Perplexa
- Dono
- 34
- 07/03/2007
Minha intenção ao postar este tópico é de alertar aos que estão praticando um jogo perigoso, sem saber exatamente como ele é. Se eu colocasse à venda um maravilhoso lote, extremamente bem localizado, por um preço de ocasião, quanto valeria? Algum problema por este lote estar na LUA? Parece absurdo, mas é isso que está acontecendo com diversos papéis, completamente podres, negociados na Bovespa. Um caso exemplar é a Haga. Vejam em www.bovespa.com.br. Patrimônio líquido negativo de R$ 94,01 por lote de mil ações (mais de R$ 111 milhões!). Em concordata há uns 15 anos. Prejuízo anual acima de R$ 6 milhões nos últimos 10 anos. Ou seja, lote na lua. Já fez o Refiz, já foi absorvida pelos funcionários, serve apenas para gerar salários e participações. Se passasse a gerar lucros, precisaria de mais de 100 anos para pagar um centavo de dividendos. Por ingenuidade, comprei há uns 10 anos um montão de ações por R$ 0,10 – numa época em que a empresa até parecia ser viável. Sabe por quê comprei? Por achar interessante que uma empresa com uma marca boa e faturamento de mais de R$ 20 milhões por ano valer só R$ 100 mil (isso mesmo: 100 mil de valor de mercado). Mais barata que um belo lote na lua. A R$ 3,00, o valor de mercado passou a R$ 3,5 milhões. Dá na mesma, por um lote lunar. Com a Haga, me dei muito bem, graças aos tempos bursáteis de 2007. Evidentemente, acabei de desovar toda minha posição, o que compensou com folga as que quebraram na minha mão (Gurgel, Brinquedos Mimo, Brumadinho, Verolme, Mesbla, e uma ou outra que não lembro). Ah!, sim! O nome do jogo: jogo da roda. Aquele das crianças. O último a sentar paga o pato.
Ouvi uma história, se não me engano descrita no livro do Décio Bazin (“Faça fortuna com ações, antes que seja tarde”), que aconteceu realmente a que é mais ou menos assim: um grupo de corretores, gozadores como só os cariocas eram nos anos 70, perplexos com as porraloquices que vinham acontecendo nas bolsas brasileiras, resolveu inventar uma empresa, a Merposa S.A., que estaria fazendo seu underwriting (hoje, IPO) em condições maravilhosas, e que com certeza seria a próxima a bombar. Espalharam isso por algumas outras corretoras, e logo logo todo o mercado já estava completamente alvoroçado, com reservas completamente estouradas. E no auge do calor os gaiatos revelaram: Merposa significava Merda em Pó... O fim deste processo, algumas semanas depois, os mais antigos podem contar: o maior crash que já aconteceu nos mercados brasileiros, o crash de 71, em que muitos e muitos papéis (inclusive de ações de primeira linha) simplesmente viraram pó.
Os sensatos e os vividos sabem que infelizmente é essa a direção que os mercados estão tomando. Caso recente foi a “euforia especulativa” na Nasdaq, que recuou de 5000 a 1000 pontos. Na minha opinião, isso até deve ser tomado com naturalidade: faz parte da natureza humana e, consequentemente, da natureza dos mercados. Aos especuladores competentes, isso significa "oportunidade". Muitos bons livros descrevem os grandes eventos especulativos, em que o mais espetacular foi o crash de 29, que a partir de Nova Yorque foi propagado para todo o mundo (naquela época!). “Aqueles que não conhecem a história, estão fadados a repeti-la”. Quanto aos analistas, podem ter certeza: estarão em sua maioria sempre mandando comprar: é disso que eles vivem. A minha certeza é de que tudo já está muito caro. Pode ficar mais? Claro, tanto que já está caro já há um bom tempo. É só observar os dividendos: sumiram. Não por culpa das empresas, e sim pelo preço de suas ações. As bolsas tem essa característica muito interessante: quanto mais cara, mais “chama” novos coadjuvantes. Mas um dia acaba...
Gostaria que outros postassem neste local a respeito de vendas de lotes na lua, especialmente nas bolsas brasileiras de hoje...