A frase célebre “lugar de mulher é onde ela quiser” já virou marca registrada quando o assunto é inserir elas dentro dos contextos geralmente dominados por eles. Se você ainda não acompanhou, veja a nossa matéria especial que traz mais uma versão da frase, mas agora traduzida para a nossa bolsa de valores brasileira: a B3. Afinal, elas estão dando muito que falar quando o assunto são investimentos financeiros.

Veja a matéria especial completa: Lugar de mulher é onde ela quiser – inclusive na B3.

Sobre isso, vale também conferir outra matéria que, em um primeiro momento, só pelo título já causa impacto: Sua esposa, sua irmã e até sua mãe podem ganhar mais do que você na bolsa. Não acredita? Os números falam por si mesmos, mas já adiantamos que diversos investidores nos retornaram, após ler o material, dizendo que vão começar a pedir para a namorada ou esposa dar seu toque feminino para os rendimentos crescerem mais.

Elas estão com tudo, seja na B3 ou em outros investimentos, mas ainda precisam enfrentar muita coisa para criar uma maior representatividade em outra área ainda mais importante em termos de dominação de gênero: o Conselho de Administração.

Em pleno século XXI ainda deveria existir esse tipo de abordagem? Não, afinal a igualdade de gênero é um direito fundamental para se obter um mundo pacífico, em grande progresso e sustentável, conforme indica o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 5.

Resumidamente, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um acordo mundial para que todos os países possam fazer sua parte e cumprir 17 objetivos até 2030. O ODS número 5, no caso, refere-se à Igualdade de Gênero, que tem entre suas metas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU):

  • Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.
  • Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis.

Portanto, é um direito consolidado, porém ainda não aplicável, mas que justamente por isso tem entrado cada vez mais em debate no mundo inteiro. Segundo a pesquisa anual Panorama Mulher, de 2019, feita com 532 empresas sobretudo da área de serviços do Brasil, Europa e América do Norte, temos apenas 25% de mulheres em posição de liderança em nosso país. No mundo, o porcentual fica em 29%, considerando dados de 4.900 companhias de mais de 35 países. Ao mesmo tempo, as empresas de capital fechado possuem 20% mais liderança feminina do que as de capital aberto.

Por tipo de liderança, as mulheres representam 26% das posições de diretoria, 23% de vice-presidência e apenas 16% dos Conselhos de Administração, e é justamente sobre essa minoria que iremos tratar agora.

Mulheres que têm voz

Como revelado pela pesquisa, mulheres no Conselho de Administração ainda são algo raro e mais ainda quando se fala de empresa listada na bolsa de valores. Porém, a representatividade existe e é isso o que vamos mostrar.

No terceiro trimestre deste ano, a Teva Índices, em parceria com a Easynvest, divulgou o resultado de um estudo pioneiro chamado Teva Índices ESG Mulheres na Liderança, que “é o primeiro índice a medir sistematicamente a diversidade nos Conselhos de Administração e outros órgãos de governança das empresas listadas no Brasil. O objetivo do índice é listar, dentro do universo de empresas elegíveis, aquelas que têm maior representatividade feminina na liderança das empresas. O índice foi elaborado de acordo com benchmarks globais de mensuração de fatores ESG (ambientais, sociais e de governança)”, é o que revela a Teva Índices.

Ao todo foram analisadas 343 empresas listadas na bolsa de valores brasileira (exceto aquelas em liquidação, recuperação judicial ou extrajudicial), com capitalização mínima de R$ 300 milhões, e mais de 110 mil cargos entraram na pesquisa. Os dados foram colhidos durante quatro anos. A partir dessa mensuração, constatou-se que apenas 12% dos assentos dos Conselhos de Administração são ocupados por elas (de um total de 1.948 assentos, as mulheres assumem apenas 233). Além disso, apenas 19 mulheres (atenção, não é 19%, e sim 19 mulheres) são presidentes nos Conselhos de Administração. Isto é, 93% dos Conselhos são presididos única e exclusivamente por homens.

Segundo a pesquisa, no ritmo que está, pode demorar pelo menos 20 anos para que as mulheres ocupem 50% dos assentos dos Conselhos de Administração – atenção de novo, 20 anos para chegar a 50%, na metade de representatividade. Quando se fala em outras funções, o resultado também é surpreendente: mais de 60% dos conselhos fiscais, diretorias e comitês de auditoria não possuem mulher alguma à frente das decisões.

Na bolsa brasileira, as companhias com mulheres que têm voz no Conselho de Administração são:

  1. Magazine Luiza (MGLU3) – De 7 membros do Conselho, 3 são mulheres, o que representa 43% do conselho ocupado por elas. O Conselho é comandado pela Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues, eleita como presidente em 2015. Como Conselheiras Independentes da Magalu também contam nomes como Betânia Tanure de Barros e Inês Corrêa de Souza.
  2. Santander (SANB3 e SANB4) – De 9 cargos do Conselho, 33% têm participação feminina, incluindo nomes como Deborah Patricia Wright, Deborah Stern Vieitas e Marília Artimonte Rocca como Conselheiras Independentes.
  3. TIM (TIMP3) – De 10 cargos do Conselho, 3 são ocupados por mulheres (30%): Flavia Maria Bittencourt (como membro Independente do Conselho), Elisabetta Romano e Sabrina Di Bartolomeo como Membros do Conselho.
  4. Telefônica (TLNC34) – Com 12 membros no Conselho, 25% desse cargo está com elas: Claudia Maria Costin, Ana Theresa Borsari e Sonia Julia Sulzbeck Villalobos.
  5. Natura (NTCO3) – 25% dos assentos do Conselho são ocupados por elas (ao todo são 12 membros): Carla Schmitzberger, Jessica DiLullo Herrin e Nancy Killefer.
  6. Renner (LREN3) – As mulheres também representam 25% do Conselho total (composto de 8 membros), com Christiane Almeida Edington e Juliana Rozenbaum Munemori.

Além dessas, outras empresas também encerram o top 10, porém com participação feminina no Conselho menor: Engie (22%), Suzano (20%), B3 (18%) e Vale (15%). Essas companhias são prova de que lugar de mulher é onde ela quiser – inclusive no Conselho de Administração das empresas em que você investe.

Índice de Igualdade de Gênero

Levando essa abordagem para um escopo ainda maior – em termos de mundo –, e em se tratando de ações para aumentar ainda mais a representatividade feminina dentro das empresas, a Bloomberg divulgou no começo deste ano o resultado do seu Índice de Igualdade de Gênero, que revela quais são as empresas listadas em bolsa pelo mundo que possuem maior pontuação dentro de critérios pré-estabelecidos que envolvem representatividade feminina e compromissos com a equidade (ou igualdade) de gênero.

O levantamento é feito desde 2018 e as empresas passam por questionários que atendem cinco principais esferas:

  1. Liderança feminina e mapeamento de talentos, que inclui o compromisso de a empresa atrair, reter e desenvolver mulheres para posições de liderança;
  2. A igualdade salarial, que se refere às ações de transparência e planos que as companhias desenvolvem para eliminar as disparidades salariais;
  3. Políticas de assédio sexual, sendo avaliada a forma como as empresas tratam reclamações de funcionárias e outros processos que envolvam esse tipo de assédio;
  4. Cultura inclusiva, que trata das políticas internas que contribuam para um ambiente de trabalho mais igualitário;
  5. “Marca pró-mulher”, ou seja, a forma como as companhias revelam a figura feminina tanto interna quanto externamente, como por meio das publicidades em que são retratadas mulheres.

Na comparação do relatório de 2019 com o de 2020, houve um aumento de mais de 40% de empresas no ranking. No ano passado, foram ao todo 230 empresas que compuseram a lista, já em 2020 foram 325, distribuídas por mais de 42 países e que compreendem 11 setores da economia – apesar desse aumento, ainda são bem poucas as companhias participantes, porém, a julgar pelo aumento de um ano para outro, a tendência é que haja uma base ainda mais robusta em pesquisas futuras.

Com o resultado, foi possível verificar que 71% das empresas possuem estratégias de recrutamento feminino, enquanto 33% têm programas de volta ao trabalho após pausas na carreira (como é o caso da licença-maternidade). Entre todas as companhias participantes do índice, 44% delas dizem que as suas promoções internas foram ganhas por mulheres e 33% afirmam que suas funções de geração de receitas são ocupadas por elas.

Outro dado muito relevante é que 88% das companhias possuem horário de trabalho flexível, importante para aquelas mulheres que são mães, por exemplo. Entretanto, somente 6% das empresas do ranking possuem mulheres na função de CEO.

O Brasil marcou presença no índice, com quatro nomes conhecidos da nossa bolsa de valores brasileira: Banco Bradesco (BBDC4), BB Seguridade (BBSE3), Itaú Unibanco (ITUB3 e ITUB4) e Odontoprev (ODPV3). Como o ranking não é formado por pontos, em que aquele com maior pontuação figura no início ou no fim da lista, e sim é apresentado em ordem alfabética, pelo nome das empresas, não dá para saber qual foi a posição das nossas empresas no comparativo com as outras. Mas o fato de estar dentro já vale um joinha.

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