CVM forma maioria para absolver irmãos Batista por suposto insider trading
30 Maio 2023 - 08:31AM
ADVFN News
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) adiou nesta
segunda-feira (29) o julgamento de três processos contra os irmãos
Joesley e Wesley Batista, da família controladora da JBS, por
suposta manipulação de mercado em função do acordo de delação
premiada feita pelos executivos, no âmbito da Operação Lava
Jato.
A dupla já obteve maioria para a absolvição das acusações.
Apesar do placar favorável aos executivo e uma possível multa de R$
500 mil à J&F, a diretora Flávia Perlingeiro pediu vistas nos
três processos do dia e deverá apresentar seu voto em até 60
dias.
No primeiro processo, os irmãos Batista e a holding J&F eram
acusados de insider trading com papéis da JBS (BOV:JBSS3). O motivo
recorre a 17 de maio de 2017, quando o colunista Lauro Jardim
divulgou que Joesley teria delatado o então presidente Michel Temer
(MDB). O dia seguinte ficou conhecido na Bolsa como “Joesley Day”,
marcado pela maior queda do Ibovespa desde a crise de 2008 e a
maior alta do dólar em 14 anos. Por conta da acusação, os
empresários ficaram presos por seis meses entre 2017 e 2018.
A acusação apontava que Joesley e Wesley sabiam que sua delação
poderia influenciar nas cotações do frigorífico na Bolsa e teriam
autorizado a venda dos papéis pela J&F antes da baixa. Por
outro lado, a JBS estava em curso com um programa de recompra de
ações, o que a permitiria comprar as ações mais em conta, ainda de
acordo com a promotoria.
A acusação apontou ainda de que teria ocorrido ganho indevido de
R$ 72,9 milhões por parte dos controladores pela venda de mais de
36 milhões de ações da JBS em posse da holding dos Batista.
No entanto, o relator Otto Lobo, os diretores Alexandre Rangel,
João Accioly e o presidente da CVM, João Pedro do Nascimento,
acolheram os argumentos da defesa de que não seria possível prever
os efeitos de um eventual vazamento da informação da delação.
A maioria dos diretores aceitou a explicação de que havia
necessidade financeira da J&F para cumprir o pagamento de
dívidas e que a negociação dos papéis seria necessária.
Por outro lado, o conselho da JBS já havia aprovado o programa
de recompra de ações semanas antes do primeiro contato dos irmãos
Batista com a Procuradoria-Geral da República (PGR) para iniciar as
negociações para a delação.
Três diretores votaram por uma multa de R$ 500 mil à J&F por
descumprir o prazo legal para a negociação dos papéis, enquanto
João Accioly votou pela absolvição da holding.
Em nota, a J&F Investimentos, holding dos empresários,
afirmou que “o julgamento da CVM desfaz a injustiça cometida contra
o grupo e os empresários, ratificando a lisura e a legitimidade com
as quais a J&F, seus executivos e empresas controladas sempre
operaram no mercado financeiro”.
Operações com juros
No segundo processo do dia, em que Joesley Batista, a J&F e
Emerson Loureiro, então chefe da mesa de operações do Banco
Original, instituição financeira da família, foram acusados de
supostos ganhos no mercado de juros futuros em razão da
volatilidade causada pela delação. Nos cálculos da acusação, o
ganho teria sido de R$ 52 milhões.
Mas Lobo, Rangel, Accioly e Nascimento entenderam que também não
seria possível prever qual o efeito que eventual vazamento da
delação teria sobre o mercado financeiro, uma vez que já existiam
especulações de que os irmãos Batista assinariam um acordo de
colaboração com a PGR antes da notícia publicada por Lauro
Jardim.
Nascimento destacou que, embora existisse uma assimetria de
informação por parte de Joesley, Loureiro não teria feito nenhuma
transação atípica em relação à média do que a mesa do Original
operava e em relação aos seus concorrentes.
Otto Lobo pontuou que o banco também não teria utilizado todo o
limite de recursos diários para as operações, dando outro
indicativo de que a instituição não teria trabalhado com informação
privilegiada.
Operação com dólar
Por fim, o último processo tratou sobre os efeitos do vazamento
da delação premiada no mercado de câmbio, em especial às operações
de proteção cambial, o chamado hedge, de JBS, Seara e Eldorado,
empresas da J&F.
Neste caso, Wesley Batista foi o executivo acusado de ter
passado ordem a um executivo da Eldorado para montar a proteção
cambial antes da divulgação da notícia. Segundo cálculos da área
técnica da CVM, o suposto desequilibro teria gerado um ganho
potencial de mais de R$ 520 milhões.
O presidente da CVM, João Pedro do Nascimento, se declarou
impedido e não votou neste processo. Já o relator Otto Lobo e os
diretores Alexandre Rangel e João Accioly aceitaram os argumentos
da defesa de que as posições de câmbio não foram zeradas no
polêmico pregão respeitando o vencimento dos contratos, o que
desmontaria a tese de ganho financeiro com a informação.
Outro ponto é que as transações não teriam sido atípicas e nem
fugido das políticas de hedge financeiro do grupo, em vigor desde
2009.
Seguindo a linha dos outros processos, a conclusão dos diretores
da CVM é que o efeito do vazamento da delação era imprevisível e
que Joesley e Wesley não teriam como saber quando a delação seria
homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e nem de que forma a
notícia chegaria à imprensa.
Informações Infomoney
JBS ON (BOV:JBSS3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Set 2023 até Out 2023
JBS ON (BOV:JBSS3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Out 2022 até Out 2023