O Grupo Casas Bahia reportou prejuízo líquido de R$ 836 milhões no terceiro trimestre de 2023, montante 311% superior ao reportado no mesmo intervalo de 2022, informou a companhia.

Sem considerar alguns impactos de uma reestruturação em andamento pela companhia, como um saldão para reduzir estoques, além de uma provisão ligada ao cartão co-branded, o prejuízo foi de R$ 376 milhões.

O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado ficou negativo em R$ 66 milhões no 3T23, revertendo resultado positivo de R$ 390 milhões do 3T22. Isso levou a uma queda anual de 6,6 pontos percentuais (p.p.) da margem Ebitda, para -1%.

A receita líquida somou R$ 6,6 bilhões no terceiro trimestre deste ano, uma redução de 6% na comparação com igual etapa de 2022. As vendas medidas pelo indicador GMV caíram 4,1% no total, sendo que nas lojas físicas, principal operação da companhia, ficaram praticamente estáveis.

Já o lucro bruto totalizou R$ 1,513 bilhão no terceiro trimestre deste ano, contra R$ 2,149 bilhões de um ano antes.

A margem bruta foi de 23% no terceiro trimestre de 2023, baixa de 7,7 p.p. frente a margem do 3T22.

As despesas com vendas, gerais e administrativas somaram R$ 1,6 bilhão no trimestre, recuo de 10,4% ano a ano.

O resultado financeiro líquido foi negativo em R$ 679 milhões no terceiro trimestre de 2023, uma elevação de 13% sobre as perdas financeiras da mesma etapa de 2022.

No trimestre, os investimentos do Grupo Casas Bahia totalizaram R$ 108 milhões, sendo +88% do total direcionado para projetos relacionados à tecnologia para suportar o crescimento, digitalização da Companhia e a experiência do cliente.

A varejista fechou 32 lojas no trimestre, 19 da bandeira Casas Bahia e 13 do Ponto, totalizando 1.095 lojas ao final do período.

Em 30 de setembro de 2023, o caixa líquido ajustado da companhia era de R$ 871 milhões, ante R$ 95 milhões da mesma etapa de 2022.

O indicador de alavancagem financeira, medido pela caixa líquido ajustado/Ebitda ajustado, ficou em -0,5 vez em setembro/23.

Os resultados da Casas Bahia (BOV:BHIA3) referentes às suas operações do terceiro trimestre de 2023 foram divulgados no dia 08/11/2023.

VISÃO DO MERCADO

Bradesco BBI

Apesar dos números pressionados, o Bradesco BBI apontou que já era esperado que o Grupo Casas Bahia apresentasse números ruins, fortemente ajustados pelos efeitos da reestruturação. “Pensando nisso, os números do 3T23 não trazem nenhum grande movimento de tendência em relação às expectativas atuais”, avalia.

Assim, os analistas ficam de olho na condução do processo de reestruturação e no que está por vir.

Citi

O Citi também reforçou a visão de números consideravelmente abaixo do que esperava, todos conectados à “limpeza” dos estoques. As vendas totais ficaram 2% abaixo do que o Citi esperava devido às piores vendas no 1P (8% abaixo da projeção do ano), enquanto as lojas físicas ficaram em linha com o que a instituição financeira esperava.

“A Casas Bahia apontou dois grandes impactos pontuais de custos: (i) R$ 309 milhões relacionados a esforços promocionais para compensação de estoques e (ii) R$ 100 milhões relacionados à parceria de marca conjunta – aparentemente ela teve que reconhecer custos após perder certas metas de vendas estabelecido na parceria”, avalia, enquanto SG&A (custos de vendas, gerais e administrativos) ficou 9% acima do que o Citi esperava. Já o prejuízo líquido de R$ 837 milhões foi consideravelmente superior ao à projeção do banco de resultado negativo de R$ 595 milhões.

Genial

A Genial também reforçou que o resultado de Casas Bahia se consolidou aquém de suas expectativas, com a liquidação de estoques corroendo a margem bruta de forma acima do esperado (23,0% de margem bruta versus estimativa de 24,7% da casa).

“Diante desse carrego negativo em relação às nossas expectativas, somada a linha de Outras Despesas quase 70% superior ao projetado, o Grupo Casas Bahia consolidou um prejuízo contábil quase bilionário, em R$ 836 milhões (+69,9% ao ano e 21,4% além da projeção da Genial)”, aponta a casa.

Sobre o FIDC, a Genial destacou que, apesar de ter havido uma evolução nas notícias em relação ao tema, reitera não acreditar que o fundo estará implementado a tempo hábil da Black Friday, o que deve resultar em uma menor alavancagem operacional em um trimestre sazonalmente importante para o varejo.

“Com dois resultados consecutivos vindo abaixo de nossas expectativas, entendemos que o 4º trimestre será crucial para definirmos uma possível mudança de recomendação em Casas Bahia”, avalia a Genial que, por ora, mantém recomendação neutra e preço-alvo em doze meses em R$ 0,60 – upside de apenas 5,3% em relação ao fechamento de quarta-feira, quando encerrou o dia a R$ 0,57.

J.P. Morgan

O Grupo Casas Bahia teve resultados fracos no terceiro trimestre, afetados pela baixa demanda e com uma série de efeitos da execução do plano de reestruturação que afetaram vendas e margens, diz o J.P. Morgan.

Os analistas Joseph Giordano, Nicolas Larrain e Guilherme Vilela escrevem que as vendas caíram 4% e o Ebitda ficou negativo no período por conta da forte compressão nas margens para a antiga Via reduzir estoques.

O banco estima que a Casas Bahia gerou R$ 870 milhões em caixa na comparação com o segundo trimestre, ajudada pelo movimento de reestruturação. O prejuízo por ação de R$ 0,19 foi pior que a expectativa de perda de R$ 0,14 por papel.

O J.P. Morgan tem recomendação de venda para o Grupo Casas Bahia, sem estabelecer preço-alvo. Há pouco, as ações caíam 8,77%, cotadas em R$ 0,52.

Goldman Sachs

O Goldman Sachs, por sua vez, tem recomendação de venda, com preço-alvo de R$ 0,50, ou queda de 12,3% frente o fechamento da véspera.

“Embora as iniciativas de curto prazo da administração em torno de estoque, número de funcionários, despesas de marketing e redução das lojas devam permitir que a empresa entre em 2024 com uma configuração mais enxuta e lucrativa, continuamos a acreditar que a capacidade financeira da empresa para investir estrategicamente e defender iniciativas num mercado altamente competitivo permanecem limitada”, avalia.

XP

“O Grupo Casas Bahia reportou resultados muito fracos no 3T, com o macro fraco impactando faturamento, enquanto as medidas de reestruturação levaram a um Ebitda negativo”, aponta a XP.

Os analistas da casa ainda destacam que o volume bruto de mercadoria (GMV) alcançou R$ 9,81 bilhões, queda de 4,1% ante igual período do ano anterior, impactado por um macro ainda desafiador, investimentos menores em B2B e fechamentos de 11 lojas nos últimos 12 meses.

O GMV de mercadoria própria (1P) recuou 6,3%, para R$ 8,5 bilhões, enquanto o de terceiros (marketplace, ou 3P) teve alta de 13,8%, para R$ 1,3 bilhão. O faturamento bruto das lojas físicas teve baixa de 2,7% em base anual, para R$ 4,98 bilhões no terceiro trimestre de 2023, enquanto a receita das lojas on-line alcançou R$ 2,85 bilhões, queda de 9,7%.

A XP reforça ainda que a rentabilidade foi o destaque negativo dos resultados, fortemente impactada por custos de reestruturação.

A margem bruta contraiu 7,7 pontos percentuais (p.p.) na base anual, impactada pela atividade promocional para redução de estoques e uma provisão de R$ 100 milhões sem efeito caixa, relacionada a performance abaixo do esperado na parceria para cartões co-branded, que combinadas com o maior pagamento de processos trabalhistas (+74% ano a ano) levaram o Ebitda ajustado a patamares negativos, mais que compensando otimizações de despesas com menores investimentos em marketing e redução de funcionários.

“Já o prejuízo alcançou R$ 836 milhões por conta de resultados operacionais pressionados, combinados com uma alavancagem financeira ainda elevada, enquanto o fluxo de caixa livre (FCF) veio positivo em R$ 955 milhões, principalmente por estoques (R$ 760 milhões) e recebíveis (R$ 600 milhões), apesar de parcialmente compensados pelo pagamento de demandas judiciais (-R$ 350 milhões) e fornecedores (-R$ 550 milhões)”, reforça a XP.

A XP ressalta que na véspera, a companhia lançou um FIDC – fundo de investimento em direitos creditórios – de R$600 milhões, que deve melhorar a flexibilidade do Grupo da concessão de crédito. Além disso, o plano de transformação da companhia está dentro do esperado, com oportunidades adicionais de até R$ 500 milhões mapeadas.

A diretoria destacou que a geração de caixa ainda é insuficiente para cumprir com as obrigações enquanto a companhia antecipou cartões para compensar o menor apetite por crédito por parte dos bancos. Além disso, de acordo com notícias do Brazil Journal, a companhia descontinuou 23 categorias de produtos que não eram rentáveis.

A XP também tem recomendação neutra para o ativo, com preço-alvo de R$ 0,70 (ainda um upside de 23%, dado o baixo valor de face dos ativos), assim como o Citi.

* Com informações da ADVFN, RI das empresas, Valor, Infomoney, Estadão