Enauta e 3R Petroleum: quais os dois pontos do acordo de acionistas que causaram tensões com a fusão?
24 Maio 2024 - 1:45PM
ADVFN News
Na última quarta-feira, a Enauta (BOV:ENAT3) e 3R (BOV:RRRP3)
divulgaram o acordo de acionistas da empresa combinada, com dois
pontos que chamaram a atenção do mercado e fizeram com que RRRP3
caísse 2,68% e ENAT3 caísse 3,85%.
O primeiro ponto foi uma previsão de lockup apenas até a próxima
assembleia do dia 17 de junho (essa data ainda podendo ser
estendida). O lockup é uma cláusula contratual que estabelece um
período no qual os investidores não podem vender as ações de uma
empresa.
Para o UBS BB, o lock-up é um ponto-chave para a tese de
investimento a médio prazo, aumentando o alinhamento com os
minoritários, especialmente em meio a um cenário de projetos
relevantes a serem entregues. Além disso, conforme destaca a
Levante Corp, como o instrumento de retenção dos principais
acionistas não foi ativado, o mercado suspeita que players
relevantes como o Bradesco, que ficará com cerca de 10% das ações
da nova empresa, podem realizar vendas de suas participações logo
após a conclusão do acordo.
“Bancos normalmente não tem interesse de investir em equity. O
lockup é curto; e consequentemente, existe o risco, após
assembleia, de que uma pressão vendedora derrube o preço das ações
da empresa combinada”, avalia ainda a Guide.
A Ágora Investimentos pontua que, além de não abordar o lock-up
de longo prazo, o acordo de acionistas até agora não inclui
acionistas importantes da nova empresa.
“Por outro lado, o acordo garante que os signatários, que
representam 14% do capital, votarão a favor das questões
necessárias para a conclusão da fusão, diminuindo ainda mais o
risco do negócio nas próximas assembleias de acionistas que serão
convocadas por ambas as empresas, provavelmente em junho ou julho.
O acordo de lock-up de curto prazo poderia ser substituído por um
de longo prazo, o que poderia ocorrer mesmo antes das assembleias”,
avalia a casa.
O segundo ponto de preocupação foi uma antecipação significativa
na remuneração do conselho de administração. A Levante ressalta que
houve aumento da remuneração de R$ 57 milhões para R$ 123 milhões e
na 3R, de R$ 36 milhões para R$ 97 milhões. A Guide aponta que a
remuneração é negativa pelo dispêndio de caixa. Contudo, ela é
pouco relevante sobre o total.
Desafios e destravamento de valor
No geral, a Ágora ressalta que o objetivo do acordo de
acionistas é principalmente garantir que uma parcela significativa
da base acionária vote a favor do acordo, e não descarta um novo
acordo com um número maior de signatários e um bloqueio mais
extenso de lock-up. Por sua vez, o balanço financeiro combinado das
empresas apresenta mais robustez para geração de caixa. ‘Contudo, a
alavancagem ao preço do petróleo e nos níveis de produção poderá
levar a uma maior volatilidade para ambas as ações”, avalia.
Para a Levante, muito embora o valuation das duas empresas
combinadas possa ser considerado barato, os desafios que a nova
administração irá enfrentar são muitos, os principais deles são a
redução do custo de extração médio dos campos de petróleo que
atualmente gira na casa dos US$ 18 por barril.
Outro tema que está em andamento é o início das operações do
novo FPSO Atlanta, que deve começar a funcionar já nos próximos
meses, substituindo o Petrojarl no campo de Atlanta, dando assim
maior capacidade de extração para o campo de mesmo nome Atlanta. O
navio substituído irá atender operações menores da companhia.
“Mesmo com todo o ruído que vem rondando o processo de fusão
seguimos observando o valuation da nova empresa, que deve seguir
negociando como 3R na bolsa brasileira, como descontado, a
expectativa é que o novo negócio entregue Ebitda [lucro antes de
juros, impostos, depreciações e amortizações] de R$ 8,5 bilhões no
ano de 2025, as empresas negociam neste momento por volta de 3,5
vezes EV[valor da firma]/Ebitda para o próximo ano, patamar que
deve permitir uma rentabilidade elevada para os acionistas”, aponta
a Levante.
As companhias passam a ter uma produção de barris esperada de
120 mil barris por dia em 2025, quando a integração das empresas já
estiver concluída. Com reservas prováveis de cerca de 710 milhões
de barris, o que dá uma boa longevidade à empresa. A dívida líquida
sobre Ebitda também era o grande problema do balanço da 3R com a
fusão ficando em um patamar controlado de 1,5 vezes. “De maneira
geral, esperamos um bom destravamento do valor das operações destas
companhias para os próximos dezoito meses”, conclui a equipe de
análise.
Informações Infomoney
ENAUTA ON (BOV:ENAT3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Mai 2024 até Jun 2024
ENAUTA ON (BOV:ENAT3)
Gráfico Histórico do Ativo
De Jun 2023 até Jun 2024