Nos últimos anos, a Taesa desembolsou boa parte do seu lucro em
dividendos. De 2009 até 2022, o payout (parcela do lucro líquido
destinada a proventos) da transmissora foi de entre 65% e 95% do
lucro líquido contábil – quando, pelo estatuto social, a elétrica
tinha a obrigação de distribuir apenas 50%. Os pagamentos, no
entanto, estão ficando menos generosos.
O perfil de boa pagadora de proventos levou a companhia a
conquistar mais investidores pessoa física na sua base acionária,
que hoje somam 392.926, acostumados a receber dividendos nas
alturas. Mas, como toda empresa de transmissão elétrica, para
garantir receita no longo prazo, a Taesa precisa investir em novas
linhas de transmissão e renovar as concessões – principalmente
quando boa parte delas vence em 2030.
Diante disso, a queridinha dos investidores “caça-dividendos”
começou um ciclo de investimentos desde o ano passado, que se
intensificou em 2023. Segundo analistas, portanto, “é natural que
os dividendos fiquem pressionados”. A notícia, claro, não está
deixando nada contente a base acionária.
Segundo analistas consultados pelo InfoMoney, não significa que
a Taesa vai deixar de pagar dividendos, nem muito menos que a
empresa perdeu seus fundamentos. O movimento seria apenas uma fase
na qual os proventos não serão tão “polpudos”, como o patamar de
14% de dividend yield visto no ano passado. Dividendos mais
conservadores, mas ainda superiores a 6%, devem fazer parte do novo
normal da companhia no curto prazo.
Entre os analistas consultados pela reportagem, a maioria
projeta dividendos de entre 7% e 11% para 2023, com possibilidade
de aumento gradual em 2024. Segundo um levantamento do InfoMoney
com dados do TradeMap, de 16 instituições que acompanham Taesa, 10
ainda recomendam manter a ação, enquanto três recomendam compra e
três, a venda.
- Confira a seguir alguns pontos para entender o novo cenário da
companhia:
Casa/Analista |
Recomendação para TAEE11 |
|
|
BTG Pactual |
Venda |
Itaú BBA |
Venda |
Suno Research |
Venda |
XP Investimentos |
Manter |
VG Research |
Manter |
Ativa Investimentos |
Manter |
Banco Inter |
Manter |
Banco Safra |
Manter |
BB Investimentos |
Manter |
Genial |
Manter |
Santander Corretora |
Manter |
Terra |
Manter |
Warren |
Manter |
Bank of America |
Compra |
Guide |
Compra |
Ricardo Schweitzer |
Compra |
Fonte: Levantamento InfoMoney com TradeMap
Queda do lucro contábil traz inseguranças sobre
dividendos
A Taesa apresentou um lucro líquido regulatório de R$ 215
milhões no 1º trimestre deste ano, uma alta de 47,3% na comparação
anual.
No entanto, os dividendos da Taesa são calculados com base no
lucro contábil, também conhecido como lucro líquido IFRS, que no 1º
trimestre de 2023 foi de R$ 386,8 milhões, registrando uma queda de
30,9%.
Luan Alves, head de equity da VG Research, explica que a
expectativa já era de um resultado mais fraco. O motivo é que o
lucro contábil da Taesa é impactado pelos reajustes na base
contratual de ativos, que seguem indicadores como IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo) e IGP-M (Índice Geral de Preços –
Mercado).
“A companhia foi muito beneficiada nos últimos anos pelo
descompasso do IGP-M do IPCA, que fez com que a Taesa (BOV:TAEE11)
tivesse um lucro contábil superior ao regulatório (recorrente)”,
explica Alves. Para quem não lembra, o IGP-M disparou durante a
pandemia. Em 2020, o indicador chegou a ser de 23,14% e, em 2021,
foi de 17,78%. No ano passado, o IGP-M ficou mais contido, em
5,45%, recuando para -0,75% no acumulado de 2023 até abril.
Segundo Alves, com mais caixa gerado nos anos passados, a Taesa
optou por pagar dividendos mais altos. Mas 2023 será um momento de
reversão no lucro contábil. “Os dividendos serão menores do que em
2022 e 2021”, afirma Alves. Contudo, o analista reforça que não é
motivo de preocupação porque “Taesa não vai quebrar, ainda
apresenta crescimento de sua receita, boas margens e geração de
caixa e deve ampliar seus ganhos com a entrada de receita dos novos
ativos”, aponta.
Bernardo Viero, analista da Suno Research, destaca que outro
ponto de atenção na companhia é o atraso na entrega de algumas
obras nos últimos trimestres. Ele explica que, durante a pandemia,
esses atrasos foram comuns, mas acabaram se perpetuando e podem ser
um alerta para o futuro.
Segundo Viero, os contratos de concessão são de 30 anos, que é o
período que a companhia tem para gerar resultados. Se as obras
atrasam, as empresas de transmissão acabam gerando menos resultados
do que o previsto durante o período de concessão. O normal do setor
é que as companhias antecipem as entregas, comenta o analista.
Endividamento
A relação entre endividamento e dividendos também atraiu olhares
do mercado. Até o 1º trimestre de 2023, a alavancagem da Taesa era
de 3,9 vezes a dívida líquida sobre Ebitda. A dívida líquida da
companhia somou R$ 8,354 bilhões até o final de março.
Para alguns analistas, o endividamento é natural e está sob
controle. Mas, para outros, pode significar um sinal de alerta para
os dividendos.
Maira Maldonado, analista do setor elétrico da XP, explica que é
comum no setor elétrico as empresas alavancarem e desalavancarem de
forma rápida, porque trabalham com capital intensivo e precisam
fazer investimentos (Capex) para desenvolver novas linhas de
transmissão.
“A alavancagem da Taesa não é preocupante, está em linha com um
ano atrás e a companhia ainda deve se alavancar mais porque tem
muito projeto em desenvolvimento”, avalia a analista.
Maira lembra que a companhia está desenvolvendo cinco projetos,
Ananaí, Tangará, Pitiguari, Reforço Novatrans e Sairá, pelo qual o
processo de desalavancagem deve demorar. “Conforme os projetos vão
ficando prontos e entrando em operação, vai entrando novas receitas
e a companhia vai desalavancando”, destaca.
Segundo a analista, embora o endividamento seja elevado, a Taesa
tem condições de continuar investindo nesses projetos em andamento
e pagar dividendos de forma equilibrada. “A diretoria da empresa
tem sido vocal de que não pretende comprometer os dividendos para
fazer investimentos. Eles querem manter tudo no paralelo, com
níveis de dividendos atrativos e a expansão de novas linhas de
transmissão”, reforça.
O analista independente Ricardo Schweitzer também partilha desta
ideia e avalia que, considerando a base atual de ativos da Taesa, a
capacidade de geração de caixa da empresa, o custo da dívida e
cronograma de vencimento dessas obras, o endividamento é
sustentável. “Penso que a situação financeira da empresa está bem
equilibrada para o tamanho que ela tem hoje”, comenta.
Para Schweitzer é importante ter em mente que boa parte da
dívida da Taesa é indexada à inflação e, com a desaceleração dos
indicadores, também deve haver uma melhora no resultado financeiro
em relação à dívida líquida/Ebitda.
Alves, da VG, observa que, no setor elétrico, a alavancagem
costuma ficar no intervalo entre 3 e 4 vezes dívida líquida/Ebitda,
o que deixaria a condição atual da Taesa em nível elevado. “Acho
que ninguém do mercado esperava que ela fosse chegar a esse
patamar”, diz.
Contudo, ele destaca que o importante é a companhia conseguir
honrar suas dívidas com os credores e também seguir gerando
resultado para os acionistas. “A dívida da Taesa é de longo prazo,
não vai vencer amanhã nem depois. Seria ruim se fosse uma dívida
com vencimento no curto prazo, mesmo que baixa, pelas condições
desfavoráveis do mercado de crédito”, pontua.
Leilões e estrutura de capital
Se a Taesa tem plena capacidade de pagar dividendos e honrar com
os projetos pendentes, não ocorre o mesmo caso ela decida
participar dos leilões de junho e outubro para vencer novos lotes e
concessões. Os leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL) em 2023 devem ter uma concorrência acirrada entre as
empresas elétricas. O segundo leilão promete ser o maior já
promovido pela Agência.
Schweitzer lembra que a Taesa tem várias concessões vencendo em
2030, que representam 30% da sua Receita Anual Permitida (RAP). Já
nos anos subsequentes até 2035, esses vencimentos representam 56%
da receita.
Embora a possibilidade de a Taesa perder metade da sua receita
nos próximos 10 anos assuste alguns investidores, os analistas
destacam que o cenário não é tão alarmante a ponto de a companhia
precisar fazer investimentos a qualquer custo, sem buscar uma taxa
de retorno atrativa. Mas, dizem os especialistas, sem dúvida ela
precisa participar dos leilões e investir em novos projetos.
“Vejo investidores preocupados com a possibilidade de a empresa
encolher caso não consiga repor a queda de RAP. Acho a visão
bastante equivocada: o mandato da gestão é fazer investimentos que
gerem valor aos acionistas. O tamanho da empresa é questão
secundária aqui”, avalia Schweitzer.
Os analistas têm uma visão em comum: a Taesa não tem atualmente
uma estrutura de capital adequada e nem um endividamento que lhe
permita participar dos leilões. A companhia, portanto, precisará
buscar formas de obter recursos — e para isso existem três
alternativas: reduzir o pagamento de dividendos, fazer uma nova
captação de dívida ou aumentar o capital.
Para Maira e Schweitzer, as duas últimas alternativas são as
mais possíveis. Já para Viero, a retenção de lucros e redução do
payout e dividendos da companhia seria o principal candidato,
embora a companhia possa também emitir novas ações.
O analista acredita que a distribuição de lucros em proventos
possa ficar no mínimo regulatório de 50% no curto prazo, deixando
mais recursos para a Taesa investir. Mas, ele não descarta que a
entrada de receita com a finalização das obras pendentes pode
também ajudar a companhia.
Para Alves, um corte abrupto dos dividendos não seria bem
recebido pelos acionistas da Taesa, motivo pelo qual a companhia
talvez opte por fazer uma oferta subsequente (follow on) para
bancar os novos investimentos, enquanto destina o caixa atual para
dividendos e obras pendentes. Entretanto, reforça que o cenário é
dúbio, visto que ainda não é possível determinar quanto será
necessário desembolsar nos leilões.
Em abril, o portal de notícias BrazilJournal apontou que a Taesa
pretendia levantar entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões em uma oferta
de ações que poderia chegar ao mercado até maio. A companhia negou
que existisse uma decisão formal sobre uma oferta.
Novo normal dos dividendos de TAEE11
Enquanto ainda existem muitas pontas soltas para Taesa, há
certeza é que os dividendos serão menores do que nos anos passados.
Mas ela não deverá deixar de ser uma boa pagadora, destacam
analistas.
Na XP, a Taesa ainda é vista como a melhor pagadora de
dividendos entre as transmissoras. Maira Maldonado projeta que a
companhia entregue um dividend yield de 11% em 2023. Contudo, a
recomendação é manter (neutra) a ação. O motivo é que não há espaço
para valorização — o preço-alvo para TAEE11 neste ano é R$ 37.
A VG também optou por manter o papel. Alves espera que a Taesa
entregue um dividendo por ação de R$ 3, equivalente a um dividend
yield de 8%. O payout seria de 80% do lucro. Ele acredita que os
dividendos devem ter uma melhora gradual em 2024 e aumentar em
2025.
Para Viero, da Suno, a recomendação é de venda. O analista
aconselha pegar os recursos investidos na Taesa e destinar para
outro ativo. Ele projeta um dividend yield de 7% a 7,5% para
Taesa.
Na contramão, Schweitzer possui recomendação de compra, com
dividend yield de 8% para este ano.
Recentemente, a companhia anunciou dividendos remanescentes de
R$ 26 milhões, ou R$ 0,07 por ação, referentes ao lucro de 2022,
mas não fez nenhum anúncio sobre o 1º trimestre de 2023. O fato
causou estranheza a investidores que chegaram a apelidar a Taesa de
“Itaesa”, fazendo referência à Itaúsa (ITSA4), conhecida por pagar
dividendos magros.
Para os analistas, os dividendos remanescentes já deixam sinais
da redução dos dividendos da companhia. Por outro lado, consideram
que foi prudente a decisão da empresa de não anunciar dividendos
antes do leilão de junho.
Nova favorita
Escolhida por unanimidade, a nova favorita do setor de
transmissão é a Alupar (BOV:ALUP11), que, segundo os analistas,
está no ciclo oposto ao da Taesa – passou anos investindo e agora
consegue pagar fortes dividendos.
A projeção da Suno é que a companhia entregue um dividendo yield
de entre 8 e 8,5% em 2023. Já para a VG, a expectativa é de
dividendos de 4% a 5% neste ano, mas Alves reforça que a companhia
tem potencial de dobrar o seu payout para 100% e garantir proventos
de até 10% já em 2024.
Para a XP, Alupar é favorita para crescimento, não dividendos. O
preço-alvo da casa para o papel é de R$ 30.
Informações Infomoney
ALUPAR (BOV:ALUP11)
Gráfico Histórico do Ativo
De Abr 2024 até Mai 2024
ALUPAR (BOV:ALUP11)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mai 2023 até Mai 2024