A gestora gaúcha Quantitas não fez feio no ano passado. Seus
fundos de ações e multimercados, apesar de ainda relativamente
pequenos para os padrões do mercado, conseguiram boas
rentabilidades, com 47% e 21% de ganho em 2016, respectivamente. E
neste ano a casa segue confiante nos investimentos em bolsa em
renda fixa. A gestora conta com a experiência de seus sócios,
alguns com mais de 15 anos de mercado, caso de Wagner Salaverry,
vindo da também gaúcha Geração Futuro e responsável por ações, e
Rogério Braga, que trabalhou 11 anos na Sicredi e cuida da renda
fixa e dos multimercados.
A casa vai investir também na distribuição direta de fundos
neste ano para pessoas físicas, montando uma estrutura própria,
aproveitando a nova regulamentação da instrução 558 da Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). A ideia é usar a tecnologia para
abertura de contas de clientes e atendimento via celular para
fornecer dados dos fundos e permitir aplicações e resgates a partir
de R$ 50 mil.
Multimercados, renda fixa e ações
A casa tem dois multimercados, um que faz arbitragem
entre os juros futuros e à vista, e outro que usa tanto
estratégias macro quanto de arbitragem e quantitativas
com juros, dólar, ações. Já o fundo de ações foi reformulado
há cerca de dois anos, quando Salaverry assumiu sua gestão, e usa a
receita baseada na análise fundamentalista, com uma parte da
carteira em empresas menores (small caps), outra em pequenas (midi)
e outra em grandes e com visão de médio e longo prazo. “Nada
diferente do que fazíamos na Geração Futuro”, afirma Salaverry.
A visão para este ano é um pouco melhor para os multimercados,
que sofreram no ano passado com as fortes oscilações dos ativos,
diferentemente de 2015, quando dólar para cima e juros para baixo
garantiram um bom desempenho para as grandes casas. No ano passado,
essas mesmas grandes casas não foram tão bem. ‘Multimercado no ano
passado foi ruim, em geral levou pancada, e este ano precisa
melhorar”, diz Salaverry.
Queda dos juros ajuda bolsa
No mercado de ações, Salaverry diz que há uma aposta na queda
dos juros que deve ajudar a bolsa, mas ele segue com “um pé atrás”
com a atividade econômica. A Quantitas não está com estimativa tão
forte de crescimento, trabalhando com crescimento zero do PIB este
ano depois de uma queda de 3,5% em 2016.
Mesmo assim, ele se diz otimista com a bolsa, avaliando que a
forte alta do ano passado, de 39% do Índice Bovespa (BOV:IBOV), foi
apenas uma descompressão de uma situação que era péssima.
“Começamos o ano passado com um governo muito ruim tomando medidas
ruins, tudo errado”, lembra, referindo-se ao governo de Dilma
Rousseff.
Quando veio a mudança, com o processo de impeachment e a troca
de governo, a situação mudou. “Só de o país deixar de ir para o
precipício já fez o mercado melhorar”, lembra. Ele destaca que não
houve ainda recuperação da atividade, mas a inflação está mais
controlada e várias reformas estão em curso, o que permite a queda
dos juros. “O ano passado foi de mudança de rumo, não de melhora,
foi para parar de piorar.”
Empresas mais ajustadas
Salaverry diz que as empresas fizeram muitos ajustes nos últimos
dois anos, cumprindo seu dever de casa. Desde os bancos com
provisões altas, serviços, que já ajustaram estrutura de pessoal, a
indústria, mais enxuta, o varejo, com menos lojas, enfim, todas as
empresas estão com estrutura de custos bem ajustada e com
expectativas baixas. “Por isso, ainda vemos um 2017 bem melhor, o
que poderá ser confirmado talvez no segundo semestre”.
Ele admite que a confiança na economia melhorou e depois voltou
a cair. Mas se as empresas estão todas com baixa expectativa, há
algum otimismo controlado que junto com a estrutura de custos
melhor podem aumentar os lucros e levar à valorização das
ações.
Mais recursos para a bolsa
Outro fator que pode ajudar as ações é pelo baixo volume
investido hoje em bolsa, quer pelos fundos de pensão, quer pelos
grandes investidores. “Os alocadores ficaram com receio de aplicar
na bolsa, mas já estão olhando de novo, e muito dinheiro que estava
lá fora desde a época da eleição de 2014 está voltando”, afirma
Salaverry. Alocadores de recursos mais confiantes com o risco,
dinheiro de fora e empresas melhores garantem o otimismo para a
bolsa este ano. “Temos condições de ver um ano bom novamente”,
diz.
Pessimismo tende a diminuir
Além disso, há um sentimento pessimista da sociedade com relação
ao país que já dura muito tempo e tende a diminuir, acredita
Salaverry. “Quando a sociedade voltar a perceber que problemas
estão sendo enfrentados, com a reforma da Previdência, a inflação
está sobe controle e os juros mais baixos, o otimismo deve voltar”,
afirma. Ele compara a situação com 2007, quando havia otimismo de
sobra e a economia não estava tão boa. “Agora temos de voltar para
uma visão melhor”.
Os setores preferidos de Salaverry são o de bancos,
especialmente Banco do Brasil e Bradesco. Há ainda Hypermarcas,
Petrobras, e Randon, que se beneficia da queda dos juros pelo menor
custo de financiamento dos caminhões. Hypermarcas não tem dívidas,
gera muito caixa e está em um setor que cresce bem, o farmacêutico.
Outra aposta do fundo é a SLC, empresa pouco acompanhada, e a BR
Foods, que sofreu no ano passado pela alta dos grãos, que aumentou
seu custo. No geral, porém, a carteira do fundo de ações da
QUantitas éconcentrada, com 5 papéis representando 50%
carteira,
Menores oportunidades este ano
Nos multimercados, Rogério Braga diz que as oportunidades são
menores este ano já que muitos mercados já se ajustaram. “De
novembro para cá houve ajuste grande, de valorização do real e
queda dos juros dos títulos prefixados”, lembra.
Ganhos e riscos dos prefixados
Ele diz que não vê muita oportunidade para quem quiser arriscar
ficar em papéis prefixados até janeiro de 2019, apesar da
expectativa de queda nos juros da Selic e do CDI. “Não é verdade
que o pré vai ganhar com a queda dos juros, pois a taxa de hoje já
embute uma queda ao longo deste ano e do próximo”, explica.
Para o investidor ganhar, o mercado teria de rever para baixo suas
projeções de juros para 2019. “Para entrar num prefixado, é preciso
ter ganho bom pelo risco que se corre, por isso não recomendo”,
diz, lembrando que há ainda o risco político de 2018.
Risco menor nas NTN-B
Ele vê risco menor nas NTN-B, corrigidas pela inflação do IPCA,
e que têm prazos mais longos, 2021, 2024 ou até 2035. Se algo
acontecer errado em 2018/2019, pode haver impacto no dólar e na
inflação, mas o investidor estará protegido pela correção do IPCA.
Para Braga, se tudo der certo e o juro básico cair abaixo de 10%
(ele espera 9,75% ao ano), o papel de IPCA mais 5,80% ao ano tende
a ganhar mais que o CDI. E o juro real deve começar a cair no longo
prazo. “Se tudo der errado, o investidor ganha o IPCA mais 5,80%,
que é uma boa taxa”, diz. Ele não recomenda papéis até 2050 pelo
juro hoje ser menor que o dos papéis mais curtos.
Dólar, carregamento alto
No dólar, Braga diz que a gestora está “neutra”. “Se fosse
recomendar algo, seria ficar vendido, apostando na baixa do dólar”,
diz, citando a expectativa de fluxo de recursos para o país pela
captação de empresas no exterior, caso de Petrobras, que anunciou
uma emissão e US$ 4 bilhões nesta semana. “É algo que não estava no
radar, essa valorização do real”, diz.
Ele lembra que investir em dólar é mau negócio diante dos juros
altos do país. “Se alguém comprar o dólar a R$ 3,30, o preço tem de
subir para R$ 3,60 em 12 meses para compensar o que perdeu em
relação ao CDI”, diz.
Crédito privado deve ter mais ofertas
No mercado de crédito privado, Braga espera uma diferenciação
este ano. Até 2014, o problema do mercado era que havia um grande
volume de fundos renda fixa com apetite grande por crédito para
aumentar um pouco seu desempenho. Com isso, emissores de pior
qualidade conseguiam pagar juros menores, iguais aos das empresas
de boa qualidade, com risco menor. E os fundos, para render um
pouco mais, aceitavam riscos maiores.
A partir de 2015, o mercado se retraiu, não houve ofertas e quem
captou foram os grandes bancos, o que os deixou superlíquidos. “Há
um empoçamento de liquidez nos grandes bancos”, diz Braga. Há
também empresas com volume grande de dívidas no mercado que vão
buscar rolar esses débitos, mas serão vistas com mais cuidado pelos
bancos.
Por isso, ele acredita que a oferta de papéis deve ser maior
este ano, até pela melhora da economia e pela busca pela rolagem de
dívidas, mas o mercado vai se dividir mais. Os spreads pagos
pelas empresas não serão tão baixos e os bons créditos devem pagar
menos. “Vai ter diferenciação e, com a inflação cedendo, algumas
empresas que fizeram o trabalho de casa vão se perenizar e captar
mais barato”, avalia.
Ele lembra que ainda existe um grande volume de recursos nos
grandes bancos e em fundos de renda fixa e multimercados para serem
investidos em crédito, e eles vão buscar empresas que fizeram esse
trabalho de casa. ”O investidor em crédito privado ainda vai ter
spreads interessantes em empresas de baixo risco, mas vai precisar
de análise mais cuidadosa para saber diferenciar se são empresas
reestruturadas ou empresas que precisam de recursos por problemas
para rolar dívidas”.
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multimercados e renda fixa apareceu primeiro em Arena do
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