O lucro líquido recorrente do Itaú Unibanco, que desconsidera itens com impacto pontual sobre o resultado, aumentou 63,5% no primeiro trimestre, para R$ 6,398 bilhões.
A companhia atribuiu o crescimento ao aumento da carteira de crédito, aumento na margem financeira com o mercado e pela redução no custo do crédito, à volatilidade no cenário macroeconômico do primeiro trimestre de 2020 e à redução de 0,8% das despesas não decorrentes de juros no Brasil.
O lucro contábil do Itaú ficou em R$ 5,414 bilhões entre janeiro e março, com alta de 59,2% ante igual intervalo de 2020 e queda de 29,7% na margem.
O banco contabilizou margem gerencial financeira de R$ 18,634 bilhões no primeiro trimestre, com alta de 6% ante o trimestre anterior e de 4,7% em relação ao primeiro trimestre de 2020.
A carteira de crédito do Itaú Unibanco considerando apenas o Brasil aumentou 12,8%, para R$ 668,6 bilhões. Levando em consideração os outros países em que o banco atua – principalmente na América Latina -, houve alta de 15,0%, para R$ 906,4 bilhões.
A carteira de pessoa física ficou em R$ 260,4 bilhões, com alta de 2,2% no trimestre e de 9,9% no ano. Em pessoa jurídica, chegou a R$ 256,3 bilhões, com expansão de 1,0% e 15,8%, respectivamente. E no restante da América Latina, R$ 221,1 bilhões, com aumento de 9,5% e 21,9%. Há ainda R$ 75 bilhões em garantias financeiras e R$ 93,4 bilhões em títulos privados.
Já o desempenho da carteira de pessoas jurídicas foi puxado principalmente por veículos, crédito rural e financiamento a exportação e importação, como consequência do aumento da demanda dos clientes. “Em 12 meses, o crescimento foi de 15,8%, com movimentos importantes em capital de giro, por conta da concessão das linhas de crédito do Pronampe e do Fundo Garantidor de Investimentos (FGI), além de veículos e crédito rural.”
O Itaú informou que suas receitas de prestação de serviços e tarifas bancárias — incluindo o resultado de seguros — somaram R$ 11,035 bilhões no primeiro trimestre, com queda de 0,3% na comparação com o mesmo período do ano anterior e de 1,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
As receitas de tarifas ficaram em R$ 9,566 bilhões, com queda de 2,9% no trimestre e alta de 0,5% no ano. Já o resultado de seguros foi de R$ 1,469 bilhão, com alta de 5,5% e queda de 5,4%, respectivamente.
De acordo com nota do banco, a redução no ano ocorreu em função das menores receitas com adquirência tanto em aluguel de máquinas quanto em taxa de desconto líquida — houve aumento de faturamento, mas com maior participação de clientes do segmento de atacado. Os volumes de transações de crédito e débito cresceram 6,5% e 10,7%, respectivamente.
O retorno sobre o patrimônio líquido (RoE) médio do Itaú Unibanco considerando apenas as operações brasileiras cresceu 5,7 pontos porcentuais (pp) no primeiro trimestre, para 18,7%, enquanto o RoE incluindo todas as operações aumentou 5,7 pp, para 18,5%.
A taxa de inadimplência no Brasil encolheu 0,8 pp, para 2,7% da carteira de crédito no país, enquanto a taxa total caiu 0,8 pp, para 2,3%.
A despesa do Itaú Unibanco com provisões para devedores duvidosos (PDD) diminuiu 57,3% no primeiro trimestre, para R$ 4,44 bilhões, e o saldo de PDD acumulado até o fim do período foi de R$ 51,24 bilhões, subindo 8,8% em relação a um ano antes.
O Itaú terminou março com 97.097 funcionários, uma alta de 1,9% contra igual período de 2020. O número de agências fechou o trimestre em 4.334, uma queda de 3,7% em um ano.
O banco manteve os intervalos das projeções anunciadas para 2021 inalterados.
Os resultados do Itaú Unibanco (BOV:ITUB3) (BOV:ITUB4) referente o primeiro trimestre de 2021 foram divulgados nesta segunda-feira (03). Confira o relatório de análise gerencial da operação!
Teleconferência
Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú, disse que as pequenas empresas são mais afetadas pelas medidas de restrição adotadas por conta da pandemia, enquanto as grandes costumam ter mais facilidade para distribuir seus produtos e serviços por meio dos canais digitais.
“O quarto trimestre deve ter maior normalização, com os efeitos da vacina e a retomada mais forte da atividade”, disse Alexsandro Broedel, diretor-executivo financeiro do Itaú. “Continuamos com cenário positivo para PIB, que deve crescer 3,8%, talvez com leve viés de alta”, acrescentou Maluhy.
Segundo Maluhy, a tesouraria teve ganhos acima do esperado com juros e houve bom desempenho nas mesas da Colômbia e do Chile. Porém, o executivo disse que a tendência é o indicador voltar ao patamar habitual de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,4 bilhão.
De qualquer forma, o Itaú não está revisando suas metas por enquanto.
No crédito, o executivo disse prever uma recuperação da margem com clientes ainda neste ano, chegando perto do ponto médio do guidance, ou seja, algo em torno de crescimento de 4,5% no resultado consolidado. Para o executivo, o destaque do guidance é o custo do crédito, que “poderia ficar até abaixo do piso este ano”.
Com chances remotas de que uma nova rodada de provisões contra perdas no crédito seja necessária, Maluhy afirmou ser possível que o custo do crédito fique abaixo das projeções para 2021, que vão de R$ 21,3 bilhões a R$ 24,3 bilhões.
No primeiro trimestre, o indicador ficou em R$ 4,111 bilhões, com queda de 31,9% em três meses e de 59,2% em um ano. Apesar disso, deve subir um pouco daqui para a frente. “Não acredito em recorrência de custo de crédito de R$ 4 bilhões.”
Segundo Maluhy, a inadimplência ficou melhor que o esperado no primeiro trimestre. A expectativa do banco ainda é de uma deterioração dos atrasos, mas ainda abaixo do nível pré-pandemia. “Nossa expetativa é que o quarto trimestre será de normalização, com efeitos da vacina e volta da atividade.”
Em outra frente para melhorar a sustentabilidade do resultado, o Itaú tem o objetivo de “reduzir sequencialmente” os custos mais relevantes do banco nos próximos três anos. De acordo com Broedel, está em desenvolvimento um programa transversal entre as áreas, composto por 16 frentes de trabalho, planejamento detalhado e indicadores para o acompanhamento individual de cada iniciativa. Há 1,2 mil iniciativas planejadas, das quais mais de 400 estão em fase de implementação, em áreas como revisão, simplificação e otimização de processos, automação de atividades, uso de dados e analytics.
Maluhy disse que, no curto prazo, não vê o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do banco voltando ao patamar de 2019, quando o indicador atingiu 23,7%.
Ele reforçou que as condições de hoje não são tão favoráveis como em 2019, em função da forte queda da Selic, mudanças na regra de overhedge de investimentos no exterior, o limite de juros no cheque especial, aumento da CSLL e, obviamente os efeitos da pandemia.
VISÃO DO MERCADO
Ágora
Na visão dos analistas Victor Schabbel e José Cataldo, o valuation não é mais uma pechincha.
“O lucro líquido muito mais forte devido ao menor custo do risco cria base de comparação mais difícil para os próximos trimestres. Os resultados devem apoiar a alta das ações, mas as preocupações com a inadimplência futura podem limitar a alta”, afirmam.
BTG Pactual
BTG Pactual destaca que a inadimplência acima de 90 dias se manteve em linha em relação ao trimestre passado, em ainda baixos 2,3%.
“As inadimplências de 15 a 90 dias aumentaram 20 pontos-base, para 2%, ainda em um nível baixo e abaixo dos números do ano passado. Este indicador aumentou conforme o esperado devido à sazonalidade”, apontam os analistas Eduardo Rosman, Ricardo Cavalier e Luiz Temporini.
Destacam ainda, que a queda nas provisões foi ajudada por níveis muito mais altos da operação da América Latina. A sua subsidiária na região, a Corpbanca, entregou resultados melhores que o esperado.
“O principal destaque positivo do trimestre foi a qualidade do crédito. Embora continuemos acreditando que as inadimplências devem aumentar nos próximos trimestres, as tendências permanecem muito favoráveis, o que tem sido uma surpresa positiva para todos os bancos”, observam.
Citi
Os analistas do Citi avaliam, que o custo do risco do Itaú continua diminuindo com as tendências de melhor qualidade de ativos, mas as fortes receitas observadas nos três primeiros meses de 2021 levantam dúvidas em relação à recorrência, “já que foram principalmente impulsionadas pela tesouraria e taxas de consultoria”.
Para os analistas os principais riscos para o desempenho da ação do Itaú são: uma lentidão maior que a esperada na recuperação econômica doméstica, o que pode causar uma aceleração mais lenta da demanda de crédito; menor exposição à receita de empréstimos, o que limitar o impacto positivo ao ciclo de crédito; e, por fim, a concorrência acirrada nas principais linhas de tarifas, proporcionando mais pressão na receita.
Em contrapartida, a equipe do Citi vê como fatores potenciais de alta do Itaú caso a gestão decida assumir riscos de crédito mais elevados, em meio ao ciclo de crédito benigno no Brasil e à luz do aumento do retorno sobre o capital alocado para atividades de empréstimo.
“Além disso, também há riscos potenciais de alta para o crescimento dos empréstimos e receitas se o crescimento do PIB no Brasil ultrapassar as estimativas de consenso”, comentam os analistas, em relatório.
Goldman Sachs
Para os analistas do Goldman Sachs, o custo de risco do Itaú caiu para 2,3%, de 3,4% no trimestre anterior e 6,6% no primeiro trimestre de 2020, atingindo o menor nível em mais de 15 anos. “A inadimplência ficou estável em 2,3%, já que a deterioração em pequenas e médias empresas foi compensada pela melhora em pessoas físicas.” O Bank of America também elogiou os números do Itaú. “Gostamos da história de recuperação no lucro do Itaú e achamos o valuation do banco atrativo. Além disso, os resultados do primeiro trimestre implicam em uma potencial revisão em alta das nossas estimativas, considerando que o custo de risco anualizado seria de R$ 16,4 bilhões, bem abaixo das nossas previsões, de R$ 22,6 bilhões”.
Guide Investimentos
Segundo Luis Sales, analista de empresas, as cifras do Itaú foi melhor que o esperado pelo mercado, mas por efeitos que podem não ser sustentáveis.
“Esperamos um crescimento mais forte da carteira de crédito nos próximos meses para contrabalancear com a queda na margem de produtos bancários. No entanto, vemos que a competitividade do setor está acirrada, o banco precisa cortar custos de forma mais forte, melhorar os resultados das linhas mais sustentáveis”, diz.
Inter Research
O Inter Research diz que, de modo geral, o Itaú apresentou números fortes e acima das expectativas.
“Contudo, ficamos atentos ao desempenho nas linhas de serviços, que passam por desafios além do Covid-19, da maior competitividade do setor. Saudamos a maior agressividade do banco com a estratégia digital via Iti, que vem sendo transformado de uma simples carteira digital para um banco digital.”, completa.
JP Morgan
Aa avaliação dos analistas do J.P. Morgan, o período foi caracterizado por cerca de R$ 1 bilhão a mais em operações de tesouraria (trading) em comparação com um trimestre normalizado. A receita líquida de juros de clientes teve uma alta modesta, de 1% no trimestre.
Em relação à qualidade de ativos, os dados são mistos, dizem os profissionais do J.P. Morgan. Os índices de inadimplência em 90 dias permaneceram estáveis em 2,3% no comparativo trimestral, mas houve um aumento para R$ 8,6 bilhões de empréstimos vencidos na carteira renegociada, atualmente em R$ 46 bilhões – no trimestre anterior, esses números eram de R$ 6,9 bilhões e R$ 50 bilhões.
As taxas tiveram aumento modesto de 0,5% na comparação anual, “mas principalmente impulsionadas pelo consultor/corretor, que deve ter problemas assim que a participação na XP for vendida, e outras linhas praticamente todas encolheram”.
As despesas foram boas, encolhendo no Brasil em 0,5%, mas pressionadas pela América Latina excluindo Brasil aumentando cerca de 30% na base anual, impactadas também pelo câmbio.
Foi uma “superação de qualidade inferior”, dizem os analistas do J.P. Morgan, que mantêm visão neutra sobre as ações do banco.
XP Investimentos
“Embora os resultados tenham sido bastante fortes, acreditamos que os investidores devem manter uma atenção especial à sua qualidade menos inspiradora destes resultados. O Itaú divulgou diversos itens não sustentáveis, que ajudaram no resultado, enquanto áreas relevantes como rendas de tarifas, margem financeira com clientes e custos apresentaram desempenho abaixo do esperado. À medida que a concorrência aumenta e os reguladores se tornam mais agressivos, acreditamos que o consumo de cobertura e os resultados de tesouraria sejam menos relevantes para as perspectivas do setor”, destacam Marcel Campos e Matheus Odaguil, analistas da XP.
XP Investimentos mantém recomendação neutra e preço alvo de R$ 29,00.