Em termos de participação no Ibovespa, o setor bancário representa em torno de 15%, portanto não dá para negar a representatividade dele dentro desse índice que marca não apenas as empresas que têm grande valor de mercado, mas também aquelas cujas ações são bastante líquidas e que possuem solidez, boa governança e saúde financeira.

E nesse contexto não estamos falando apenas do investidor brasileiro que investe nelas e aproveita essas vantagens, mas dos estrangeiros principalmente, afinal nossa B3 não fala apenas uma língua e é a estrangeira que acaba muitas vezes predominando e ditando o ritmo do movimento das ações, com grandes players alocando investimentos por aqui. Portanto, analisar os resultados de um setor como este é um termômetro para as companhias que o compõem, mas também para entender como anda a dinâmica de investimentos global atualmente. Veja quão longe isso chega.

E mais: quando falamos em bancos, isso também revela a dinâmica econômica em que eles se incluem no ambiente doméstico, portanto analisar mais atentamente os dados do setor bancário é como fazer um 360° da economia que não fica restrita aos relatórios, mas que também é vista “a olho nu” na praça, onde ela realmente acontece.

Agora que sabemos da importância de mirar esse setor, vamos ver o que os resultados do primeiro trimestre deles revelam. Para tanto, usaremos quatro bancos que já divulgaram seus resultados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ao mercado, são eles: Banco do Brasil (BOV:BBAS3), Bradesco (BOV:BBDC3) (BOV:BBDC4), Itaú Unibanco (BOV:ITUB3) (BOV:ITUB4) e Santander (BOV:SANB11). Vale dizer que os números apresentados na sequência são nominais, ou seja, sem descontar a inflação, e o levantamento não considera valores recorrentes ou ajustados, e sim aqueles contábeis auditados e aceitos pela CVM. Os dados foram analisados pela Economatica.

Dados consolidados

No primeiro trimestre deste ano, o lucro líquido consolidado (somado) dos quatro bancos ficou em R$ 18,6 trilhões, o que representa uma alta de 35,2% se comparado ao resultado de um ano antes. Uma alta tão grande assim nesse indicador só havia sido registrada no quarto trimestre de 2019, pouco antes da pandemia, somando R$ 21,8 bilhões. Já o pior desempenho em termos de lucro líquido dos bancos aconteceu no segundo trimestre do ano passado, quando o montante consolidado ficou em apenas R$ 12,2 bilhões. Portanto, fica evidente que, embora ainda estejamos em meio à crise de saúde, já se esboça uma recuperação mais intensa do setor.

Já em se tratando da receita líquida, juntos os bancos somaram R$ 138 bilhões no 1T21, queda de 23,4% sobre o desempenho de um ano antes, porém 76,6% superior ao valor alcançado no 4T20. Lembrando que receita líquida se refere às vendas realizadas por uma empresa, enquanto o lucro líquido é o que sobra depois que são descontados impostos e despesas com as operações.

Ainda em se tratando de rentabilidade, vale saber como ficou mais um indicador: o ativo total, que é a soma de todos os ativos e direitos de uma empresa. Os ativos totais das companhias bancárias somaram R$ 6,54 trilhões neste ano, resultado 9,1% superior ao observado no primeiro trimestre de 2020.

E, quando se fala em bancos, outro dado muito relevante é o chamado provisionamento de devedores duvidosos (conhecido como PDD). Nada mais é do que uma reserva que os bancos mantêm para não levar um supercalote dos caloteiros. Falando sério agora, na verdade se trata de um valor destinado a cobrir eventuais inadimplências, é como se fosse um seguro contra perdas provenientes de não pagadores. Nesse caso, o PDD dos quatro bancos somou R$ 13,8 bilhões no 1T21, equivalendo a -51,1% sobre o mesmo período do ano passado. Mas no comparativo com o trimestre anterior, ou seja, do 1T21 com o 4T20, o PDD ficou negativo em -26,5%.

Segundo a Economatica: “O PDD consolidado registra queda pelo quinto trimestre consecutivo. O maior volume de PDD da amostra foi registrado no 4º trimestre de 2019, com R$ 28,4 bilhões, e dessa data até março de 2021 a queda é de -51,2%”. O que faz total sentido se pensarmos que os bancos aumentaram as despesas com provisão pelo menos um trimestre antes do início da pandemia (o que acaba nos levando a 5 trimestres atrás, exatamente no 4T19, que foi quando houve o maior volume de PDD), já prevendo um período conturbado adiante.

Por fim, no levantamento da Economatica temos o consolidado sobre dividendos, e isso muito nos interessa também, não é mesmo? Afinal, mais do que apenas lucrar com a valorização do ativo é poder mantê-lo na carteira rendendo um pouco a mais sempre. No caso específico dos bancos, os dividendos pagos no começo do ano são os mais robustos e no primeiro trimestre de 2021 somaram R$ 18,1 bilhões, valor 13% a menos do que o apresentado no mesmo período de 2020. Mas calma: “O volume em março de 2021 é o quarto maior desde março de 2009. O maior valor é registrado no 1º trimestre de 2019, com R$ 27,9 bilhões”.

E falando sobre dividendos não tem como deixar de lado a curiosidade em saber: entre os quatro bancos analisados, quais mais distribuíram proventos no período? Qual deles demonstrou as melhores rentabilidades? Como ficou isso tudo individualmente, banco a banco? Isso é o que veremos agora! Acompanhe.

Desempenho individual

Se até agora tivemos uma visão do setor, a partir deste momento vamos falar dos ativos separadamente para que seja possível entender a dinâmica de cada um deles e analisar como focaram nesse período. Começando pelo lucro líquido, o ranking fica da seguinte forma, segundo a Economatica:

  • O Bradesco tem o maior lucro no primeiro trimestre de 2021, com R$ 6,15 bilhões, valor 81,9% superior ao mesmo período de 2020.
  • O Itaú Unibanco é a medalha de prata, com R$ 5,41 bilhões, que é 59,2% superior ao ano de 2020.
  • O Banco do Brasil fica com a terceira posição, marcando R$ 4,2 bilhões, um crescimento de 31,9% com relação a 2020.
  • O Santander é o único a registrar queda de lucratividade de 25,4% no primeiro trimestre de 2021 com relação ao ano de 2020, somando R$ 2,81 bilhões apenas.

Em termos de receita líquida, a pesquisa revela o seguinte:

  • O Itaú Unibanco acumula R$ 38,4 bilhões no primeiro trimestre de 2021, valor -30,7% inferior ao mesmo período de 2020.
  • O Santander tem a segunda melhor receita líquida (embora também negativa no comparativo anual), com R$ 37,7 bilhões, resultado -27% inferior ao do mesmo período do ano passado.
  • O Banco do Brasil marca R$ 31,7 bilhões, queda de -32,9% com relação ao primeiro trimestre de 2020.
  • Ao contrário dos anteriores, o Bradesco registra crescimento de 16,6% na receita líquida do 1T21 com relação ao 1T20, porém detém a menor receita entre os quatro bancos, com R$ 30,1 bilhões.

Sobre os ativos totais, os números também são interessantes:

  • O Itaú Unibanco registra R$ 2,12 trilhões em ativo total no 1T21, valor 7,2% superior ao mesmo período de 2020.
  • O Banco do Brasil é o segundo colocado, com R$ 1,82 trilhão e crescimento de 15,8% em 12 meses.
  • O Bradesco tem crescimento de 12,4% com relação ao primeiro trimestre de 2020, fechando março de 2021 com R$ 1,61 trilhão.
  • O Santander vai na contramão, com queda de -2,2% em 12 meses encerrados em março de 2021, registrando R$ 978 bilhões em ativos.

Com relação ao provisionamento de devedores duvidosos (PDD):

  • O Bradesco tem o maior PDD no 1T21, com R$ 4,71 bilhões, valor -35,7% inferior ao do mesmo período de 2020.
  • O Banco do Brasil vem na sequência, com R$ 3,41 bilhões, queda de -48,3% com relação a março do ano passado.
  • O Santander registra a menor queda percentual em 12 meses entre os quatro bancos, com -5,8% em relação a março de 2020, fechando o primeiro trimestre deste ano com R$ 3,37 bilhões.
  • A maior queda percentual é do Itaú Unibanco, com -78%, fechando o 1T21 com R$ 2,39 bilhões.

E, para finalizar, temos o comparativo de dividendos entre os bancos:

  • O Santander é o maior distribuidor de proventos no 1T21, com R$ 9,84 bilhões, valor 28,1% superior ao mesmo período de 2020.
  • O Bradesco tem o segundo maior volume, em R$ 3,57 bilhões, resultado 839,8% superior ao do 1T20.
  • O Itaú Unibanco, no entanto, tem o maior recuo em 12 meses, com queda de -71,4%, um montante de R$ 2,80 bilhões.
  • O Banco do Brasil fica na última posição, com R$ 1,97 bilhão, valor -35,1% inferior ao do primeiro trimestre de 2020.

E para o decorrer de 2021, como ficam as perspectivas?

Em se tratando do Banco do Brasil, os analistas Marcel Campos e Matheus Odaguil, da XP Investimentos, revelam que o resultado do 1T21 superou o consenso em 23% e estimativas em 16%. “Embora elevado, o número foi fortemente impulsionado por menores provisões, que não acreditamos ser sustentável ​​nos próximos trimestres”, avaliam os analistas.

De acordo com eles, no geral, os próximos trimestres devem ser impulsionados pelo consumo de cobertura ou por resultados mais baixos, e estão fortemente favoráveis ​​ao primeiro devido a maiores rendimentos de dividendos em um banco com índice Tier I de 17%. A XP acredita que os múltiplos do banco sejam atrativos com 4,2 vezes a relação de preço sobre o lucro, enquanto operacionalmente o banco segue defendido com boas taxas de cobertura/adequação de capital e uma carteira defensiva.

=> Veja o balanço completo do 1T21 do Banco do Brasil clicando aqui e confira o que dizem outros analistas sobre os resultados divulgados.

Quanto ao Bradesco, o Credit Suisse destaca que o banco brasileiro reportou bons resultados no 1T21, com um ROE de 18,1% e registrando um balanço de boa qualidade, o que deixa a equipe de análise confiante de que a companhia está caminhando para um 2021 robusto, considerando a menor contribuição da margem financeira com o mercado e a criação de provisões adicionais (e sobre isso nós vimos anteriormente, quando trouxemos o PDD).

=> Veja o balanço completo do 1T21 do Bradesco clicando aqui e confira o que dizem outros analistas sobre os resultados divulgados. 

Para o Itaú Unibanco, os analistas Victor Schabbel e José Cataldo, da Ágora, avaliam que o valuation não é mais uma pechincha. “O lucro líquido muito mais forte devido ao menor custo do risco cria base de comparação mais difícil para os próximos trimestres. Os resultados devem apoiar a alta das ações, mas as preocupações com a inadimplência futura podem limitar a alta”, afirmam.

Segundo Luis Sales, da Guide Investimentos, as cifras do Itaú no 1T21 vieram melhor que o esperado pelo mercado, mas por efeitos que podem não ser sustentáveis: “Esperamos um crescimento mais forte da carteira de crédito nos próximos meses para contrabalancear com a queda na margem de produtos bancários. No entanto, vemos que a competitividade do setor está acirrada, o banco precisa cortar custos de forma mais forte, melhorar os resultados das linhas mais sustentáveis”.

=> Veja o balanço completo do 1T21 do Itaú Unibanco clicando aqui e confira o que dizem outros analistas sobre os resultados divulgados. 

Por fim, o banco espanhol Santander recebe a visão de analistas do Banco Inter. Segundo a equipe, o Santander continua apresentando um forte resultado e mantendo seu ROE elevado se comparado aos seus pares. Mesmo com um mercado sofrendo pressão nas margens, o banco conseguiu aumentar seu spread em 0,8 p.p. versus o 4T20, registrando 10,6% a.a. com avanço tanto em margem com clientes quanto com o mercado.

“Vemos na inadimplência o principal risco para uma possível deterioração dos resultados, mas acreditamos que o Santander melhorou bem a qualidade de crédito nos últimos anos e, exceto pelo efeito da pandemia, no qual esperamos aumento da inadimplência em 2021, níveis normais de 3,5% ainda mantêm o banco rentável. Gostamos da agressividade do banco e principalmente da sua gestão de custos, que dá ao Santander uma rentabilidade atrativa, 20,9% no 1T21, valor menor que os 22,3% do 1T20, mas ainda considerado bom nível, em nossa opinião”, explicam.

=> Veja o balanço completo do 1T21 do Santander clicando aqui e confira o que dizem outros analistas sobre os resultados divulgados. 

E aí, gostou de conhecer mais sobre o setor bancário neste início de ano e o que seus dados revelam sobre suas operações e foco nesse período? Qual dos quatro bancos é o seu favorito e por quê? Conta aqui embaixo pra gente nos comentários e aproveite para compartilhar este conteúdo com seus amigos, afinal o setor bancário é defensivo e entra para a carteira de diversos investidores. Aproveitem e ótimo$$ investimento$$!