Se na semana passada o cenário político pesou negativamente, desta vez o saldo foi positivo. Apesar de não ter resolvido a questão, o governo recuou um pouco de sua proposta para o Renda Cidadã e vários de seus integrantes deram declarações em defesa do Teto de Gastos, o que acalmou o mercado.
A semana também foi marcada por um novo capítulo do Banco Central para estimular a concorrência.
Em um ano de grandes mudanças, mais uma está em curso. Estamos falando da estreia do PIX, o novo meio de pagamento instantâneo e online criado pelo Banco Central! Além do TED, DOC e cartões para pessoas e empresas fazerem transferências de valores, o PIX surge como uma alternativa mais direta e econômica.
Confira o artigo especial que a ADVFN preparou para o investidor saber um pouco mais e como isso pode afetar as ações dos bancos.
O destaque da semana no Brasil ficou novamente para a discussão no âmbito fiscal. Após inúmeras especulações sobre o formato e fontes de financiamento de um novo programa de transferência de renda, a decisão foi de postergar discussões para depois das eleições municipais, cujo segundo turno está marcado para 29 de novembro. Diante do fim das medidas de estímulo fiscal em dezembro desde ano, aumentam as chances de extensão de medidas para além de 2020, como o auxílio emergencial e programas de crédito garantidos pelo Tesouro Nacional.
Em documento publicado essa semana, o Fundo Monetário Internacional destacou o sucesso das medidas implementadas pelo governo brasileiro para conter o impacto da crise do covid-19 na atividade econômica. Chamando atenção para a potencial necessidade de extensão de medidas de estímulo em caso de piora no quadro de saúde pública no país, o Fundo porém destacou a importância da manutenção do regime do teto de gastos, e as alternativas de flexibilização do orçamento federal por meio de reformas estruturais – em detrimento do aumento irrestrito de gastos, que poderia colocar em risco os ganhos alcançados no combate à pandemia.
Já no lado dos indicadores, a semana trouxe notícias positivas do lado da produção de veículos e vendas no varejo. Dados da Anfavea de setembro mostraram uma forte recuperação do setor automobilístico no terceiro trimestre desse ano, enquanto os dados das vendas no varejo continuaram acelerando em agosto. O recente recorde dos recursos alocados na poupança eleva a probabilidade de que o varejo continue apresentando recuperação acelerada no ano que vem, mesmo com a redução do auxílio emergencial e a possível queda da renda dos indivíduos mais vulneráveis. Ambos indicadores reforçam o viés positivo para o ritmo de recuperação da atividade econômica no curto prazo.
Com o cenário mais tranquilo, o Ibovespa fechou a semana em alta de 3,69%, encerrando o período de 5 semanas consecutivas de baixa. No mesmo sentido, o dólar caiu 2,72% e voltou a operar mais próximo de R$5,50.
Já dentre as principais empresas da Bolsa, destaque para os setores de construção civil e de bebidas, cada um por suas características indicando recuperação mais forte da crise do que se imaginava.
O setor de construção civil vem demonstrando uma grande força a despeito da pandemia, com a taxa de juros nas mínimas históricas e indícios como a geração de empregos no setor já apontando para a possibilidade de que o setor desempenhasse bem no trimestre. Nesta semana, tivemos a confirmação desses indícios através da divulgação de prévias operacionais de diversas empresas.
A MRV (MRVE3), por exemplo, anunciou recorde histórico de vendas no 3T20, faturando 40% mais do que no mesmo período do ano passado. A Direcional (DIRR3) também bateu recorde histórico de vendas, além de apresentar bons números de lançamentos. Já a Even ( EVEN3) viu um crescimento de 84% em vendas no 3T20.
A MRV liderou os ganhos percentuais do Ibovespa, com alta de 8,51%, a maior variação desde maio. Do outro lado, IRB Brasil voltou a cair, puxando as perdas do dia, seguida por JBS e Petrobras, pressionada pelos preços do petróleo. Minerva caiu 2,31%, acusada pela China de ter enviado uma remessa de frango com coronavírus. O frigorífico também reagiu à desistência de vender uma fatia de sua unidade Athena Foods.
O dólar futuro caiu 1,25% a R$5,536, acumulando queda de 2,76% na semana, o primeiro recuo semanal em cinco, com maior apetite por risco, embalado pela esperança de mais estímulos para os EUA. Também puxou o real certo alívio com o quadro fiscal, após nova declaração conjunta de Maia e Guedes em favor das reformas, enquanto Bolsonaro negou o desmembramento da pasta da Economia. Os DIs fecharam mistos, próximos à estabilidade, com contratos curtos reagindo ao IPCA mais forte que o esperado. Câmbio e menos ruídos políticos aliviaram a ponta longa.
Finalmente, tivemos também a divulgação do IPCA do mês de setembro, que apresentou alta de 0,64% no mês, levando o acumulado em 12 meses para 3,14%. Como esperado, o consumo de alimentos pressionou o índice, mas bebidas e vestuário foram também destaques de alta, com preços de alimentos consumidos em bares e restaurantes acelerando mais do que o esperado. Não obstante, apesar da alta dos núcleos, a inflação segue em patamares historicamente baixos. Portanto, entendemos que o resultado de hoje não deve mudar a avaliação do Banco Central de que os juros devem se manter em patamar estimulativo (projetamos a Selic nos atuais 2,00% ao ano até o terceiro trimestre de 2021).
No cenário internacional, a semana começou marcada por preocupações sobre a saúde do presidente norte-americano, Donald Trump, internado em hospital militar para tratar do coronavírus. Com a liberação do presidente anunciada já na própria segunda-feira, após três dias de tratamento, o destaque seguiu para o andamento de um novo pacote de estímulos fiscais. Entre idas e vindas ao longo da semana, incluindo posicionamentos contra e a favor do acordo entre democratas e republicanos por parte de Trump e sua equipe, a sexta-feira encerrou em tom de otimismo em torno de conversas entre o Secretário do Tesouro, Stephen Munchin, e a presidente da Câmara, Nancy Pelosy.
A importância de uma nova rodada de estímulos foi mais uma vez contextualizada pelo presidente do FED, Jerome Powell, que em discurso essa semana destacou que “a recuperação será mais forte e rápida se as políticas monetária e fiscal seguirem sincronizadas nos estímulos”, apesar de não explicitar a discussão sobre um novo pacote fiscal.
Já na seara eleitoral, tivemos o debate entre os dois candidatos à vice-presidência dos EUA, Mike Pence (Republicano) e Kamala Harris (Democrata). Os principais temas abordados foram a pandemia, a economia, o racismo e a China. Numa discussão relativamente equilibrada, Harris fez duras críticas à administração da pandemia pelo governo Trump e política econômicas que “favorecem apenas os ricos”, enquanto Pence resistiu ataques com críticas ao histórico de Joe Biden. Não foram discutidos novos temas ou apresentadas novas narrativas, e portanto, não esperamos que o evento altere o cenário eleitoral. Enquanto isso, Trump negou a participação em debate virtual, que seria realizado entre os presidenciáveis na semana que vem.
Ainda no cenário internacional, foi destaque na semana também o aumento de casos de coronavírus no hemisfério norte, e medidas tomadas para conter o avanço de uma segunda onda de contágios. Enquanto a França expandiu restrições para mais cidades, a Espanha decretou estado de emergência em Madri e a cidade de Nova Iorque fechou mais de 50 escolas. Vale destacar que essa nova onda de contágio pelo Covid-19 tem características diferentes e menos alarmantes do que a primeira – pessoas mais jovens, menos mortes e menos hospitalizações. Mas a aproximação do inverno nessas regiões aumenta a cautela.
Finalmente, do lado dos indicadores, dados divulgados ao longo da semana ilustram o contexto de recuperação heterogênea da economia global. Enquanto tivemos fortes resultados nos Índices de Gerentes de Compras do setor de serviços nos EUA e na China, seguem os dados mistos na Zona do Euro. Já na política monetária, o Banco Central Europeu reiterou a intenção de manter a política atual de juros negativos e compra de ativos até que a inflação atinja patamar bem próximo à meta de 2% – reiterando o cenário global de liquidez abundante.
Confira os Indicadores Econômicos desta segunda-feira (05/10/2020)
Confira os Indicadores Econômicos desta terça-feira (06/10/2020)
Confira os Indicadores Econômicos desta quarta-feira (07/10/2020)
Confira os Indicadores Econômicos desta quinta-feira (08/10/2020)
E a próxima semana?
A próxima semana será mais curta no Brasil pelo feriado de Nossa Senhora Aparecida e nos Estados Unidos por causa do Columbus Day, ambos na segunda-feira (12).
Nos indicadores econômicos da semana, a performance do setor de serviços e o índice de atividade econômica referentes a agosto serão os principais destaque da agenda econômica nacional da próxima semana.
Já no cenário internacional, as discussões eleitorais americanas e as discussões relacionadas ao novo pacote de estímulos nos Estados Unidos seguirão no centro das atenções. Também teremos dados de atividade econômica, desemprego e inflação (CPI e PPI) das principais economias.
Confira a agenda completa para semana do dia 12 a 16 de outubro
Fonte XP, Toro, TC