também se questionam sobre o que
esperar em termos de sinergias com a operação das empresas. “A
aprovação da fusão nesta semana foi positiva, embora amplamente
esperada. O mercado agora se concentrará nas discussões sobre
potenciais sinergias”, afirmou o analista do Bradesco BBI, Bruno
Mendonça, em relatório. “Não descartamos que a nova gestão
combinada vá ajustando essa projeção à medida que o processo de
integração avança”, ponderou.
Já o analista Marcelo Motta, do JP Morgan, publicou um relatório
nesta semana alertando investidores que entre os riscos da fusão
está que as sinergias acabem ofuscadas pelos custos das empresas
com assessores financeiros e a integração dos negócios.
“Recomendamos que os investidores comprem proteção contra possíveis
desvantagens caso a fusão não seja aprovada, os custos de
integração sejam maiores do que o esperado ou as sinergias fiquem
abaixo expectativas”.
Após a aprovação dos acionistas, o negócio aguarda agora aval do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
⇒ O que dizem as empresas
Em entrevista ao Broadcast nesta quarta-feira, 8, após as
assembleias de acionistas os CEOs de Aliansce e BrMalls, Rafael
Sales e Ruy Kameayama, afirmaram que vão trabalhar conjuntamente
para divulgar uma estimativa precisa de sinergias esperadas com a
fusão.
A Aliansce havia divulgado a projeção de R$ 210 milhões em
ganhos por anos – dado que foi questionado pela própria BrMalls
durante as tratativas. O cálculo foi alvo de uma revisão feita pela
consultoria Mckinsey, que teria apontado que o patamar pode ser até
maior, segundo Sales.
Segundo os executivos, as sinergias virão do aumento das
receitas, cortes de despesas e ganho de escala em programas de
fidelidade, publicidade e digitalização dos canais de vendas.
“Teremos a oportunidade de acelerar a ocupação dos shoppings e a
substituição de lojistas, atraindo aqueles com melhor performance.
Seremos o maior parceiro dos lojistas em suas estratégias de
crescimento”, exemplificou o presidente da Aliansce.
O novo grupo também será o maior proprietário de estacionamentos
no Brasil, por exemplo, com chance de otimizar a gestão. Outro
ponto importante será a diluição de despesas com desenvolvimento de
aplicativos e soluções de vendas.
A barganha vai se estender desde contratos com prestadoras de
serviços de limpeza e manutenção, até fornecimento de energia
elétrica e construtoras, completou Kameyama. “A empresa que nasce
da fusão tem um porte muito grande. Existem os custos de
formatação, mas a partir daí se abrem grandes oportunidades”,
ressaltou.
Informações Broadcast