Após a decisão de não entrar na disputa por Congonhas,
considerado um dos aeroportos mais rentáveis do País, cresce a
pressão sobre a CCR acerca de seus próximos passos para continuar
crescendo. A percepção do mercado é que sobram poucos projetos com
retornos interessantes e que deem sinergia para a companhia, que
agora tem margem limitada de escolha de alocação de capital.
O cenário fica ainda mais desafiador com o pedido de renúncia,
no mês passado, do CEO do grupo, Marco Cauduro, deixando para o
próximo presidente a tarefa de encabeçar o processo de redefinição
da empresa. Na manhã da última sexta-feira, 9, o executivo comentou
sobre a sua saída, apesar de não dar detalhes.
“Essa situação é fruto de uma decisão pessoal, alinhada com o
Conselho de Administração da companhia, que executa essa transição.
Quero realçar que teremos continuidade. Independentemente da
transição da liderança, há um plano bastante concreto, consistente,
com métricas, metas e propósito declarado”, afirmou durante evento
CCR Day com investidores, em São Paulo.
A CCR (BOV:CCRO3) é o maior grupo de infraestrutura da América
Latina. Atualmente, administra 39 ativos, entre concessões e
serviços, tem presença em 230 cidades e 13 estados, e possui mais
de 17 mil funcionários. Entre 2019 e 2022, investiu mais de R$ 10
bilhões. Atua em três negócios principais: rodoviário,
aeroportuário e mobilidade urbana. O grupo administra mais de 3,6
mil quilômetros de rodovias, incluindo a concessão mais importante
do setor, a Presidente Dutra (que liga São Paulo ao Rio de
Janeiro), além de 16 aeroportos e ativos como as linhas 8 e 9 da
CPTM.
“A CCR é tão grande que se acostumou a ser consultada pelo poder
público, que sempre levou em consideração suas ponderações em
leilões de infraestrutura”, afirma uma fonte de um banco de
investimento. “Hoje, o grupo perdeu um pouco essa força”,
acrescenta.
O grupo de infraestrutura surpreendeu o mercado ao anunciar a
desistência da 7ª rodada de concessão de aeroportos, ocorrida no
último dia 18 de agosto. A “joia da coroa” do certame, Congonhas
(SP), vinha acompanhada de outros 10 terminais menores e
deficitários.
“Apesar da escala de Congonhas, olhamos o projeto sob uma
perspectiva única. Vimos incertezas macroeconômicas e desafios de
execução que não são triviais, além de algumas não conformidades
que o ativo tinha em edital”, diz Cauduro. “A diretoria, com apoio
do conselho, tomou a decisão de não participar, não seríamos
competitivos e não estávamos dispostos a correr o risco”,
acrescentou.
Para uma fonte próxima à companhia, Congonhas era
indiscutivelmente bom, mas o bloco tinha uma série de outros
aeroportos que não agregavam tanto valor. “A conta não fechava. Se
fosse para entrar, seria com ágio zero. Houve consenso dentro da
CCR de que não valia a pena entrar na disputa, havia mais riscos do
que benefícios.”
A CCR também investiu tempo – e muitos recursos – para estudar o
projeto do rodoanel da região metropolitana de Belo Horizonte (MG),
que acabou sendo arrematado pelo grupo italiano INC, que estreou no
Brasil. Segundo uma fonte do mercado, a CCR tem bastante interesse
em Minas e sabe da potencialidade dos ativos locais. “O projeto do
rodoanel de BH era muito ruim, por isso a CCR decidiu não entrar”,
afirma.
Neste contexto, o grupo brasileiro está tentando acertar a
estratégia para continuar crescendo sobre uma base grande. “A
tendência é que a CCR cresça com novos projetos, mas que devem ter
uma TIR (taxa interna de retorno) mais baixa do que no passado.
Está difícil explicar isso para o investidor”, afirma uma fonte do
mercado.
Olho no lance
No curtíssimo prazo, o grupo deve oferecer lance pelo Lote
Noroeste de rodovias do estado de São Paulo, programado para a
próxima quinta-feira, afirma uma fonte ligada à companhia. Durante
o CCR Day, o CFO Waldo Perez disse que a companhia está olhando de
perto o ativo. “Estamos olhando com muito cuidado a licitação da
semana que vem, se não ganharmos essa próxima, não nos faltarão
oportunidades, temos balanço e robustez financeira.”
Outro leilão que o grupo não deve ficar de fora é a 8ª rodada de
aeroportos, que incluirá Santos Dumont e Galeão (RJ). “A 8ª rodada
deve ficar mais para 2023, 2024, com Santos Dumont e Galeão. A
companhia olhará com todo cuidado, assim como olhou Congonhas até o
último dia, e assim como olharemos a relicitação de Viracopos e
Natal”, afirmou Cauduro.
Para um analista do mercado, a CCR tem boas oportunidades à
frente. “O grupo não tem empresas que consigam competir com a mesma
força, a EcoRodovias, por exemplo, está bastante endividada.”
Para o diretor de novos negócios da CCR, Gustavo Lopes, a
companhia vai ser apoiar em diversos pilares para continuar
crescendo, que vão além das licitações, como fusões e aquisições,
movimentações societárias e aditivos aos contratos já existentes, o
que ele chama de “limpeza da mesa”. “Tanto ativos quanto passivos
regulatórios tomam muito tempo, geram insegurança jurídica, é muito
importante resolvermos isso para também começar a pensar o que
interessa.”
Ele também esclarece que há projetos que consomem muito capital
próprio e aqueles que são autofinanciáveis. “O próprio projeto gera
receita para o investimento, é diferente quando a outorga é grande
e não é possível financiar essa outorga no projeto.”
Lopes acrescenta ainda o potencial das movimentações societárias
para trazer ganhos ao grupo. “Na prática, é trazer um investidor
para uma plataforma de negócio que a companhia já opera. Se for
primário, ela aporta recursos com a compra de uma participação
minoritária.”
Para uma fonte do mercado que acompanha a CCR, o próximo desafio
do grupo é se redefinir. “Quem entrar na companhia terá que
redefinir o que vai ser da CCR, está muito grande e com poucas
alternativas para continuar crescendo como no passado.”
VISÃO DO MERCADO
Bradesco BBI
O Bradesco BBI, em relatório assinado pelos analistas Victor
Mizusaki, André Ferreira e Pedro Fontana, tem opinião parecida.
“A CCR está diversificando fornecedores, estudando compras
combinadas com outros players para ganhar escala e internalizando
alguns processos, como construir sua própria usina de asfalto para
minimizar pressões de custos”, comentaram.
O banco ainda pontua que a CCR apresentou interesse em buscar
novos parceiros para além das compras combinadas – com a criação da
CCR Aeroportos, CCR Mobilidade Urbana e CCR Rodoviárias. Além
disso, após as recentes concessões, a companhia, para eles, pode
ser muito mais seletiva ao tentar novos projetos.
Segundo as duas instituições financeiras, o principal desafio da
CCR é a concessão da ViaSul, realizada em 2018, com projeções da
época.
“A Concessão Rodoviária ViaSul será reequilibrada até março de
2023. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) já havia
desenvolvido sua metodologia para o reequilíbrio econômico
relacionado às perdas causadas pela COVID-19 nas concessões
rodoviárias federais e, assim, a CCR espera que a reequilíbrio da
ViaSul a ser anunciado em março de 2023 por meio de reajuste
tarifário”, pontuam os especialistas do BBI.
JP Morgan
O JPMorgan, por fim, aponta que a companhia terá mais de R$ 30
bilhões em capex a serem executados.
“A CCR tem mais de R$ 30 bilhões em Capex a serem executados,
com a Dutra sendo responsável por R$ 15 bilhões e outros R$ 11
bilhões em contratos relevantes (por exemplo, pavimentação das
pistas adicionais na BR-116 e BR-101) – mas com preços
estabelecidos de acordo com os planos de concessão”, comentam.
Entre os projetos de concessão que podem contar com a
participação da CCR, estão o Lote Noroeste Paulista, ainda nesta
semana, e o bloco de rodovias paranaense, em 2023. A administração
disse ainda que estudará a oitava rodada de leilões de concessões
aeroportuárias, bem como leilões dos aeroportos de Viracopos e São
Gonçalo.
O banco americano, em relação aos custos, destaca que a
alavancagem da companhia, medida pela relação entre o lucro antes
de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em
inglês) e a dívida líquida, encerrou junho em um múltiplo de 3,2 –
sendo que o máximo imposto pela companhia é um múltiplo de 3,5.
“A administração destacou que a maior parte de sua dívida vence
somente após 2031, e os picos de vencimento da dívida em 2023 e em
2024 (R$ 3,6 bilhões e R$ 5 bilhões, respectivamente). Considerando
o vencimento da dívida da CCR Holding, R$ 1,5 bilhão vence no
próximo ano, mas a empresa deve negociá-la parcialmente”, afirma o
JP.
Tanto os gastos com investimentos como os com a dívida, lembra o
banco, serão cruciais para que a companhia consiga maximizar seu
retorno aos acionistas – distribuindo dividendos sem comprometer o
balanço ou as oportunidades de crescimento.
XP Investimentos
“Destacamos três pontos principais do encontro: a CCR agora
possui uma cultura corporativa mais forte e um planejamento
estratégico orientado para o cliente; perspectivas operacionais
positivas, com recuperação de volumes e capex sob controle; e
gestão financeira orientada para o retorno total ao acionista,
sendo os dividendos uma parte dessa estratégia”, abrem Pedro Bruno
e Lucas Laghi, analistas da XP Investimentos.
Os dois apontam, em relatório, que a CCR reforçou seu
compromisso em ser uma empresa de mobilidade ampla (com foco em
aeroportos, rodovias e mobilidade urbana), o que já vem fazendo há
alguns anos, e também passou uma mensagem positiva sobre a demanda
– ainda impactada pela pandemia.
A administração, segundo os especialistas da XP, espera que o
tráfego total do portfólio de rodovias atinja os níveis de 2019 até
o final de 2022 – sendo que, até agora, apenas o tráfego de
veículos pesados ultrapassou os níveis pré-pandemia, enquanto os
veículos leves ainda apresentam impacto de mudanças mais
estruturais nos hábitos de mobilidade
Em mobilidade urbana, a CCR deve manter seu caminho de
recuperação, hoje aproximadamente 20% abaixo dos níveis
pré-pandemia. No tráfego aeroportuário, a companhia deve
intensificar a recuperação no curto prazo, uma vez que as taxas de
ocupação das companhias aéreas estão melhorando junto com fortes
sinais de reserva de passagens à frente.
Quanto aos investimentos, Bruno e Laghi definem que a companhia
tem um plano com certos riscos, mas com estes sob controle.
“A administração da CCR está altamente consciente do desafio de
execução imposto pelo forte perfil de capex dos próximos anos, após
ter conquistado vários novos projetos, com o capex anual passando
de R$ 2 bilhões para R$ 5 bilhões”, destacam os analistas.
Informações Broadcast
CCR ON (BOV:CCRO3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mar 2024 até Abr 2024
CCR ON (BOV:CCRO3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2023 até Abr 2024