ADVFN Logo ADVFN

Não encontramos resultados para:
Verifique se escreveu corretamente ou tente ampliar sua busca.

Tendências Agora

Rankings

Parece que você não está logado.
Clique no botão abaixo para fazer login e ver seu histórico recente.

Hot Features

Registration Strip Icon for default Cadastre-se gratuitamente para obter cotações em tempo real, gráficos interativos, fluxo de opções ao vivo e muito mais.

Índice

Criar Discussão

Atualizar

Usuários Filtrados

Usuários Banidos

Meus Alertas

Meu Perfil

Busca

Regras

Tudo Sobre Açucar E Etanol De Cana (SMTO3)

costela20
  • Dono
  • 399
  • 10/04/2007

Fonte: http://www.quimica.com.br/revista/qd458/alcool1.html

Futuro do agronegócio
está no combustível
extraído do canavial

A indústria do etanol de cana-de-açúcar cresce em ritmo chinês. Desde 2000, a média de expansão do setor é de 9,9% ao ano. Em 2006, o crescimento foi ainda maior, chegou a 13,3%, com uma produção de 17,75 bilhões de litros de etanol. Os dados são da consultoria especializada no setor sucroalcooleiro Datagro. Os números que mais impressionam, porém, são as projeções sobre a expansão do setor nos próximos anos. A expectativa, informa o consultor Plínio Nastari, presidente da Datagro, é de que a produção brasileira dobre, chegando a 35 bilhões de litros ao ano em 2013.
O mais surpreendente é que esse é o cenário tido como conservador, um crescimento moldado para atender principalmente à demanda do mercado interno, vitalizado com o sucesso dos carros flex fuel. Nas contas de Nastari, que são quase um consenso no mercado, o consumo brasileiro deve chegar aos 28 bilhões de litros em 2013. E outros 7 bilhões de litros devem ser produzidos aqui, tendo como destino o mercado externo, o dobro do volume exportado atualmente. Já o cenário otimista leva em conta a possibilidade de uma maior internacionalização do etanol, com a abertura de novos mercados na Europa e na Ásia.

Mas o maior impulso viria dos Estados Unidos, que aumentariam sua aquisição de álcool brasileiro (de 2,7 bilhões de litros em 2006) para atender à sua crescente demanda por etanol.

Nesse cenário, investidores estrangeiros, principalmente norte-americanos, desembarcariam no Brasil com projetos de produção dedicados exclusivamente para a exportação. “Se isso ocorrer, teremos uma segunda onda de investimentos, além da que já está programada”, diz Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). O potencial de produção para fazer frente à esta segunda onda é de 100 bilhões de litros, calcula Pádua Rodrigues.

Qualquer um dos dois cenários representa uma enxurrada de investimentos e oportunidades para fornecedores de toda a cadeia produtiva do álcool de cana-de-açúcar. Em dezembro de 2006, o número de usinas em operação no Brasil era de cerca de 357. Nastari avalia que, apenas para realizar a produção prevista no primeiro cenário, de 35 bilhões de litros ao ano em 2013, será necessário que 181 novas usinas, com capacidade média de processamento de 1,5 milhão de toneladas de cana por safra, sejam acrescidas ao parque produtivo brasileiro. Os investimentos necessários são estimados em US$ 19 bilhões, sendo US$ 11,8 bilhões apenas no parque industrial.

José Luiz Olivério, vice-presidente da Dedini, a principal referência mundial em equipamentos para produção de álcool de cana, informa que chega a 43 o número de usinas em fase de montagem no Brasil atualmente. Além destas, existem 55 projetos de novas usinas que já receberam o sinal verde dos investidores para serem iniciadas.

Nessa conta Olivério só registra usinas com localização e especificações técnicas definidas e com a produção agrícola já em fase de implantação. “São projetos certos, que estão num ponto de maturação onde dificilmente haverá retorno”, afirma o executivo. Outros 189 projetos de usina se encontram em fase de consulta. Olivério não soma aí os contatos prévios, sem pedido formal de um primeiro orçamento.

O interesse pelo investimento na produção de etanol também pode ser medido pelo balanço do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As liberações de recursos para projetos no setor passaram de R$ 580 milhões em 2004 para R$ 1,089 bilhão em 2005 e somaram R$ 2,018 bilhões no ano passado. Para este ano, a previsão é de um desembolso de R$ 2,5 bilhões. A carteira de investimentos do banco soma 62 operações no setor, entre projetos já em andamento e pedidos de financiamento formalizados.
Os investimentos também ocorrem na logística de escoamento da produção. Na última semana de fevereiro, a Petrobrás, a Camargo Corrêa e a japonesa Mitsui assinaram um acordo para a construção de um duto que transportará álcool da região Centro-Oeste, passando por Minas Gerais e São Paulo, até o porto de São Sebastião, no litoral paulista. O projeto faz parte dos planos do Sistema Petrobrás de investir US$ 600 milhões até 2012, por meio da subsidiária Transpetro, em logística para o etanol.

O programa de investimentos inclui ainda a adequação do duto que liga Guararema, no interior paulista, ao Rio de Janeiro; a construção de um duto interligando a refinaria de Paulínia ao terminal de Guararema; a instalação de terminais de barcaça na hidrovia Tietê-Paraná e a construção de um duto ligando São Paulo a Brasília, além da adequação de terminais marítimos. O objetivo é elevar a capacidade de movimentação de etanol, hoje limitada a 2.600 m³/ano, para 8 milhões de m³/ano em 2012.

Demanda aquecida - É fácil compreender os fatores que geram essa onda expansionista do etanol. No Brasil, o desenvolvimento da tecnologia flex fuel gerou uma completa revolução no perfil dos veículos em circulação. Desde março de 2003, quando começaram a ser comercializados os carros flex, até dezembro de 2006, foram vendidos 2,6 milhões de veículos com a tecnologia. No ano passado, os carros flex representaram 78,1% das vendas no mercado interno. Em janeiro deste ano, 82,7% dos automóveis comercializados no País adotavam a tecnologia.
A Associação Nacional dos Veículos Automotores (Anfavea) estima que a frota de veículos bicombustíveis chegue a 15 milhões de unidades em 2013, consumindo 28,7 bilhões de litros de etanol, superando a frota movida a gasolina e a diesel, que deverá chegar a 14 milhões de unidades. Atualmente, quase 80% dos veículos flex são abastecidos preferencialmente com etanol.

A opção pelo abastecimento dos carros com álcool, é claro, está diretamente relacionada com os preços internacionais do petróleo. Uma projeção da Unica aponta que o álcool combustível é competitivo com o barril do petróleo cotado acima de US$ 35,00, levando-se em consideração um câmbio com o dólar a R$ 2,40. É verdade que no início de 2007, a cotação do dólar tem variado na faixa dos R$ 2,10. Por outro lado, o petróleo se mantém na faixa de US$ 60,00 o barril,
Para os investidores o importante é saber como será essa relação de preços entre petróleo e etanol no futuro, tarefa nada fácil diante da volatilidade dos preços do petróleo. Uma referência de peso vem das projeções do departamento de energia dos Estados Unidos. Em novembro, o órgão estimou que o barril do petróleo chegará a 2030 com preços variando na casa dos US$ 50,00 a US$ 60,00, oferecendo margem de segurança para o investidor em etanol.

No mercado internacional, a potencial expansão do etanol é motivada ainda por dois outros fatores. O primeiro é a estratégia que vem sendo adotada por inúmeros países de reduzir a dependência energética do petróleo, uma commodity com preços altamente influenciados pelos humores políticos dos países produtores. O segundo fator é a crescente preocupação com o impacto ambiental causado pela queima dos combustíveis fósseis na produção de energia.

Inúmeros países, como o Japão, os Estados Unidos e os países que compõem a União Européia, já manifestaram o interesse em incluir o etanol em sua cadeia energética, principalmente misturando o produto à gasolina. Em 2005, o consumo mundial de gasolina foi de 20,18 milhões de barris por dia. Se 10% deste consumo migrar para o etanol, serão necessários um pouco mais de 2 milhões de barris por dia do produto, quatro vezes mais que a produção mundial de etanol combustível em 2005.

Os Estados Unidos anunciaram oficialmente a meta de substituir 20% de seu consumo de gasolina por fontes alternativas de energia. O etanol é, por enquanto, o único forte candidato a substituto. Se os norte-americanos persistirem em sua meta, precisarão de 132 bilhões de litros de etanol em 2017 para suprir sua demanda. Atualmente os Estados Unidos consomem 19 bilhões de litros/ano de etanol e contam com uma capacidade produtiva de 20 bilhões de litros/ano em 112 fábricas de etanol. Segundo a Associação de Combustíveis Renováveis dos Estados Unidos há 78 fábricas em construção no país.

Mesmo assim, os analistas apontam que os norte-americanos terão de buscar etanol no exterior se quiserem cumprir a meta estabelecida de substituição da gasolina. O Brasil tem tudo para ser o principal beneficiado deste movimento. O País conta com o etanol mais barato disponível no mercado mundial. O litro do etanol brasileiro, produzido com cana-de-açúcar, apresenta um custo de US$ 0,20. O etanol americano, de milho, custa US$ 0,33 o litro. Na Europa, o etanol produzido à base de trigo custa US$ 0,48 o litro, e o etanol de beterraba sai por US$ 0,52/l. “Não há como competir com o etanol brasileiro”, diz Pádua Rodrigues.
Outro fator que favorece o País é a grande quantidade de terra disponível para ampliar a produção. Segundo o ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, a agricultura hoje ocupa uma área plantada de 62 milhões de hectares no País. Sendo que 6 milhões são cultivados com cana-de-açúcar, dos quais 50% vão para a produção de etanol.

Terra disponível - Em pastagem, o País conta com 200 milhões de hectares. A pecuária brasileira, pondera Rodrigues, tem plenas condições de manter e até ampliar sua produção com a metade desta terra, simplesmente adotando a tecnologia de confinamento do gado, o que liberaria área para a agricultura. Da terra hoje ocupada por pastagem, Rodrigues calcula que 90 milhões de hectares são cultiváveis, sendo que 22 milhões de hectares são aptos para o plantio de cana-de-açúcar. “Temos condições de ampliar largamente a produção de etanol no Brasil sem afetar a produção de alimentos ou áreas de floresta e proteção ambiental”, diz o ex-ministro.

Este avanço da área plantada com cana-de-açúcar para a produção de etanol já está ocorrendo. São Paulo continua líder absoluto, com 61% da produção nacional, enquanto as usinas nordestinas se dedicam principalmente à produção de açúcar. O novo mapa do etanol já inclui uma forte expansão da cultura de cana em Minas Gerais, principalmente na região do Triângulo Mineiro, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná. Entre as novas fronteiras previstas estão ainda o Maranhão e o Tocantins.

O baixo custo do etanol de cana e o espaço para a ampliação da produção fazem do Brasil o centro do interesse dos investidores estrangeiros que buscam se posicionar no mercado internacional, tornando possível o cenário apresentado por Pádua Rodrigues de uma onda de investimentos no País dedicados à exportação.

Os primeiros sinais desta investida já são perceptíveis. Em fevereiro, a Noble Group, de Hong Kong, anunciou investimentos de US$ 200 milhões na produção e exportação de etanol no Brasil. O grupo asiático adquiriu a usina Petribu Paulista, com capacidade de triturar 2 milhões de toneladas, e de imediato divulgou que ampliará a capacidade produtiva da usina para 88 milhões de galões de etanol em pouco tempo. Além disso, o grupo informou que comprará a usina Meridiano.

No mesmo mês, a Sempra Energy, uma das maiores empresas de gás dos Estados Unidos, assinou com parceiros brasileiros um memorando prevendo investimentos de US$ 4,2 bilhões na construção de 12 destilarias de álcool em Tocantins, com a possibilidade de, em uma segunda etapa, o aporte totalizar US$ 8,4 bilhões para a construção de 24 usinas. Toda a produção será exportada.

Outros dois grupos, o francês Louis Dreyfus, que já atua no Brasil, e o inglês Infinity Bio-Energy, também anunciaram investimentos em fevereiro. Os franceses compraram quatro usinas e uma destilaria do Grupo Tavares de Melo. O objetivo é a produção de açúcar e também de álcool combustível. Já os ingleses investirão R$ 85 milhões na reativação da Alcana, localizada em Minas Gerais. A empresa anunciou ainda planos de construir cinco novas usinas no País. Ao todo, a previsão é de um investimento de US$ 700 milhões com a meta de processar 15 milhões de toneladas de cana.

O grupo Bunge também anunciou recentemente que investimentos no setor sucroalcooleiro passaram a fazer parte de sua estratégia no Brasil. O mais ambicioso projeto, porém, vem de uma parceria da japonesa Mitsui com a Petrobrás, que entraria com 15% dos investimentos. As duas empresas projetam aplicar US$ 8 bilhões na construção de 40 usinas com o objetivo de exportar 3,5 bilhões de litros do combustível em 2011.

Animado com o potencial brasileiro, o governo federal encomendou à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) o desenvolvimento de um plano para levar o etanol brasileiro a conquistar 10% do mercado mundial de gasolina. O trabalho, ainda em fase de desenvolvimento, prevê que a meta pode ser alcançada em dezoito anos e que, para isso, serão necessários investimentos de R$ 20 bilhões ao ano em produção e logística. As exportações brasileiras chegariam a 200 bilhões de litros em 2025.

O ex-ministro Roberto Rodrigues, mesmo sendo um entusiasta do etanol, adota uma posição mais cautelosa. Para ele, a estratégia adequada ao Brasil não é conquistar com o etanol 10% do mercado mundial de gasolina ou se posicionar como o único grande fornecedor mundial do combustível. Em sua visão, apenas a internacionalização da produção garantirá a expansão do consumo do etanol. “Ninguém vai querer depender de um único país fornecedor em uma área tão sensível como a energética”, diz.

“A estratégia inteligente para o Brasil é fomentar a produção do etanol em outros países e tornar-se o grande fornecedor da tecnologia agrícola, industrial e também dos carros bicombustíveis”, afirma o ex-ministro. Rodrigues, por sinal, está empenhado nesta meta. Desde dezembro, ele comanda, em parceria com o ex-governador da Flórida, Jeb Bush, irmão do presidente norte-americano, a Comissão Interamericana do Etanol, que tem como meta incentivar a internacionalização da produção do combustível.

Objetivo que também passou a balizar as ações do governo norte-americano. George W. Bush, em seu intuito de criar uma cooperação Brasil – Estados Unidos em favor do etanol, propôs que os dois países invistam conjuntamente no desenvolvimento da produção do etanol nas Américas do Sul e Central. Os Estados Unidos e o Banco Interamericano de Desenvolvimento entrariam com os recursos necessários e o Brasil com a tecnologia. Os países alvo deste apoio, em uma primeira fase, seriam Peru, Colômbia, El Salvador, Honduras, Haiti, Guatemala, São Cristóvão e Névis e República Dominicana.

Barreiras – Mas nem todo entusiasmo internacional diante do potencial do etanol tem sido suficiente para derrubar algumas barreiras que limitam a expansão do combustível no mundo. O principal entrave, na opinião de Pádua Rodrigues e Nastari, é a alta tributação que é imposta ao produto nos principais mercados do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o etanol brasileiro paga uma tarifa fixa de US$ 0,14 por litro e ainda uma taxa de 2,5% sobre o valor da venda. “É muito para um produto que tem um custo de US$ 0,25 por litro”, diz Nastari. No mercado europeu a taxação é ainda mais forte.

Nastari advoga uma mudança de paradigma para o etanol. Hoje, o produto enfrenta as mesmas barreiras internacionais impostas aos produtos agrícolas. “O etanol tem de passar a ser visto como um produto voltado ao mercado de energia, que é o que ele realmente é. As tarifas de importação seriam bem menores em todo o mundo”, diz o consultor. Nastari lembra que a entrada de gasolina e petróleo nos Estados Unidos, por exemplo, não é taxada.

Outro empecilho à ampliação do comércio de etanol é a falta de uma padronização internacional do produto. Brasil e Estados Unidos, países que respondem por mais de 70% da produção mundial do combustível, já estão em negociação para estabelecer critérios técnicos de pureza e qualidade para o comércio internacional do produto. O etanol, assim, passará a ter o status de commodity e poderá ser comercializado nas bolsas de mercadorias internacionais.

Barreiras internacionais ao comércio existem em quase todos os setores e as lideranças empresariais do etanol, em parceria com o governo, estão trabalhando para eliminá-las. Se forem bem-sucedidos, o combustível poderá ganhar uma projeção internacional que seria inimaginável em 1975, quando o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, foi lançado.
Certo é que mesmo o cenário mais modesto previsto para o combustível já projeta um horizonte cheio de oportunidades para a cadeia produtiva do etanol.COMO OBTER MAIS ETANOL POR HECTARE

O aumento da capacidade produtiva do etanol no Brasil nos próximos anos não se dará somente com a expansão da área plantada com cana-de-açúcar. A produtividade da cadeia produtiva do etanol também está em evolução, gerando mais litros do combustível por hectare plantado.

Como diz Jaime Finguerut, gerente de desenvolvimento estratégico do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), 60% do custo final do etanol é proveniente da matéria-prima, a cana. Portanto, para se ter um etanol mais barato, é preciso ter uma cana mais produtiva. Os prognósticos nessa área são promissores.
A cana-de-açúcar é de longe a mais adequada matéria-prima para a produção do etanol. Enquanto se produz de 3 a 4 mil litros por hectare de milho plantado, na cana-de-açúcar, a média é de 6 mil litros de etanol por hectare. Sendo que as usinas mais produtivas chegam a obter 8,1 mil litros de álcool por hectare de cana.
A produtividade da cana-de-açúcar, porém, cresce na faixa de 2% ao ano. “Em dez anos, as usinas brasileiras terão uma produção média de 7,3 mil litros por hectare”, diz Finguerut. Este ganho de produtividade é conseqüência direta do trabalho de centros de pesquisa como o CTC, que desenvolvem constantemente novas variedades de cana, buscando obter cada vez mais sacarose por hectare plantado. A sacarose é a substância básica para a produção do etanol.

Desde que foi fundado, nos fim dos anos 70, o CTC já lançou no mercado 60 variedades diferentes de cana e tem mantido a média, nos últimos tempos, de apresentar entre duas e três novas variedades por ano. Hoje, no Brasil, informa Finguerut, existem 500 variedades diferentes de cana-de-açúcar, sendo que cem formam a elite comercial do produto.

Entre as preocupações dos técnicos está o desenvolvimento de variedades regionais, adaptadas às condições de solo e clima de cada área de plantio, o que permite prever que as novas fronteiras agrícolas da cana-de-açúcar também tenderão a contar com matéria-prima adequada para uma boa performance produtiva.

O ritmo de ganho de produtividade da cana-de-açúcar poderá se intensificar, chegando a dobrar, caso a sociedade e o governo brasileiro optem por permitir o cultivo de cana transgênica, informa Finguerut. O CTC, como outros institutos de pesquisas canavieiras no Brasil, já domina a técnica de transgenia da cana. “Hoje algumas das variedades de cana mais produtivas têm seu uso descartado por apresentarem baixa resistência a pragas ou a inversões climáticas. Poderíamos resolver isso com a técnica transgênica”, diz o técnico.

Além dos avanços no campo, os pesquisadores têm trabalhado para desenvolver processos industriais de destilação e fermentação mais eficazes. Na Unicamp, por exemplo, foi criada uma levedura geneticamente modificada. As leveduras são os organismos responsáveis pela transformação do açúcar em álcool no processo de fermentação. A nova levedura elimina uma etapa do processo, a centrifugação.
O CTC também realiza estudos para o desenvolvimento de leveduras melhores, selecionadas no ambiente de produção. Mas Finguerut, que é especialista em fermentação, ainda não está convencido de que haja um ganho com o novo processo. A vantagem seria eliminar o investimento na centrífuga. Por outro lado, avalia o especialista, o processo estaria mais sujeito à contaminação bacteriana.

Geração de energia – Não são muitas as oportunidades de avanço tecnológico no melhor aproveitamento do caldo de cana no processo industrial do etanol. A tecnologia nessa área, segundo os especialistas, já teria alcançado um alto estágio de maturação. O grande avanço previsto é em relação à eficiência energética das usinas, com o aproveitamento do bagaço e da palha de cana para a geração de energia.

Segundo o vice-presidente de operações da Dedini, José Luiz Olivério, uma grande parte do parque instalado hoje utiliza o bagaço da cana para a autogeração de energia. Mas são raras as usinas que utilizam esta fonte energética para gerar renda. “É possível aumentar a eficiência energética das usinas em até 30%, gerando excedentes a serem comercializados com as companhias de eletricidade”, diz o executivo. A questão é que uma usina energeticamente otimizada pode elevar o custo de montagem da fábrica em mais de 30%. “Hoje o valor pago pela energia, de R$ 140,00 por MW hora, garante um retorno adequado para a operação. O problema é a alta taxa de juros, que inibe investimentos em modernização”, afirma Olivério.
O executivo acredita que a próxima geração de usinas deverá contar com o estado-da-arte em aproveitamento energético. Até porque o potencial de ganho de eficiência nessa área ainda está longe de se esgotar. O próximo passo virá do aproveitamento da palha da cana como fonte de combustível para a geração de eletricidade. “A palha representa um terço do potencial energético da cana e está sendo desperdiçada”, diz Olivério.

Há um problema de logística, mas não industrial, para o aproveitamento da palha, uma vez que ela seria processada com a bagaça. Atualmente a palha é queimada no processo de colheita, gerando poluição do ar. A palha precisaria ser colhida e transportada para a usina. Segundo Jaime Finguerut, a solução técnica para essa questão já existe, com a adoção de variedades de cana desenvolvidas para permitir uma colheita mecânica da cana e da palha.

CELULOSE PODE ACABAR NO ÁLCOOL

Novas tecnologias em desenvolvimento para a produção do etanol têm o potencial de mudar o mapa de produção do combustível, acrescentando novas matérias-primas para o processo e ampliando o leque de países produtores. O objetivo é a produção do álcool de celulose.

As pesquisas para se obter o combustível estão sendo desenvolvidas em duas linhas tecnológicas diferentes. Em uma vertente, o processo se inicia com a quebra da molécula de celulose em açúcares, o que pode ser feito por meio de substâncias químicas (hidrólise ácida) ou por enzimas (hidrólise enzimática). Depois, os açúcares passam pelos processos de fermentação e destilação.
A segunda tecnologia é por gaseificação: calor e pressão são utilizados para transformar madeira em gás rico em hidrogênio que, por sua vez, é transformado em etanol com um catalisador químico.

A primeira usina a adotar a tecnologia de gaseificação em escala comercial está prevista para entrar em operação este ano. A empresa, de propriedade da Range Fuels Inc, está sendo instalada no Colorado, Estados Unidos, e utilizará lascas de madeira como matéria-prima, aproveitando a abundância de resíduos das inúmeras serrarias da região. A previsão é de que a fábrica produza inicialmente 38 milhões de litros de etanol por ano. Os investimentos e o custo de produção ainda não foram revelados.

Mas a iniciativa animou o governo norte-americano. No início de março, o Departamento de Energia dos Estados Unidos anunciou que vai investir nos próximos quatro anos US$ 385 milhões em seis refinarias para produzir etanol utilizando celulose, mas não informou em qual tecnologia de produção. A expectativa do Departamento de Estado, informou o jornal The New York Times, é tornar o etanol de celulose competitivo em relação à gasolina por volta de 2012.
O empresário Mike Muston da Broin Cos., que receberá parte dos recursos, foi ouvido pelo jornal norte-americano. Ele afirmou que acha possível produzir o etanol de celulose a US$ 2,25 o galão, e talvez baixar este custo para menos de US$ 2,00 até 2010.

Os norte-americanos não são os únicos a investir no desenvolvimento de soluções para a produção de álcool utilizando celulose. O Brasil, por meio da Dedini, e a China também estão desenvolvendo a tecnologia. Em janeiro, a PetroChina, maior empresa petrolífera chinesa, anunciou que tem planos de produzir etanol com pedaços de madeira ou palha.

Não ameaça a cana – Para Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica, o álcool de celulose não representa uma ameaça, mas sim uma oportunidade para os produtores de cana-de-açúcar. Afinal, o bagaço e a palha de cana também são celuloses que poderão ser aproveitadas para a produção de etanol. “Esta tecnologia, quando estiver disponível em escala comercial, resultará em maior produtividade e tornará os produtores de etanol à base de cana-de-açúcar ainda mais competitivos”, afirma o executivo.
Opinião semelhante apresenta José Luiz Olivério, vice-presidente de operações da Dedini, empresa que é uma das pioneiras mundiais no desenvolvimento de processo de produção de álcool da celulose por meio da hidrólise. “O álcool de celulose de bagaço e palha terá um custo muito baixo, uma vez que estas matérias-primas já estão à disposição hoje dos usineiros sem custo adicional, a não ser o transporte, no caso da palha”, afirma o executivo. “O empresário ainda poderá escolher entre utilizar essa matéria-prima para a geração de eletricidade ou álcool”, diz Olivério.
O processo da Dedini, batizado de Dedini Hidrólise Rápida (DHR) começou a ser desenvolvido nos anos 80, com uma produção piloto de cem litros de álcool por dia. Em julho de 2003, já em parceria com a Copersucar e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), entrou em operação a primeira unidade semi industrial. A unidade, instalada na Usina São Luís, em Pirassununga, no interior paulista, tem capacidade para produzir cinco mil litros de álcool por dia, com uma produtividade de cem litros de álcool por tonelada de bagaço.
O desafio para a Dedini está em realizar a produção em escala comercial. Segundo Olivério, para isso, será necessário aumentar a produtividade para algo como 180 litros por tonelada de bagaço e produzir, de forma contínua, 50 mil litros de álcool por dia. “Ainda levaremos alguns anos para alcançar este patamar”, admite o executivo.
A viabilidade do processo de hidrólise do bagaço deverá levar a uma nova fase de desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar. Hoje o desenvolvimento tecnológico nesse campo privilegia a obtenção de um volume cada vez maior de sacarose. O novo processo exigirá o desenvolvimento da cana celulósica.
O ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues acompanha de perto a evolução da produtividade da cana-de-açúcar e também o desenvolvimento de novas tecnologias, como a da hidrólise do bagaço de cana. Na sua opinião, em dez anos, será praticamente possível dobrar a produção de etanol na mesma área hoje plantada com cana, chegando a um patamar de 30 bilhões de litros em 3 milhões de hectares. “Definitivamente, o Brasil conta com a melhor matéria-prima para a produção de energia no mundo”, diz Rodrigues.


abertura_alcool.jpg

http://www.quimica.com.br/revista/qd458/alcool1.html
  • 02 Jun 2007, 20:02
  • Tweet
Ativos Discutidos
BOV:SMTO3 27.43 1.4%
Sao Martinho Sa
Sao Martinho Sa
Sao Martinho Sa
Índices Mundiais
Alemanha -0.5%
Austrália 0.0%
Brasil -0.6%
Canadá -0.5%
EUA (Dow Jones) -0.6%
EUA (NASDAQ) 0.6%
França -0.9%
Grécia -0.4%
Holanda -0.4%
Inglaterra -0.8%
Itália -0.3%
Portugal -0.4%
Maiores Altas (%)
BOV:IFCM11 0.06 20.0%
BOV:RPMG3 3.04 9.7%
BOV:NUTR3 5.51 8.7%
BOV:GOLL11 0.73 7.4%
BOV:BSLI4 10.69 6.7%
BOV:CTNM3 8.25 6.5%
BOV:SCAR3 25.75 5.8%
BOV:FRIO3 330 4.1%
BOV:CEDO3 30.00 3.4%
BOV:VSTE3 13.64 3.3%