“Irreversível” é aquilo que não volta atrás. O Ibovespa, porém, passou o dia provando o contrário. O índice abriu em queda forte, ensaiou recuperação, virou para alta, renovou máximas no fim da sessão e, depois de tudo, voltou a escorregar. Terminou a terça-feira (9) com baixa de 0,13%, aos 157.981,13 pontos, perda de 206,30 pontos.
Na véspera, o Ibovespa subiu 0,52%, aos 158.187 pontos, recuperando parte do tombo histórico de mais de 7 mil pontos visto na sexta-feira (5), a pior queda em quatro anos.
O vaivém mostra uma bolsa que tenta precificar simultaneamente a política eleitoral, a “Super Quarta” de juros e um ambiente externo ainda delicado.
O câmbio acompanhou o mau humor. O dólar comercial avançou 0,26%, para R$ 5,435. Notícia completa
Na renda fixa, os DIs subiram em toda a curva, refletindo prêmio maior de risco e expectativa mais cautelosa para a Selic. Em mais um dia de estresse, as negociações de juros chegaram novamente a ser paralisadas, sinal de mercado pouco líquido e sensível a qualquer manchete.
Flávio Bolsonaro, anistia e o preço da incerteza
O gatilho doméstico veio da política. O senador Flávio Bolsonaro afirmou que sua pré-candidatura à Presidência é “irreversível” e reforçou: “não vamos voltar atrás”. No fim de semana, ele havia sugerido que haveria “um preço” para desistir: a anistia do pai, Jair Bolsonaro, preso por tentativa de golpe de Estado.
A Câmara dos Deputados até acenou nessa direção ao votar o PL da Dosimetria, projeto que pode reduzir o tempo de prisão do ex-presidente. Mas, por enquanto, foi apenas um gesto parcial, longe de um “perdão completo”. Para investidores, a combinação de candidatura mantida e anistia incerta aumenta o ruído eleitoral e piora a visibilidade sobre o cenário fiscal e de reformas a partir de 2026.
O “mercado” tem candidato preferido, e não é nem Flávio nem Lula. A queda da bolsa, a alta do dólar e dos juros refletem rejeição explícita à candidatura de Flávio Bolsonaro, provando isso foi a queda de sexta-feira.
A expectativa dominante era de que Jair apoiaria Tarcísio de Freitas, visto como alternativa mais competitiva contra o atual governo. O apoio da família Bolsonaro a Flávio é interpretado como um aumento as chances de manutenção de Lula no poder. Para a maioria dos gestores, isso implica continuidade das mesmas condições macroeconômicas, incluindo dívida pública pressionada, desafios no resultado primário e déficit nominal elevado. Diante dessa perspectiva, o prêmio exigido em ações, câmbio e juros sobe.
Projeção otimista: Ibovespa a 189 mil pontos
Curiosamente, o pessimismo tático não apagou o otimismo estrutural com a bolsa brasileira. Pesquisa do Itaú BBA com 127 investidores institucionais, feita entre 28 de novembro e 5 de dezembro, mostra que a média das expectativas para o Ibovespa no fim de 2026 é de aproximadamente 189 mil pontos, ou seja, mais de 30 mil acima do nível atual.
As respostas indicam melhora de humor em relação à sondagem de agosto. Para os próximos seis meses, 78,7% dos entrevistados têm visão positiva para as ações brasileiras, 16,5% estão neutros e apenas 5% esperam cenário negativo.
Em escala de 0 (pessimista) a 10 (otimista), a nota média subiu para 7,18. Setorialmente, elétricas, saneamento e grandes bancos seguem como maiores posições “overweight”, com construção civil em terceiro lugar, enquanto saúde perdeu espaço.
Essas projeções vêm após um ciclo de erros de rota do próprio mercado. Ao fim de 2024, as casas traçavam um 2025 desastroso; na prática, a economia cresceu mais, a inflação cedeu e a bolsa navegou melhor do que o previsto.
Agora, as apostas voltam a ser otimistas, mas com um número maior de condicionais: política fiscal responsável, inflação domesticada e queda gradual da Selic são vistos como pré-requisitos para o Ibovespa se aproximar dos 189 mil pontos em 2026.
Copom, Fed e a “Super Quarta” de juros
Economistas da XP avaliam que a desinflação ainda é “insuficiente” para autorizar cortes imediatos na Selic, apesar da melhora do quadro inflacionário. A expectativa para a decisão desta quarta-feira (10) é de manutenção da taxa em 15% ao ano, com comunicado vigilante e recado duro sobre o risco fiscal.
O Boletim Focus projeta crescimento do PIB de 2,25% em 2025 e 1,8% em 2026, seguido de 1,84% em 2027 e 2% em 2028. Para o IPCA, as medianas indicam 4,4% em 2025, 4,16% em 2026, 3,8% em 2027 e 3,5% em 2028, já dentro do intervalo de meta, mas ainda acima do centro de 3%.
Nas projeções de juros, a expectativa é de Selic a 15% ao fim de 2025, recuando para 12,25% em 2026, 10,5% em 2027 e 9,5% em 2028.
A XP chama atenção para um ponto político sensível: a política fiscal expansionista de União e estados, que inclui tanto o governo Lula quanto administrações como a de Tarcísio, em ano eleitoral. Se o impulso de gasto acelera o crescimento doméstico sem contrapartidas críveis, o ciclo de cortes em 2026 tende a ser mais curto e superficial do que o desejado pelos investidores.
Nos Estados Unidos, os juros também são o assunto do dia. Um assessor da Casa Branca afirmou que há “bastante espaço” para reduções. O consenso é de que o Federal Reserve cortará a taxa em 0,25 ponto percentual nesta quarta, mas o foco estará nas projeções (o famoso “dot plot”) e nas falas de Jerome Powell, presidente do Fed em fim de mandato, que vai até maio. Uma sinalização mais agressiva de cortes pode aliviar o dólar global e abrir espaço para um real menos pressionado.
Wall Street e Europa em compasso de espera
Enquanto o Brasil digere o ruído eleitoral e aguarda o Copom, Nova York opera em modo prudente. A cautela predominou, como na véspera, e os índices terminaram mistos, refletindo rotação entre setores e ajuste fino de posições à espera da decisão do Fed.
Enquanto o Nasdaq, com forte presença de empresas de tecnologia, subiu 30,58 pontos, ou 0,13%, para 23.576,49, o S&P 500 caiu 6,00 pontos, ou 0,09%, para 6.840,51, e o Dow Jones recuou 179,03 pontos, ou 0,37%, para 47.560,29. Fechamento dos EUA
No âmbito econômico dos EUA, o Departamento do Trabalho divulgou um relatório mostrando que as vagas de emprego nos EUA apresentaram um ligeiro aumento no mês de outubro. O Departamento do Trabalho informou que o número de vagas de emprego subiu para 7,670 milhões em outubro, ante 7,658 milhões em setembro.
As bolsas de valores da região Ásia-Pacífico registraram quedas na maior parte dos casos na terça-feira. O índice Hang Seng de Hong Kong caiu 1,3% e o índice Shanghai Composite da China recuou 0,4%, embora o índice Nikkei 225 do Japão tenha contrariado a tendência de baixa e subido 0,1%. Fechamento asiático
Os principais mercados europeus apresentaram um desempenho misto no dia. Enquanto o índice alemão DAX subiu 0,5%, o índice britânico FTSE 100 fechou ligeiramente abaixo da linha de estabilidade e o índice francês CAC 40 caiu 0,7%. Fechamento europeu
Vale e Petrobras no azul, bancos no vermelho
Na bolsa brasileira, o pregão foi recheado de trocas de sinal. Vale (BOV:VALE3), um dos pilares do Ibovespa, passou boa parte do dia em alta mais robusta, mas encerrou com leve avanço de 0,19%. Petrobras PN (BOV:PETR4) fechou em alta de 0,66%, justamente no dia em que anunciou entrar no mercado de biometano.
As commodities voltaram a cair. O WTI para janeiro encerrou em baixa de 1,07% (US$ 0,63), a US$ 58,25 o barril, enquanto o Brent para fevereiro recuou 0,88% (US$ 0,55), a US$ 61,94. Analistas da Ritterbusch avaliam que o mercado de energia está excessivamente otimista com a possibilidade de um acordo entre Rússia e Ucrânia que leve à redução de sanções contra Moscou, o que justificaria a correção.
O setor financeiro foi determinante para o fechamento no vermelho, com os bancos pesando no índice hoje. O Banco do Brasil (BOV:BBAS3) chegou a virar para alta no meio da tarde, ajudando o Ibovespa a ensaiar recuperação, mas terminou com queda de 0,37%. Bradesco PN (BOV:BBDC4) recuou 1,21%, Itaú Unibanco PN (BOV:ITUB4) cedeu 0,31% e Santander Unit (BOV:SANB11) perdeu 2,13%.
Dividendo, bonificação e o “carro voador” da Embraer
Entre os destaques positivos, PRIO (BOV:PRIO3) subiu 1,22%, apoiada pela proximidade do pagamento de dividendos que mantém o papel entre os queridinhos da renda variável. Axia Energia (BOV:AXIA3) ganhou 1,88% após anunciar bonificação de ações.
Embraer (BOV:EMBJ3) encerrou com alta de 3,52%, após o anúncio de que a Eve Air Mobility, sua subsidiária de eVTOLs, obteve novo financiamento de R$ 200 milhões do BNDES. O pacote usa R$ 160 milhões do Fundo Clima e R$ 40 milhões da linha Finem e será destinado à integração dos motores elétricos e testes de certificação do protótipo.
Desde 2022, o BNDES já aprovou R$ 1,2 bilhão em crédito para a Eve, incluindo a construção da fábrica em Taubaté (SP), e em agosto anunciou investimento direto de R$ 405,3 milhões na empresa. O “carro voador” terá capacidade para cinco pessoas, autonomia de 100 quilômetros e previsão de entrada em operação em 2027. Já há 2,8 mil pedidos de encomenda em nove países.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, define o projeto como inovação disruptiva em mobilidade urbana, com emissões inferiores às de helicópteros e carros convencionais. Para a Eve, o financiamento acelera “uma etapa crítica” do programa: a integração do sistema de propulsão elétrica, chave para desempenho, segurança e confiabilidade da primeira aeronave certificável.
Ao mesmo tempo, a Embraer aprovou o pagamento de R$ 79,7 milhões em juros sobre capital próprio (R$ 0,11023887825 por ação) e R$ 80 milhões em dividendos (R$ 0,11068605544 por ação).
Klabin (BOV:KLBN11) também brilhou hoje ao anunciar dividendos de R$ 0,18 por ação ordinária ou preferencial e R$ 0,91 por unit, pagos em quatro parcelas de R$ 278 milhões cada. A ação fechou em alta de 1,12% hoje.
Outras altas e baixas de hoje
Cia Ferro Ligas Bahia Ferbasa (BOV:FESA3) subiu 8,43% a R$ 12,47, e Cia Participações Aliança Bahia (BOV:PEAB3) ganhou+6,75% a R$ 37,49.
Ambev (BOV:ABEV) ganhou 0,15% a R$ 13,64, a Ser (BOV:SEER3) teve alta de 4,25% de alta a R$ 9,07. Pão de Açúcar (BOV:PCAR3) subiu 3,91% a R$ 3,99, Usiminas (BOV:USIM3) avançou 3,90% a R$ 5,86, Méliuz (BOV:CASH3) somou 3,86% a R$ 4,04, e Helbor (BOV:HBOR3) encerrou com alta de 3,46% a R$ 2,69.
Do lado negativo, Arandu Investimentos (BOV:ARND3) desabou 34,78% a R$ 0,75, enquanto Recrusul (BOV:RCSL3) caiu 9,23% e Paranapanema (BOV:PMAM3) recuou 3,13%.
Bioma Educação (BOV:BIED3) caiu 8,97% a R$ 3,55, a locadora Movida (BOV:MOVI3) recuou 5,98% a R$ 11,33, Americanas (BOV:AMER3) seguiu pressionada, com queda de 4,89% a R$ 6,42, e Nordon (BOV:NORD3) perdeu 6,12% a R$ 4,60.
Entre os papéis mais líquidos, Qualicorp (BOV:QUAL3) recuou 5,96% a R$ 2,21, JSL (BOV:JSLG3) cedeu 3,88% a R$ 7,43, Multilaser (BOV:MLAS3) recuou 6,41% a R$ 1,46, e Magalu (BOV:MGLU3), uma das mais negociadas do pregão, caiu 4,55%, fechando a R$ 10,06.
Minha Casa Minha Vida puxa construção e PIB
O ministro das Cidades, Jader Filho, afirmou que o governo pretende financiar 3 milhões de unidades até o fim de 2026 e garantiu que não faltarão recursos. A expectativa é encerrar 2025 com cerca de 2 milhões de moradias contratadas desde o início da gestão Lula.
Para viabilizar essa expansão, há R$ 144,5 bilhões do FGTS reservados para 2026, dos quais R$ 125 bilhões destinados à habitação popular. Somam-se R$ 5,5 bilhões do Orçamento, voltados a subsídios para a Faixa 1 urbana (ainda em análise no Congresso), e R$ 17 bilhões de fundo da Caixa Econômica Federal com o mesmo objetivo. Em novembro, foram firmados 80 mil novos financiamentos, acima da média mensal de 60 mil até outubro. Uma em cada três contratações é para a Faixa 1.
Em São Paulo, 67% dos lançamentos já são do Minha Casa, Minha Vida. As faixas de renda serão atualizadas no início de 2026; a Faixa 1, hoje limitada a famílias com renda de até R$ 2.850, deverá contemplar quem ganha aproximadamente dois salários mínimos. O objetivo do governo é estabilizar uma média de 80 mil contratações mensais até 2026 e ampliar a oferta para a classe média, com meta de 10 mil contratações nesse segmento, ante 6 mil atualmente.
Indústria perde ritmo, mas regiões mostram fôlego desigual
Do lado da indústria, os dados seguem mostrando desaceleração. A CNI informou que o faturamento industrial caiu 2,7% em outubro ante setembro, terceira queda mensal seguida. No acumulado do ano até outubro, o crescimento é de 1,2%, bem abaixo dos 4,6% registrados até julho na comparação com igual período de 2024.
O emprego na indústria recuou 0,3% em outubro, enquanto a massa salarial e o rendimento médio caíram 0,5% e 0,3% no mês, respectivamente. No acumulado de 2025, a massa salarial recua 2,4% e o rendimento médio cede 4,2%, o que significa perda de poder de compra. Em contrapartida, o número de horas trabalhadas subiu 0,4% (segunda alta seguida), e a utilização da capacidade instalada avançou de 78,3% para 78,4%.
A Pesquisa Industrial Mensal Regional do IBGE confirma o quadro heterogêneo. Em outubro de 2025, frente a outubro de 2024, a produção caiu em seis dos 18 locais pesquisados e ficou estável no Maranhão. Entre as altas, destacaram-se Espírito Santo (18,3%), Amazonas (12,5%), Goiás (11,7%), Rio de Janeiro (9,5%) e Pernambuco (4,8%). Também houve crescimento em Minas Gerais (2,9%), Região Nordeste (2,1%), Rio Grande do Sul (1,8%), Bahia (1,2%), Santa Catarina (0,6%) e Ceará (0,4%). Na média nacional, a indústria encolheu 0,5%.
Agro, inflação e a conta da carne em 2026
A Anec projeta exportações de milho de 4,99 milhões de toneladas em dezembro, alta de 37,9% na comparação anual. Os embarques de soja devem chegar a 2,81 milhões de toneladas, salto de 91,2%. Em contrapartida, as exportações de farelo de soja devem recuar 26,1%, para 1,33 milhão de toneladas.
Na tecnologia agrícola, a alemã Bayer anunciou o lançamento da semente de soja Intacta 5+ no Brasil, prevista para a safra 2027/28, sujeita a aprovações regulatórias. Será a primeira tecnologia no país com tolerância a cinco herbicidas (mesotriona, dicamba, glifosato, glufosinato e 2,4-D) e proteção contra determinadas lagartas.
O Brasil já é o segundo maior produtor de culturas transgênicas do mundo; relatório do USDA indica que, em 2024/25, o país semeará 68,5 milhões de hectares com características geneticamente modificadas, com taxas de adoção de 99% para soja e algodão e 95% para milho.
A CNA, por sua vez, alerta para uma provável alta da carne bovina em 2026. Em 2025, a participação de fêmeas no abate chegou a 49,9%, etapa final do ciclo pecuário que reduz a oferta futura. Os abates de bovinos cresceram 5,6% até o terceiro trimestre, com produção de carne em alta de 3,8%. Para 2026, a entidade projeta queda de 4,5% na produção, o que deve elevar o preço da arroba e da carne ao consumidor e fortalecer carnes substitutas como frango e suíno.
Há ainda um risco externo relevante: a China, destino de cerca de metade das exportações brasileiras de carne bovina, conduz investigação que pode resultar em salvaguardas. Caso imponha restrições, o setor enfrentará incertezas adicionais em um momento de oferta doméstica mais apertada, pressionando margens e exigindo diversificação de mercados.
Mesmo assim, a CNA diz que, em 2025, o agro ajudou a derrubar a inflação de alimentos no domicílio em 6,18 pontos percentuais, colaborando para um IPCA em torno de 4,4%.
Inflação, Focus e IPC-Fipe: alívio com cautela
Em outubro, o IPCA subiu 0,09%, a menor variação para o mês desde 1998. Em 12 meses, a inflação acumulada é de 4,68%, abaixo de 5% pela primeira vez em oito meses, mas ainda ligeiramente acima do teto da meta de 4,5%. A meta definida pelo CMN é de 3%, com banda de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
O Focus desta semana reduziu pela quarta vez seguida a projeção de IPCA para 2025, de 4,43% para 4,4%, e para 2026 de 4,17% para 4,16%. Para 2027 e 2028, as estimativas são de 3,8% e 3,5%, respectivamente. A CNA, porém, vê risco de inflação mais alta em 2026 se o governo ampliar gastos em ano eleitoral sem compensações, sobretudo em um contexto de Selic que só começaria a recuar de fato a partir do ano que vem.
Em São Paulo, o IPC-Fipe subiu 0,21% na primeira quadrissemana de dezembro, leve aceleração ante alta de 0,20% em novembro. O grupo Alimentação continua em terreno negativo (-0,20%), puxado por alimentos in natura, enquanto itens ligados a serviços, como viagens e excursões, tiveram alta superior a 18%, sinal de demanda ainda aquecida em alguns segmentos.
Energia, biometano e integração de Roraima
A Petrobras prepara sua entrada no mercado de biometano, adotando modelo semelhante ao do etanol: participação minoritária em parceria com um grande player do setor. A empresa realizou chamada pública para suprir o mandato de biometano e recebeu 19 propostas. Em outubro, o Ministério de Minas e Energia reduziu a meta obrigatória do combustível de 1% para 0,25% em 2026 dentro do programa Combustível do Futuro.
Em geração nuclear, a Eletronuclear anunciou parada programada de 50 dias na usina Angra 2, no Rio de Janeiro, a partir de 16 de janeiro de 2026, com retomada prevista para o início de março. Será a 21ª parada da unidade e envolverá cerca de 5 mil atividades de manutenção, inspeção, testes e troca de 30% do núcleo de combustível. Angra 2 tem capacidade de 1.366 MW e é considerada estratégica para a segurança do sistema elétrico.
A Aneel também definiu 1º de janeiro de 2026 como data efetiva da interligação do sistema isolado de Boa Vista (RR) ao Sistema Interligado Nacional. A linha de transmissão Manaus–Boa Vista, de aproximadamente 725 km, exigiu investimentos de R$ 3,3 bilhões e completa o mapa energético brasileiro ao conectar o último estado ainda isolado. Com a interligação, diversas térmicas serão desligadas, reduzindo custos e emissões. A distribuidora local é a Roraima Energia, enquanto a Eletronorte responde pelas instalações de transmissão na subestação Boa Vista.
No campo das concessões, a Aneel recomendou a prorrogação por 30 anos da concessão da Neoenergia Coelba, distribuidora da Bahia. A decisão foi tomada por maioria, com base em critérios de continuidade do serviço, gestão econômico-financeira e regularidade fiscal e setorial. O diretor Fernando Mosna votou contra, defendendo a inclusão de indicadores adicionais, como satisfação do consumidor e tempo de atendimento a emergências, mas ficou vencido.
Saúde pública: vacina do Butantan contra a dengue
A Anvisa publicou o registro da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan. O imunizante é tetravalente, combate os quatro sorotipos do vírus e será aplicado em dose única, com oferta exclusivamente pela rede pública. O Ministério da Saúde pretende iniciar a vacinação em 2026, via SUS, priorizando estados mais afetados pela doença. Trata-se da primeira vacina contra dengue produzida por um laboratório nacional.
Estatais, Correios e o leilão do Porto de Santos
Sobre a discussão fiscal dos Correios, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o aporte do Tesouro ficará abaixo dos R$ 6 bilhões inicialmente cogitados para cobrir prejuízo equivalente acumulado entre janeiro e setembro. O governo avalia combinar um aporte menor com um empréstimo entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões, com aval da União para reduzir o custo dos juros.
Haddad reforçou que qualquer ajuda financeira estará condicionada a um plano de reestruturação robusto para a estatal. Há espaço fiscal em 2025 para um aporte, mas a decisão ainda não está tomada. A operação pode ser viabilizada por crédito extraordinário ou por Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN). Paralelamente, o pedido original de um empréstimo de R$ 20 bilhões foi vetado pelo Tesouro por causa do custo elevado; as negociações com bancos seguem travando um desfecho rápido.
Sobre o leilão do novo superterminal de contêineres no Porto de Santos, o Tecon Santos 10, o TCU entende que não há espaço para o governo contrariar sua decisão e fazer um certame aberto sem restrições. O modelo aprovado pelo tribunal prevê duas fases, com veto à entrada dos atuais operadores de terminais em Santos na primeira etapa e barreiras específicas às companhias de navegação.
A Casa Civil, porém, vê brecha para um leilão mais aberto, defendendo maior competição e a participação de gigantes como MSC e Maersk. O Ministério de Portos e Aeroportos tende a acatar o TCU, temendo desgaste caso o Planalto decida ignorar a orientação do órgão de controle. O projeto prevê mais de R$ 6 bilhões em investimentos e aumento de cerca de 50% na capacidade de movimentação de contêineres do porto, com acréscimo de 3,5 milhões de TEUs. Se o governo insistir em um modelo sem restrições, a tendência é que o TCU adote medida cautelar para barrar o processo.
Dinheiro esquecido, CNH mais barata e agenda da B3
O Banco Central informou que ainda há R$ 9,92 bilhões em “recursos esquecidos” em instituições financeiras, considerando valores até outubro. Desse total, R$ 7,73 bilhões pertencem a 48,7 milhões de pessoas físicas e R$ 2,19 bilhões a 4,9 milhões de empresas. Até agora, já foram devolvidos R$ 12,6 bilhões. O site para consulta é o valoresareceber.bcb.gov.br.
Sobre as mudanças na Carteira Nacional de Habilitação, o governo federal lançou o projeto “CNH do Brasil”, que promete reduzir em até 80% o custo para o motorista. O mínimo obrigatório de aulas práticas cai de 20 para duas horas, cabendo ao candidato decidir se precisa de mais treino antes da prova. O curso teórico será totalmente on-line e gratuito, embora permaneçam disponíveis aulas presenciais em autoescolas e instituições credenciadas.
Na B3, o calendário de fim de ano impede surpresas: não haverá pregão em 24 e 25 de dezembro; as negociações voltam normalmente na sexta-feira, 26. Outra pausa ocorrerá em 31 de dezembro e 1º de janeiro, com retorno das operações em 2 de janeiro. A regra vale para todos os mercados: renda variável, renda fixa privada, ETFs, derivativos, empréstimo de ativos, compensação, liquidação, Câmara de Câmbio, Central Depositária, balcão e Tesouro Direto.
Política, Congresso e tensão institucional
Na Câmara dos Deputados, Glauber Braga ocupou a cadeira da Presidência na terça-feira em protesto contra a decisão de Hugo Motta de pautar a votação de sua cassação ainda hoje. A transmissão oficial da sessão foi interrompida, e jornalistas foram retirados do plenário.
O episódio ocorre em semana em que o Congresso também discute pedidos de cassação de outros deputados condenados pelo STF, como Alexandre Ramagem e Carla Zambelli, além do debate sobre o PL da Dosimetria, visto por apoiadores de Jair Bolsonaro como uma via para reduzir o tempo de prisão do ex-presidente. A Mesa Diretora ainda não informou se haverá punição a Glauber pelo ato.
Enquanto isso, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a soltura do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, preso sob suspeita de vazar informações sigilosas de operação da Polícia Federal a um dos alvos. Bacellar deixará a prisão com tornozeleira eletrônica, afastado da presidência da Alerj, obrigado a permanecer em casa entre 19h e 6h (e integralmente nos fins de semana), e proibido de contatar outros investigados e com passaporte retido.
Na prática, o STF validou a resolução da Alerj que revogou a prisão, mas reforçou que os requisitos para medidas cautelares continuam presentes. Moraes destacou que o tribunal pode impor restrições diversas da prisão sem necessidade de nova deliberação da Casa Legislativa, desde que não inviabilize o exercício do mandato parlamentar.
Perspectivas: irreversível mesmo, só a volatilidade
Ao fim do dia, a única irreversibilidade consensual é a da volatilidade. O Ibovespa oscilou violentamente, o dólar subiu, os juros futuros abriram, e o noticiário se dividiu entre Super Quarta, eleição de 2026, Minha Casa Minha Vida, agro, transição energética, Porto de Santos, Correios, CNH mais barata e até o carro voador da Embraer.
Os investidores olham para um presente incômodo, Selic em 15%, política ruidosa, bancos pesando na bolsa, mas continuam projetando um futuro em que o índice possa chegar a 189 mil pontos em 2026, com juros menores, inflação mais comportada e reformas mínimas em dia.
O mercado vai encarar dois testes imediatos: o IPCA de novembro, que sai amanhã, e as decisões de Copom e Fed na Super Quarta. Esses eventos ditarão se a correção de sexta-feira foi só mais um soluço reversível, ou se o humor piorou de forma mais duradoura.
Este conteúdo é apenas para fins informativos e não constitui aconselhamento financeiro, de investimento ou de qualquer outra natureza profissional. Não deve ser considerado uma recomendação de compra ou venda de quaisquer valores mobiliários ou instrumentos financeiros. Todos os investimentos envolvem riscos, incluindo a potencial perda do principal. O desempenho passado não é indicativo de resultados futuros. Você deve conduzir sua própria pesquisa e consultar um consultor financeiro qualificado antes de tomar qualquer decisão de investimento. Algumas partes deste conteúdo podem ter sido geradas ou assistidas por ferramentas de inteligência artificial (IA) e revisadas por nossa equipe editorial para garantir precisão e qualidade.